“Sejamos inteligentes, maduros, fraternos e humanos”, disse Dom Severino Clasen em conclusão à sua fala antes do início do debate televisivo, conclamando os candidatos a prefeito a manterem alto o nível de civilidade. O pedido foi atendido quase que integralmente, porque houve algumas farpas que geraram até mesmo promessas de processos judiciais.
UM RESUMO:
Sem Silvio Barros (PP), Scabora (PSD) foi a presa preferida de ataques e acusações durante o debate televisivo desta segunda-feira, 30. Organizado pela TV Evangelizar em iniciativa da Arquidiocese de Maringá, o debate aconteceu no palco do Teatro Marista que contou com a participação de público restrito ao clero, assessores políticos e imprensa.
O vice-prefeito não perdeu a compostura em nenhuma das vezes em que foi provocado, e por ter sido o mais acionado, foi também aquele que mais teve a oportunidade para falar sobre o que pretende fazer se for eleito prefeito. Ele também teve que ouvir “que junto com Ulisses, teve oito anos para fazer e não fez”.
Humberto Henrique foi pouco acionado e chegou a parecer que algumas estratégias previam evitar o envio de perguntas ao candidato do PT que durante a campanha tem conseguido transmitir suas idéias com muita desenvoltura. De um modo geral, o debate da Evangelizar foi um sucesso pelo modo respeitoso em que os candidatos se atacaram; sem xingamentos, mas com acusações até pesadas, mas tudo dentro das regras democráticas e sem cadeiras voando.
E por falar em voar, o candidato do Mobiliza – Pastor José Santos teve dificuldades a se manter dentro dos temas, e quando era para perguntar sobre saúde, o fez sobre supostos álvaras vencidos de negócios do candidato Evandro Oliveira (PSDB).
SCABORA NA MIRA JÁ NO PRIMEIRO BLOCO
Logo no primeiro bloco, e logo na primeira pergunta da noite, o candidato do PSDB Evandro Oliveira questionou Edson Scabora (PSD) sobre como ele agiria se fosse eleito prefeito em relação ao atendimento de empresários e fornecedores da prefeitura. Evandro afirmou que o atendimento na gestão atual é feito pelo secretário de governo – Hércules Kotsifas, irmão do prefeito Ulisses Maia, e que haveria um ritual para ingressar o gabinete; entre eles, o de deixar os celulares do lado de fora com a secretária. Você concorda com esse estilo de gestão, perguntou o candidato do PSDB.
Scabora respondeu dizendo que se for eleito, será ele mesmo a escolher seus secretários municipais. Depois elogiou o secretariado da atual administração e terminou dizendo a Evandro que vai ter que responder na sede adequada. “O que você afirmou do Hércules você vai ter que provar, não é assim chegar assim e falar essas bobagens que você fala por aí, por isso vai ter que provar”, respondeu Scabora anunciando um provável caminho jurídico para o que considerou ser falso. Evandro disse na réplica “que os empresários em Maringá foram tratados como bandidos pela administração municipal durante a pandemia”.
E sem Silvio Barros (PP), que decidiu não participar do debate, o alvo das perguntas e provocações ficou sendo mesmo o candidato do PSD, que começou tendo que se defender e defender seus pares de administração; ele e também foi alvo da segunda pergunta. O candidato do PT – Humberto Henrique foi chamado a perguntar, e começou dizendo que até duas semanas atrás Scabora defendia reforma e ampliação da UPA e que agora promete construir duas UPAS. “Você dizia que não era inteligente construir outra UPA e agora quer construir duas”, lascou .
Scabora não tirou um coelho da cartola, mas fez raciocínios sobre elevar o nível da UPA da Zona Norte para nível 3, o que segundo ele significa ter capacidade de atendimento de uma nova UPA, só que em menos tempo. O candidato do PSD disse também “que essa é uma forma de preparar a cidade para receber a terceira UPA”.
Humberto disse que era uma mudança de idéia, que era uma proposta eleitoreira de Scabora. “Scabora está há oito anos na gestão e só agora descobriu que há necessidade de uma nova UPA na cidade”, ironizou o candidato do PT.
