Coloco, nesta reflexão, algumas chaves de leitura para a Liturgia do Domingo de Ramos e que, também, nos ajudarão durante toda a Semana Santa.
Significado da Procissão: caminhada coletiva, em grupo, em comunidade, rumo à “Casa do Pai”. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e superação da violência”, com o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), nos diz que habitamos numa ‘Casa Comum’ e que todos somos responsáveis pelo bem ou mal viver. O Papa Francisco, na encíclica Laudato Si, nos diz que temos que ter consciência das crises graves que pesam sobre a vida. O fim da espécie humana não é impossível se não mudarmos nosso estilo de vida, pois, ou nos salvaremos todos juntos (porque não estamos numa arca de Noé que salva alguns e deixa perecer os outros), ou, juntos, miseravelmente, pereceremos. Nossa fé nos diz que nos salvamos em comunhão e que Cristo caminha conosco.
Entrada triunfante e condenação – lição do que somos capazes: o coração humano pode oferecer o melhor ou o pior de si mesmo na edificação ou destruição do mundo. Depende da opção que fazemos.
Entrada de Jesus em Jerusalém: Jesus entrega-se a si mesmo, oferece-se, não é algo externo, mas a si mesmo. Jerusalém é o estado de vida interior, lugar de compromisso, fidelidade, cruz, comunidade.
Cantos, manifestações de alegria. Era uma festa. “Jesus se aproximou, e quando viu a cidade, começou a chorar. E disse: Oh! Se ao menos neste dia conhecesses o que te pode trazer a paz!” (Lc 19,41-42).
Jesus vê que Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira.
Jesus tentou por todos os meios: milagres, obras, palavras… Jesus tentou tudo com todos.
Para muitos, Jesus é só uma passagem, um ato social:
· Ramos verdes – murcham rapidamente;
· Hosana entusiástico – grito furioso: “crucifica-o”;
· Estendiam as vestes – o despojam das suas.
Trágicos incidentes em Jerusalém e, também, hoje. Por quê?
1º) Fragilidade do povo: deixou-se levar pelos interesses dos maus dirigentes da sociedade;
2º) Cegueira das autoridades: obcecadas pelo poder, veem em Jesus uma ameaça, um perigo.
Por que foi tão brusca a mudança? Por que tanta inconsistência? Para entender um pouco do que se passou, talvez, tenhamos que consultar o nosso coração. Muito dentro do nosso coração, há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do pior. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser constantes e vencer pela penitência o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a Cruz.
3º) Postura de Jesus: vítima de uma grande violência, não respondeu com violência igual. A pior coisa que uma pessoa violenta pode fazer conosco é nos transformar em alguém igual a si mesma. Jesus não permitiu que fizessem isso com ele; não respondeu à agressão com agressão, não chamou fogo do céu para destruir os inimigos. Suas atitudes eram as de quem podia dizer: “Aquele que me viu, viu o Pai” (Jo 14,9).
Estado psicológico e espiritual de Jesus:
Jesus refugiou-se, angustiou-se, foi preso, condenado, torturado, brutalmente supliciado. Sofrimentos físicos e psicológicos (traição, negação, abandono pelos amigos e discípulos). Suas atitudes:
– Pede: “Pai afasta este cálice. Por quê? Por quê?….. Contudo, não seja feita a minha vontade”.
– Sente: “Por que me abandonaste?”
– Crê no humano: “Perdoai-os, porque não sabem o que fazem”.
– Crê em Deus: “Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito”.
O caminho de Jesus é, também, o caminho do cristão: renúncias, sacrifícios e gestos heroicos.
Jesus foi humilde e obediente até a morte, e morte de cruz
1º – A humildade é o fundamento da obediência
Obediência significa prestar atenção, dar ouvidos.
Como nasce a obediência? “O Senhor abriu-me os ouvidos (nos fala pela Palavra) e eu não fui rebelde, de manhã em manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como os discípulos” (Is 50, 5).
2º – Jesus permaneceu firme até o fim
Movido por quem? Por quê?
Por amor e fidelidade a Deus, Ele enfrentou grandes desafios: traição de Judas, negação de Pedro, a dor e a humilhação infligida a ele por aqueles a quem fora enviado: seu povo. Foi açoitado, esbofeteado, teve a barba arrancada, foi insultado e cuspido. “O Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo”. Por sua fé em Deus, jamais desistiu de crer no ser humano.
3º – Na paixão e morte de Jesus nós estávamos lá
O que aconteceu lá, também acontece hoje. Na condenação de Jesus, manifesta-se o orgulho de todo ser humano e sua rebelião contra o projeto de amor e fraternidade do Pai.
4º – Na redenção de Jesus está a resposta de amor extremo por parte de Deus
Nossa felicidade, o acesso à graça, teve um preço: Ele pagou por nós. Só quem reconhece esse amor adorará o Senhor com um coração agradecido. “Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é o Senhor’, para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 10-11).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças – Sarandi – PR