Tadeu Bento França e as Raízes da Fala Caipira de Maringá

O professor universitário e deputado Constituinte Tadeu Bento França protagonizou o encontro organizado pela Universidade Estadual de Maringá que teve como tema “Raízes da Pesquisa da Fala Caipira em Maringá”.

Após o encontro que foi assistido por númerosos alunos e professores da Universidade, o professor concedeu entrevista a OFATOMARINGA.COM, e sintetizou sua tese de Mestrado em Letras – razão do encontro e que aborda a temática da Fala Caipira através de sua dissertação “O Discurso Vulgar na Área de Maringá”.

OFATOMARINGÁ: A fala caipira do norte do Paraná pode ser muito mais culta do que se imagina; como e onde o senhor realizou sua pesquisa de campo ?

PROF. TADEU BENTO FRANÇA: É difícil sintetizar uma Dissertação de Mestrado. O que ocorreu, foi o seguinte: o jovem professor Hélcius, que é pós-doutor em Linguística e professor da UEM descobriu na biblioteca uma antiga publicação de meu Mestrado em Letras com o título de “O Discurso Vulgar na Área de Maringá”.  A pesquisa foi baseada em entrevistas junto a ex-roceiros da periferia de Maringá, principalmente os do Jardim Alvorada, expulsos que haviam sido da terra pela geada negra de 1975.

 

OFATOMARINGÁ: O que o senhor descobriu em termos de semelhanças linguísticas com o latim vulgar ?

PROF. TADEU BENTO FRANÇA: Gravando as narrativas de nordestinos, mineiros, paulistas e migrantes originários dos mais diferentes Estados do país e complementando- as sempre que possível pela escrita, foi possível concluir que a fala caipira dos primórdios da região de Maringá apresentava surpreendentemente semelhanças com a fala do latim vulgar do passado que,depois da queda de Roma em 476 DC, sucedeu ao latim clássico do império romano ocidental. Quando se estuda gramática histórica, denominam- se metaplasmos os fenômenos de transição linguística que, a partir do latim vulgar, surgiu a língua portuguesa.
Verificam- se os mesmos metaplasmos na fala caipira dos falantes que para cá vieram, ensejando o que entre nós já é realidade: a comunicação de nosso dia- a -dia está cada vez mais distante do idioma clássico de Portugal e enveredando- se cada vez mais por uma genuinamente nossa Língua Portuguesa Brasileira Popular.

OFATOMARINGÁ: Os exemplos dessas falas são cada vez mais raros, mas ainda estão presentes por aí; o senhor poderia citar alguns exemplos e compará-los com as raízes linguísticas ?

PROF. TADEU BENTO FRANÇA: Só para ilustrar, pois existe uma quantidade enorme de vocábulos, cito alguns:

Volare, voar e a voar; A primeira é a raiz do latim, a segunda é da nossa língua portuguesa e a terceira é a famosa “avoar” que é presente na fala caipira do norte do Paraná; o mesmo acontece com o verbo cantare que do latim para o português vira cantar, que perde a última consoante, e que em nossa lingua caipira perde mais uma letra, só que agora uma vogal e vira somente “cantá”