DE ONDE VEM O DINHEIRO ? “TENHO FAMÍLIA RICA”
Quando não se defendeu, Scabora teve que atacar. Ao final do primeiro bloco ele perguntou ao candidato pastor José Santos do Mobiliza quem é que está pagando as contas de sua campanha. Scabora disse que o pastor não tem fundo eleitoral, que só declarou R$ 2 mil em recebimentos de doações, mas que já impetrou várias ações judiciais durante a campanha eleitoral.
Scabora mesmo foi vítima de pelo menos uma delas; Na terça-feira, 17, a comissão provisória do Mobiliza pediu em representação por conduta vedada a cassação do registro do vice-prefeito Edson Scabora, candidato do PSD ao Executivo. O razão motivante segundo a acusação, seria que Scabora teria participado da inauguração do Hospital Municipal da Criança, o que é proibido para candidatos com cargos eletivos em vigência.
José Santos disse que tem “família rica em Maringá e muitos amigos empresários”, para justificar a origem dos gastos com meios jurídicos. “Eu não lancei na prestação de contas ainda porque não tenho todos os assessores que o senhor tem; todo o dinheiro que uso é fruto de doações. Nosso partido não tem dinheiro, mas tem organização e temos advogados”, concluiu Santos.
SEGUNDO BLOCO – LAPSO E FUGAS DE TEMAS
No segundo bloco, momento em que os candidatos fizeram perguntas diretamente uns aos outros com a condição de não poder perguntar a quem já havia respondido, aconteceu um lapso da produção, e Evandro que havia acabado de inquirir Scabora sobre o tema da saúde, respondeu sobre população de rua ao candidato do PSD, quando na verdade quem deveria ter respondido deveria ter sido Humberto Henrique. A questão foi resolvida com Scabora refazendo a pergunta a Humberto Henrique.
O pastor José Santos do Mobiliza foi sorteado para perguntar a Evandro Oliveira (PSDB) sobe a temática da Saúde, mas preferiu falar sobre as faculdades de Evandro Oliveira, de suas dívidas e álvaras vencidos junto à prefeitura.
Evandro recebeu a pergunta como se fosse uma assistência e acusou a gestão atual de comandar uma indústria de notificações. “A indústria das notificações em que os auditores fiscais ganham por notificação e não por trânsito. Estamos sofrendo perseguição política há muitos anos, e não sou só eu; descobri que são vários empresários na cidade; estamos com tudo judicializado, recebemos multas milionárias”. Evandro acusou também as secretarias municipais de serem ineficientes e muito burocráticas.
Na tréplica, Evandro chamou o candidato do Mobiliza de despreparado e o comparou a Scabora.
Depois foi a vez de Humberto Henrique a perguntar; ele escolheu o candidato do Mobiliza e questionou sobre o projeto dele para o esporte na cidade. José Santos contou que quando era criança queria ser jogador de futebol, mas não pôde por falta de oportunidade, e que ele queria oferecer isso às crianças; disse também que pretende investir nos times da cidade para que ocupem lugares especiais nos campeonatos brasileiros. Santos só não disse como pretende fazer isso, já que é impossível para uma administração municipal usar dinheiro de seu orçamento para investir em esporte profissional e de natureza econômica privada.
TERCEIRO BLOCO – VIRANDO SABATINA
No terceiro bloco, com os candidatos livres para perguntarem a quem quisessem, o pastor José Santos do Mobiliza, citou matéria do jornalista Angelo Rigon para acusar o candidato Edson Scabora que é empresário no ramo da educação privada, de não ter pago ao bilionário falecido Juarez Arantes a aquisição de 51% das cotas do Colégio Drummond, hoje Anglo.
Scabora negou relação comercial com Arantes, e disse que até chegou a falar em sociedade com ele, mas que nunca passou disso. Scabora disse também que seu único sócio foi Vanderlei Alves Ferreira, que depois ficou com o colégio em Cianorte enquanto ele permaneceu com a propriedade de Maringá.
O pastor então disse que trabalhou como motorista para Arantes e que sabia que Scabora comprou e não pagou.
O que aos poucos foi se tornando uma sabatina a Scabora continuou com Evandro falando do asfalto que se asfarela no contorno sul que classificou de corredor da morte; segundo ele, a estrada já teria levado a óbito 24 pessoas nos últimos 4 anos.
Scabora lembrou que o asfalto foi refeito em 2017 e que seu projeto é transformar o contorno em uma nova avenida Carlos Borges. Evandro apontou o dedo contra a reforma de 2017 e disse que foi dinheiro jogado fora.
