Celebrar a solenidade de São Pedro e São Paulo é reconhecer que eles foram e continuam sendo ‘rochas, colunas, base, lideranças da Igreja’. Representam, ao mesmo tempo, a força e a fraqueza dos cristãos; exerceram atividades e modos de seguir e servir a Deus diferentes, mas o que chama a atenção é a fidelidade a Jesus Cristo. Ambos foram chamados por Deus, não por seus méritos e qualidades, pois tinham um comportamento reprovável aos olhos humanos, mas eles não olharam para si mesmos, olharam para o ‘alto’, para o Senhor, e o seguiram. Ao responderem sim, foram marcados profundamente pela graça de Deus que até mudam de nome: Simão, por Cefas (Pedra, Jo 1,41), e Saulo, por Paulo. Estas experiências indicam que a conversão não é só mudança externa, mas mudança interior, mudança de identidade.
Nos apóstolos, Pedro e Paulo, também nos identificamos, pois, embora o seguimento e a conversão, eles não mudam repentinamente, o lado humano permanece; ao mesmo tempo em que eles têm tudo de Deus, têm também tudo de humano (Igreja santa e pecadora). Algumas vezes, são motivo de escândalos: Pedro ‘nega’ que conhece Jesus e, outras vezes, ‘afunda’ por falta de fé. Paulo se desentende com outros apóstolos e vive com um ‘espinho na carne’; muitas vezes, se depara com o dilema: “Deixo de fazer o bem que quero e pratico o mal que não quero, miserável de mim” (Rm 7, 14ss). Com o passar do tempo, ambos vão amadurecendo e doando a própria vida que culmina no martírio.
Jesus quis que os apóstolos Pedro e Paulo coordenassem a construção da Igreja viva e acolhedora, como as grutas da Palestina acolhiam os Pastores e os que tinham a vida ameaçada. “Apascenta as minhas ovelhas”.
O apóstolo Pedro (pedra, rocha, firmeza) foi o primeiro papa e, neste, até hoje, temos a referência e a garantia da unidade dos cristãos católicos e do depósito da fé. Hoje vivemos numa sociedade ‘líquida’, como dizem alguns pensadores; então, pela hierarquia e organização da Igreja, temos a solidez e a continuação do Projeto do Reino de Deus. Na Leitura de At 12, 1—11, vemos que, quando a Igreja é perseguida, assim como Jesus, recebe a força do alto. Pedro foi perseguido e preso, para agradar alguns, e tratado como perigoso. Na história da Igreja, tivemos muitos que passaram pela mesma experiência, constatamos que, embora prendessem pessoas, jamais poderiam deter um sonho de vida e dignidade. Mesmo com todo um aparato militar e bélico, não calaram o testemunho dos cristãos, a Igreja continua solidária e profética.
Deus sempre vem em nosso socorro, se faz presente, cuida de cada um de nós, nos escuta, não nos abandona; como foi o exemplo de Pedro: quando estava na prisão, Deus o liberta pelo seu anjo mensageiro. Desde o início, a Igreja soube usar a ‘arma’ contra o sofrimento: “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele”. Milagres acontecem quando a Comunidade reza e reza sem cessar.
O apóstolo Paulo era perseguidor dos cristãos: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” (Perseguia pessoas e não Jesus). Uma luz o cercou (a do Espírito) e ele caiu por terra: “Senhor que queres que eu faça?” (At 9,4ss). Pós-conversão, assim como Jesus, Paulo se encarna naqueles que mais precisam. Quando o escravo Onésimo é solto da prisão, Paulo o manda de volta a Filêmon: “Peço-lhe em favor de Onésimo – ele é como se fosse meu próprio coração, assim, se você me considera como irmão na fé, receba Onésimo como se fosse eu mesmo” (Fl 1, 17).
Na Leitura de 2Tm 4, 6-18, Paulo faz um balanço de sua vida: “Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé”. Importante perceber que Paulo não revela amargura (nas dificuldades, ninguém o assistiu), vê na morte a libertação definitiva, está sereno, se abandona nas mãos de Deus, sempre se colocou à disposição por causa do evangelho: “Infeliz de mim! Fadigas, açoites, cadeias, perigos! Quem me libertará deste corpo de morte? Sei em quem acreditei!” (2Tm 1, 12).
Enfim, Pedro e Paulo foram grandes testemunhas de fé e sabemos que Jesus confia grande responsabilidade a quem confessa com convicção que o seu Reino vai triunfar. Sejamos, também, testemunhas autênticas de nossa fé. Não haverá humanidade nova, se não houver, em primeiro lugar, pessoas novas que firmaram suas vidas na potência divina. “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou, então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas”, já dizia o Papa Paulo VI (Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, 41).
Desejo que esta reflexão produza muitos frutos para o Reino de Deus.
São Pedro e São Paulo, rogai por nós!
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR