A Festa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora nos lembra a palavra da Escritura segundo a qual Maria foi sempre a Virgem cheia de graça. E pelos méritos de Cristo foi preservada tanto do pecado original quanto de toda culpa, para tornar-se digna de ser Mãe de nosso Redentor. “Convinha que Deus fizesse a exceção; podia fazê-la; portanto, a fez” (Duns Scoto). Do infinito amor de Cristo para com a Mãe, que a pré-redimiu e cumulou do Espírito Santo desde o primeiro instante da sua existência, derivou este singular privilégio, que a Igreja hoje celebra para nos fazer meditar não só sobre a inefável beleza da alma de Maria, mas também sobre a beleza de toda alma santificada pela graça redentora de Cristo.
Desde o início do cristianismo, Maria foi venerada pelos fiéis como a Toda Santa. A veneração a Nossa Senhora da Conceição começou no século VIII e IX, no Oriente e no Ocidente. Em 1570, Pio V publicou o novo Ofício e, finalmente, em 1708, Clemente XI estendeu a festa, tornando-a obrigatória a toda a cristandade. Mas a proclamação do Dogma, pelo Papa Pio IX, só se deu em oito de dezembro de 1854. Esta declaração de verdade de fé diz o seguinte:
“Pela Inspiração do Espírito Santo Paráclito, para honra da santa e indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica e para a propagação da religião católica, com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor nosso, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida na Revelação Divina, devendo, portanto, ser crida firme e para sempre por todos os fiéis” (Ineffabilis Dei, 42).
Após quatro anos desta proclamação, a Virgem apareceu a Santa Bernadete Soubirous (Lourdes, França) que, ao lhe fazer uma pergunta: “Senhora, quer ter a bondade de me dizer o seu nome?” Maria respondeu: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
Sabemos, também, que a reflexão sobre a Virgem Mãe do Senhor começa já com o Novo Testamento e se desenvolve rapidamente na patrística. Pode-se ver isso desde o começo: não é possível delinear a imagem de cristo, sem inserir ali também sua Mãe. Por isso, os primeiros dogmas marianos estão completamente situados num contexto cristológico. Portanto, o primeiro motivo para falar de Maria é a sua relação com Cristo, que é normativa e vinculante para todos os cristãos. Não somente por razões históricas, mas também por razões objetivas e teológicas. A salvação do homem consiste na comunhão com Deus Trino, comunhão que lhe é concedida por meio do encontro existencial com Jesus Cristo: quem o vê, vê também o Pai (Jo 14,9). Por isso, a salvação é sempre a salvação em Cristo; ela tem lugar quando alguém se insere nele, cabeça do corpo, videira para os ramos. A salvação se decide neste “estar em”. A Mãe do Senhor constituiu importante ponto de referência neste empreendimento. Esteve unida a ele de maneira única não só no plano biológico, mas também e, sobretudo, no plano espiritual, religioso e existencial. A verdadeira espiritualidade mariana não consiste tanto em rezar a Maria, mas rezar como Maria. Aquele que, em seu espírito, em sua espiritualidade e conduta prática, se aproxima o mais possível de Maria, também se encontra numa estreita relação com Cristo e se coloca realmente na sua sequela, que conduz ao Deus uno e trino, nossa vida. Maria não é a meta da existência cristã, mas seu modelo e, neste sentido, é insubstituível.
Maria Santíssima, preservada do pecado original, é a garantia de que, no mundo, o bem é mais forte e mais contagioso que o mal. Com ela, a primeira redimida, tem início uma história de graça “contagiosa”. Certamente, contribuíram muito com a grandeza da alma de Maria, seus pais, Joaquim e Ana, que viviam em profunda comunhão com Deus, num ambiente de oração e muito amor. A Imaculada é o sinal de que, com a ressurreição de Cristo, o mal já está vencido desde o início de nossa vida, pois Maria foi cheia de graça desde o primeiro instante de sua existência. “Em Maria e em nós atua a mesma graça: se Deus pôde realizar nela seu projeto, também poderá realizá-lo em nós, desde que colaboremos com sua graça, como ela o fez. Maria é a criatura humana em seu estado melhor” (Dom Murilo S.R. Krieger).
Alguns pontos que devemos considerar em relação a Maria Santíssima
1º) Como o céu vê Maria
Saudação divina pelo Arcanjo – “Ave, Salve, cheia de graça!”
O ventre de Maria se torna a casa para receber o ‘Rei da Glória’, encarnação, grande acontecimento. Em Maria, está o Projeto de uma humanidade melhor. No Antigo Testamento, à semelhança de Ester (Ester 5,1-2; 7,2-3), podemos saber o que Maria pede a Deus: “Concede-me a vida – a vida de meu povo”. E o que Maria nos pede: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
2º) Como a terra vê Maria
Na visita a sua prima Isabel, esta, cheia do Espírito Santo, proclama-a “Mãe do meu Senhor”, portanto, Nossa Senhora.
Quando o Evangelho diz que todas as gerações a chamariam de Bem-Aventurada, percebe-se, na própria época, alguém que, vendo Jesus, exclama: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios a que foste amamentado!” (Lc 11,27).
Maria é a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor que, confiadamente, esperam e recebem d’Ele a salvação. Maria é sinal de salvação-Reino: “Todas as gerações me chamarão de Bem-aventurada” (Lc 1,48). Ela faz nascer a conscientização=Cristo=Vida. Acreditou e obedeceu. Esperando, contra toda esperança, acreditou, “porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1, 45).
3º) Como Jesus vê Maria
Jesus a elogia não pelo parentesco, mas pelo testemunho de fé: “Feliz antes aquela que acreditou que se realizariam as promessas do Senhor”. O que o Senhor prometeu? “A paz vos deixo… Eu estarei sempre convosco… No mundo tereis aflições, mas coragem, eu venci o mundo”.
Ou “Ditosos antes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática!” (Lc 11,28). “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática!” (Lc 8,20-21). Maria identifica-se com o povo e se questiona: “Como é que vai ser isso? O Espírito Santo virá sobre ti!” Ela acreditou, concebeu, por obra e graça do Espírito Santo e a “Palavra de Deus se fez carne”.
4º) Como Maria mesma se vê
“O Senhor fez em mim maravilhas… Eis aqui a serva do Senhor”. Nas bodas, intercede: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Concluo está reflexão invocando a intercessão de Maria junto a Deus, por todos nós:
– Nossa Senhora Imaculada Conceição, Nossa Mãe e Mãe de Jesus, Rogai por nós!
– Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.