Na Liturgia deste Domingo, III do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Jn 3,1-5.10), que, no século IV antes de Cristo, o povo judeu era dominado e oprimido pela Assíria, país pagão, muito detestado pelos mesmos. Diante disso, muitos achavam que Nínive, capital desse país, deveria ser destruída. Pelo presente, vê-se o futuro, pelo presente, podem-se analisar as consequências futuras. Nínive corre perigo. Qual será o destino, o fim de Nínive? Deus se preocupa com o destino de Nínive, se preocupa com o destino das nações, se preocupa com o nosso destino. Nínive é cada um de nós, é o mundo em que vivemos, é o pecado que nos atinge.
Deus chama Jonas para ser o seu porta voz, Jonas terá uma missão: salvar os ninivitas. Qual método ele usará? O que ensinará? Mesmo com medo e cheio de limites, ele ensina com a vida e com a palavra os caminhos do Senhor. Proclama que a salvação é para todos. Os ninivitas acreditaram em Deus, tomaram consciência do poder de Deus e da necessidade de mudar e, então, Deus compadeceu-se deles.
A disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus e em percorrer um caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta adequada ao chamamento de Deus. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Na 2ª Leitura (1 Cor 7,29-31), o Apóstolo Paulo nos transmite alguns ensinamentos: não absolutizar as coisas e pessoas. Buscar, em primeiro lugar, o Reino de Deus. O fim não é possuir mais, mas amar mais. O que permanece é o bem que realizamos, a caridade, a partilha. A Palavra nos diz que devemos ser generosos, evitar gastos com caprichos supérfluos, vaidades. Devemos cuidar da vida, cuidar da natureza, cuidar de si.
No Evangelho (Mc 1,14-20), apresentamos algumas chaves de leitura que poderão nos ajudar na compreensão do texto:
1º) João Batista foi preso – quais foram as causas?
2º) Jesus foi evangelizar na Galileia – levou a boa nova, mensagem de salvação num lugar de marginalidade. Qual era a visão que se tinha em relação à periferia: “De Nazaré pode vir algo de bom?”
3º) Jesus anuncia que o Reino está próximo – a atividade de Jesus é pregar o Reino, vitória do bem, romper com os esquemas do mal. Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo, pois ele não é apenas uma realidade espiritual, mas atinge o ser humano em todas as suas dimensões. O grande perigo hoje é reduzir a missão a uma teologia do pano, a uma liturgia da fumaça e a uma pastoral de prodígios. Não faz muito tempo, em uma aula com seminaristas, futuros presbíteros, falava-lhes para focarem o agir missionário com conteúdo e voltado para o compromisso do reino e não nos penduricalhos estéticos, pois muitos poderiam perceber e até comentar: “Quanto mais pobre o circo, mais se enfeita o palhaço”.
O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), nos adverte para tomarmos cuidado com o que pregamos, “pois, em muitos lugares, a caridade e outras virtudes acabam ficando obscurecidas, precisamente aquelas virtudes que deveriam estar mais presentes na pregação e na catequese. E o mesmo acontece quando se fala mais da lei que da graça, mais da Igreja que de Jesus Cristo, mais do Papa que da Palavra de Deus” (EG, 38).
Enfim, “O desafio duma pregação inculturada consiste em transmitir a síntese da mensagem evangélica, e não ideias ou valores soltos. Onde está a tua síntese, ali está o teu coração” (EG, 143).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR