Mateus, Marcos e Lucas assinalam que “seis dias depois”, “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha e foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz” (17, 1-2). Foram seis dias depois de um forte desentendimento entre Jesus e todo o grupo dos discípulos, quando explicou que “haveria de subir a Jerusalém, padecer muito por causa dos senadores, sumos sacerdotes e letrados, sofrer a morte e ao terceiro dia, ressuscitar” (16, 21). Pedro puxou Jesus à parte e se opôs veementemente a que prosseguisse pelo caminho que o conduziria à morte. Recebeu dura reprimenda:
“Retira-te, Satanás”. (16, 22). Jesus, apesar da oposição e protestos, retomou seu caminho rumo a Jerusalém, com os discípulos vindo atrás, arrastando os pés e seguindo-o a contragosto. Jesus quis aliviar a situação e dar um alento, pelo menos aos mais chegados; entre abrindo-lhes uma janela sobre o futuro, onde a última palavra, não será a do sofrimento, das perseguições, condenações e morte, mas sim a da ressurreição e da vida. Moisés, pela Lei (a Torah) e Elias pela Profecia se entretém com Jesus e o confirmam no seu caminho; uma nuvem luminosa lhes fez sombra e da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é meu filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado” (17, 5). A eles, que não queriam mais escutar Jesus, a palavra do Pai é: “Escutai-o” (17, 5b). Aos discípulos que caíram de bruços, tremendo de medo, Jesus os toca e lhes diz: “Levantai-vos, não temais” (17, 7). Esta é a mensagem da Transfiguração para todos nós, em meio a nossas incertezas desilusões e cansaço: “Levantai-vos, não temais”, continuai no seguimento de Jesus e na fidelidade à comunidade do “Caminho”. Nesse mesmo dia 06 de agosto, festa da Transfiguração, há grandes romarias para os Santuários do Bom Jesus: o da Lapa no Rio São Francisco na Bahia, o do Bom Jesus da Cana verde de Batatais, SP, de Pirapora no Rio Tietê ou de Iguape, no Rio Iguape, de Tremembé, no rio Paraíba, o do Bom Jesus dos Aflitos de Itaci em Minas Gerais ou do Senhor dos Navegantes na Lagoa dos Patos em Porto Alegre. Os romeiros ajoelham-se e rezam diante do Jesus da Paixão, flagelado na coluna, coroado de espinhos, carregando a cruz para o calvário ou agonizante no madeiro da cruz. Certamente, ao acompanharem os sofrimentos de Cristo, celebram aquele que caminha até o fim, sem nunca abandonar, os humilhados, ofendidos e injustiçados de ontem e de hoje, apontando-lhes a vitória sobre a morte, a feliz ressurreição. Por isso, nos santuários do Bom Jesus, dia 06 de agosto é também dia de festa e de alegria.