Durante cinco domingos, interrompemos a leitura do evangelho de Marcos, para nos colocar à escuta do capítulo sexto do evangelho de João, com a multiplicação dos pães e o longo discurso do pão vivo descido do céu (Jo 6, 1-69). Jesus subverteu a lógica do dinheiro e do mercado, que gera fome e exclusão, para propor a lógica da partilha e da solidariedade.
O que era bem pouco, cinco pães e dois peixes foi repartido para cinco mil homens (sem contar mulheres e crianças, como avisa Mateus) e ainda foram recolhidos doze cestos do que sobrou. Retornamos, nesse domingo, ao evangelho de Marcos, com dois cenários bem distintos. Num primeiro, Jesus é rodeado por fariseus e doutores da lei que vieram de Jerusalém para interroga-lo sobre a “falta de religião” dos seus discípulos, por não seguirem certas tradições dos antigos, como lavar as mãos para comer o pão ou tomar banho quando se retornava da rua. Esse é também o tema da segunda leitura tirada da Carta do apóstolo Tiago, quando este retoma a reflexão do Profeta Isaias: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1, 27). No dizer de Pagola, “Marcos, o evangelho mais antigo e direto apresenta Jesus em conflito com os setores mais piedosos da sociedade judaica. Entre as suas críticas mais radicais, devemos destacar duas: o escândalo de uma religião vazia de Deus e o pecado de substituir a sua vontade por “tradições humanas”, a serviço de outros interesses. Jesus cita o profeta Isaias: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. O culto que me prestam está vazio, porque ensinam doutrinas que são preceitos humanos. Depois denuncia em termos claros onde está a armadilha: `Deixais de lado os mandamentos de Deus, para aferrar-vos à tradição dos homens” (Mc 7, 8). Depois da discussão com os doutores da lei, temos um segundo cenário em que Jesus chama a multidão para perto de si, a fim de arrematar o seu ensinamento sobre o que, na verdade, é puro e impuro aos olhos de Deus. Ele o faz de maneira muito direta: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassinatos, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas essas coisas más saem de dentro e são elas que tornam impuro o homem” (Mc 7, 14-15; 21-23). Na nossa vida religiosa, somos chamados a ser praticantes e não apenas ouvintes da Palavra de Deus, a nos ater ao essencial, o amor e a misericórdia, sem nos perder em exterioridades. Esse mês de setembro é o mês da Bíblia e o livro que nos é proposto é o do profeta Ezequiel. Muito jovem, foi obrigado a partir com os demais escravizados para a Babilônia. Teve a visão de que Deus abandonou o templo, sob a forma de uma nuvem para e seguiu com seu povo para o exílio. Deus foi morar entre os exilados (Ez 10, 18-22; 11, 22-25). Deus nos acompanha nas nossas tribulações e segue conosco mesmo quando dele nos afastamos e dele fugimos. O profeta fala ainda do Deus da vida e da esperança, ao descrever o vale cheio de ossos secos e que Deus chama de volta à vida (Ez 37, 1-14). Façamos de nossa casa um lugar de encontro com a palavra de Deus e de conversão do nosso coração para a religião pura e agradável a Deus.