A voz do povo foi realmente ouvida e, juntamente com o Congresso Nacional Constituinte, selou de fato os rumos da sétima Constituição brasileira que nascia.
Negros e pardos queixavam- se da segregação e do preconceito e, juntos, nós criminalizamos o racismo.
Soldados, cabos e marinheiros afirmavam que aos analfabetos fora estendido o direito de votar, mas que eles continuavam sem participar da cidadania democrática pelo exercício do voto e asseguramos de imediato o direito de votar e o de ser votado a todos eles.
Professores reivindicavam salário digno e condições adequadas para bem educar as novas gerações brasileiras e nós não só definimos que a educação é um direito de todos e um dever do Estado, como também respondemos com o artigo 212, estabelecendo que a União aplicará nunca menos de dezoito e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento das respectivas receitas para o desenvolvimento do ensino.
Demos guarida à criação do Estado do Tocantins e rejeitamos todos os demais pleitos divisórios dos Estados, apesar dos saborosos queijos oferecidos aos constituintes pelos mineiros que pretendiam a criação do Estado do Triângulo.
A turma da UDR tinha horror à expressão REFORMA AGRÁRIA na Constituição que surgia e optava por nem ouvir o esclarecimento de que sobre toda a propriedade deve existir uma função social. Ao invés disso, propunha dinheiro em espécie oriundo de leilões de gado milionários em Brasília, à disposição do constituinte que pretendesse “socorrer” entidades assistenciais de suas bases eleitorais, mas que ajudasse a sepultar de uma vez por todas o pesadelo da reforma agrária na Lei Maior em fase de construção.
No embalo de tantos pedidos, até a turma favorável ao mandato de cinco anos para o presidente José Sarney ensinava aos parlamentares novatos que uma visita ao então ministro das comunicações, Antônio Carlos Magalhaes, poderia valer uma concessão de rádio ou de televisão, mediante um simples sinal verde por adiar um pouco mais o inquilinato de Sarney no Palácio da Alvorada.
Índios representando aldeias de todo o Brasil passaram a circular no salão verde do Congresso Nacional Constituinte ou a ocupar espaço nas galerias, depois que os constituintes da Frente Parlamentar Indígena exigiram livre passagem para todos eles, depois da tentativa inicial de proibição de acesso, por não estarem usando paletó e gravata ???
Veja a participação de Tadeu Bento França na Sessão da Câmara Municipal de Maringá
Sem sombra de dúvida, o Brasil inteiro fez- se representar no debates produzidos no âmbito das comissões parlamentares. Sabíamos que a nova Constituição não seria perfeita, mas estávamos empenhados para que fosse a melhor possível.
Sabíamos que a maioria da população brasileira não tinha condições de pagar uma consulta médica e ao mesmo tempo adquirir os medicamentos necessários ao tratamento da saúde. Com pouco mais de meia dúzia de palavras, criamos o SUS( Sistema Único de Saúde ) no artigo 196, ao garantir de uma vez por todas que ” A SAÚDE É UM DIREITO DE TODOS E UM DEVER DO ESTADO”.
DE 1988 para cá, 119 emendas constitucionais foram adicionadas à nossa LEI MAIOR, que deveria ser reconhecida como o reduto no topo da hierarquia do Direito. Finalmente, foi a democrática Constituição Cidadã que determinou os direitos e obrigações dos cidadãos e das
estruturas políticas de nosso país. Entretanto, o imediatismo das vantagens e a fisiologia reinante que culminou até mesmo pela vergonha de um orçamento secreto da União tem maculado a imagem interna e externa do Brasil. É o STF legislando, parlamentares preocupados excessivamente com os próprios negócios, manobras golpistas forjadas à sombra do Palácio do Planalto, tudo isso faz com que a Constituição da República Federativa do Brasil tenha sido alvejada pelo hálito nefasto dos escândalos que têm sucedido aos ideais elevados e ao patriotismo indiscutível de nosso saudoso Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, ULYSSES GUIMARÃES , que tinha moral para nos proclamar este legado:
NÃO ROUBO,
NÃO DEIXO ROUBAR,
DENUNCIO QUEM ROUBA,
FAÇAM O MESMO.
Professor Tadeu França
Ex- deputado federal constituinte