Atacado, Scabora lembrou a Evandro que ele teria assinado com o município uma TAC – termo de ajustamento de conduta por ter executado construções irregulares; Evandro voltou a falar de um suposto método de atendimento pouco convencional que os empresários recebem na prefeitura e chamou Scabora de mentiroso e de novo que era vítima de perseguição.
Evandro também protagonizou um momento contra corrente. Foi quando se ergueu contra a gratuidade no transporte público urbano. “Não vou prometer o que não sei se vou poder fazer. Só faço se o Governo Federal e o Governo Estadual também”.
QUARTO BLOCO E AS PERGUNTAS DA ARQUIDIOCESE
Para o Pastor candidato do Mobiliza, o tema sorteado foi o meio-ambiente. Sem dizer como, Santos usou o senso comum para prometer “que sua árvore estiver condenada, vamos retirar rápido”.
O barulho excessivo dos bares caiu para Evandro que falou em rigidez e punição para quem não respeita.
Já Scabora respondeu sobre estender a distribuição da merenda durante as férias escolares. O candidato do PSD disse que isso já tinha sido feito durante a pandemia e que seria possível fazer em modo regular.
Humberto Henrique foi sorteado para falar de habitação e do déficit dela. O candidato do PT defendeu aumento do investimento em Assistência Social e ajuda ás famílias. “107 mil pessoas estão inscritas no Cadastro Único, são 47 mil famílias que vivem em dificuldade na melhor cidade do Brasil para se viver”. Humberto terminou dizendo que 2% para a Assistência é pouco, e que pretende aumentar a percentual e dar vida ao subsídio de aluguel social para resolver o problema.
QUINTO BLOCO – TODO MUNDO CONTRA TODO MUNDO
O pastor José Santos (Mobiliza) foi sorteado para perguntar a Evandro (PSDB) sobre o tema das mudanças climáticas. Lembrou das quedas de árvores, disse que é um grande problema, disse que vai investir no Parque do Ingá, falou também do Horto Florestal que é reserva florestal, mas é privada.
Scabora perguntou a Humberto sobre o tema da capacitação profissional. O candidato do PT disse ao candidato do PSD que tem conversado com entidades empresariais e que para resolver o problema seá necessário promover cursos para trabalhadores e oferecer financiamentos de linhas de crédito aos 46 mil MEIS da cidade, especialmente às mulheres.
Evandro escolheu Scabora mais uma vez para questionar sobre limpeza pública. Ele disse “que há reclamação da limpeza nos quatro cantos da cidade”. Scabora então disse que o caminho para resolver o problema é a privatização, e que ao contrário do que Evandro diz, o serviço funciona.
Já no fim do penúltimo bloco, Humberto Henrique decidiu perguntar ao pastor do Mobiliza sobre seu projeto de saneamento básico e destinação do lixo. O pastor falou em colocar mais lixeiras nos bairros e ficou por aí. Já Humberto aproveitou para falar dos recursos que o governo atual enterra nos aterros sanitários e que poderiam estar sendo transformados em riqueza através de compostagem e biogás.
No último bloco, os candidatos fizeram apelos emocionados, pediram votos como fazem em seus vts de campanha eleitoral, citando os próprios nomes, partidos e números.
A gravação da transmissão AO VIVO pode ser assistida nas redes sociais.
A redação de OFATOMARINGA.COM entrevistou o jornalista condutor do evento Everton Barbosa que avaliou positivamente o único debate televisivo da campanha às eleições para prefeito de Maringá no primeiro turno.
IMPRESSÕES:
A impressão que ficou é que apesar de Silvio Barros (PP) ter perdido a oportunidade de apresentar suas idéias, não participar não poderá lhe causar grandes perdas, e que se houverem perdas, serão um pouco divididas com Scabora (PSD) que teve que se defender e defender quem trabalha com elè na gestão de Ulisses Maia.
Na manhã de ontem (30), Barros apareceu na liderança na pesquisa da Paraná Pesquisas realizada entre 26 e 29 de setembro. Com 58,6% na pesquisa estimulada, é seguido por Scabora com 20, Humberto Henrique com 6,5%, Evandro, 1, 8% e pastor José Santos com 1,0%.