Na Liturgia deste Domingo, XI do Tempo Comum, veremos, na 1ª Leitura (Ex 19,2-6a), que Deus escolhe o Povo de Israel e lhe propõe uma Aliança para ser portador das promessas messiânicas a todos os povos.
No Monte Sinai, Deus revela a Moisés seu cuidado com Israel. No passado: “Vistes o que fiz aos egípcios e como vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a mim”. No presente: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos da terra”. Como propriedade especial, Deus tem, para Israel, uma proposta de libertação para o futuro: “Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”. De agora em diante, a única autoridade sobre o povo é o próprio Deus; a única função das autoridades humanas será servir a Deus, fazendo o povo viver de acordo com a justiça e o direito. Por outro lado, Israel inteiro torna-se um povo de sacerdotes, porque não há mediadores entre ele e Deus; todo o povo, por sua vez, torna-se o mediador que manifesta a presença e a vontade de Deus entre todos os povos.
A partir de Cristo, esse povo será a própria Igreja por Ele fundada. A Igreja é o novo instrumento de íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano. A Igreja é a nova Jerusalém Celeste, “Cristo a amou e se entregou por ela; a nutre e dela cuida” (Ef 5,25-26). Lemos, no capítulo um da Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja, que “os cristãos devem contribuir com sua missão diante de uma sociedade secular. A Igreja é o Povo de Deus, Sacramento de Salvação, Mistério e Missão para toda a humanidade”.
Na 2ª Leitura (Rm 5,6-11), o apóstolo Paulo levanta e responde as seguintes questões: Quem éramos nós antes de sermos justificados, antes de nos tornarmos cristãos? Fracos e ímpios, pecadores, inimigos de Deus. E que fez Deus por nós, mediante a morte de Cristo? Reconciliou-nos consigo, tornou-nos justos, deu-nos a paz, a possibilidade de chegar até ele, uma inabalável esperança e seu amor pelo dom do Espírito. Enfim, Jesus Cristo é o Salvador, cabeça do novo povo eleito, que é a Igreja.
No Evangelho (Mt 9,36-10,8), afirma-se que a missão nasce da visão da realidade: ‘uma necessidade, um chamado’. Jesus constata a situação de sofrimento do povo e compadece-se, chama mais pessoas para lutar pela causa da libertação. Jesus estava comprometido com um projeto de libertação integral do ser humano, por isso ia ao encontro dos mais excluídos: povoados, periferias, margem. Lá, Ele vê melhor a realidade, isto é, a condição das pessoas: cansadas, abatidas, como ovelhas sem pastor, sem rumo, sem horizontes etc. Então, Ele chama mais pessoas para este projeto. A Igreja, como continuadora de sua missão, tem aqui sua orientação, lugar social para a atuação política. A missão de Jesus e da Igreja é salvar a pessoa na sua totalidade. Sua atuação na política é sempre profética, quando seu compromisso é com os empobrecidos, não se atrela aos poderes deste mundo. A Doutrina Social da Igreja nos diz que a missão da Igreja não se reduz a salvar almas, mas à pessoa na sua totalidade. “A tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano. Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra… Por isso, a conversão cristã exige rever especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e consecução do bem comum” (Papa Francisco, Evangelli Gaudium, 182).
Para que esse Projeto libertador se concretize na América Latina e no Caribe, o Documento de Aparecida afirma: “Os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar, com a luz do Evangelho, todos os âmbitos da vida social. A opção preferencial pelos pobres, de raiz evangélica, exige atenção pastoral voltada aos construtores da sociedade. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte, é devido à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais”. (501). Neste mesmo documento, também, lemos: “Nossa pátria é grande, mas será realmente grande quando o for para todos, com maior justiça. Na verdade, é uma contradição dolorosa que o Continente com o maior número de católicos seja, também, o de maior iniquidade social” (527). Fala-se também de estruturas justas, valores morais, políticas públicas, bem comuns e o exercício de uma ‘imaginação da caridade’ que permita soluções eficazes para o problema da iniquidade (537).
Também no Evangelho de hoje, vemos que Jesus envia os doze discípulos, isto é, a totalidade. Todos somos chamados para a missão de resgatar a dignidade das pessoas que foram e são atingidas pela doença, violência, pobreza, ou foram privadas de saúde, moradia, terra, educação, cidadania e tantos outros obstáculos. Jesus recomenda uma missão de gratuidade, “de graça recebeste, de graça deveis dar”. Para a missão de tirar as desgraças e devolver a esperança, Jesus alerta que, para instaurar o seu Reino, devemos usar os meios corretos e oferecer a nossa participação e contribuição. Os discípulos recebem o mesmo poder de Jesus: desalienar as pessoas (expulsar demônios) e libertá-los de todos os males (curar doenças).
Os enviados são portadores da libertação, rejeitá-los é rejeitar a salvação e atrair sobre si o julgamento de Deus. Se não tivermos a graça de ir “às ovelhas perdidas da casa de Israel”, se pelo menos não criticarmos os que lá foram já será um grande avanço; caso contrário, combatê-los, seria combater o próprio Deus que tocou o coração deles para que lá fossem em seu nome. “Eu vim ver vocês e como estão tratando vocês aqui no Egito. Eu decidi tirar vocês da opressão egípcia e levá-los para uma terra onde corre leite e mel” (Ex 3,16-17). “Eu vi a miséria do meu povo… ouvi seu clamor… conheço seus sofrimentos… desci para libertá-lo” (Ex 3,7-10).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.