O delegado Rodolfo Vieira Nanes assumiu a Delegacia da Mulher de Maringá há apenas dois dias e já se vê envolvido em uma polêmica que não lhe diz respeito, mas sim à função que veio para ocupar. A nomeação de um homem para ocupar o cargo de delegado lá onde sempre esteve uma mulher, causou indignação a várias associações que se ocupam da causa. O Fórum de Mulheres de Maringá publicou um Nota de Repúdio à nomeação. Na Nota, o Fórum deixa claro que “não discute a competência e o profissionalismo do delegado, o que discutimos é a afronta a uma luta histórica do movimento organizado de mulheres para que exista uma Delegacia da Mulher comandada por uma mulher para o acolhimento das mulheres em situação de violência, e que O FATO de se ter uma delegada mulher possibilita que a mulher em situação de violência se sinta acolhida para relatar a violência sofrida, seja um estupro, uma agressão, um assédio ou outras formas”.
Veja a entrevista que o delegado Rodolfo Vieira concedeu a Ligiane Ciola e José Carlos Leonel
A Delegacia da Mulher foi instalada na cidade há quase 40 anos, e nesse longo período foi sempre dirigida, ou pelo menos pela maior parte do tempo por uma mulher. A primeira a ocupar o cargo foi a histórica Dra. Elza da Silva. Foi ela que abriu as portas para inúmeras conquistas humanas que mudaram o panorama do atendimento de mulheres vítimas de violência.
A última, foi a Dra. Luana Lopes, que recentemente e por motivos pessoais, pediu transferência para a cidade de Apucarana. Com o cargo vago e sem disponibilidade de delegadas mulheres para ocupar o cargo, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná através da Delegacia Geral, nomeou o Dr. Rodolfo Vieira para a função com a promessa de contratar uma mulher para substitui-lo assim que o concurso para delegados de polícia do Estado for realizado.
Rodolfo lembra que em fevereiro de 2021, o concurso da Polícia Civil foi cancelado no dia de sua realização por causa da pandemia de coronavírus. Para o certame, 106 mil candidatos tinham sido inscritos e o cancelamento às 5,42h da manhã do dia das provas, criou um grande problema para milhares de candidatos que tinham vindo de outros estados da União. A princípio o concurso adiado deve acontecer no mês de outubro desse ano, desde que haja condições favoráveis por conta da pandemia.
“É um problema histórico; sofremos com falta de efetivo e por isso me pediram para ocupar o cargo, coisa que faço com muita serenidade pois o trabalho não pode parar”, diz o novo delegado.
“Compreendo perfeitamente a reivindicação das associações que querem uma mulher à frente da delegacia, mas quero assegurar que o atendimento por aqui continuará sendo realizado da mesma forma que acontecia quando no comando estava a Dra. Luana. O atendimento inicial das mulheres vítimas de crimes é feito por duas mulheres investigadoras de polícia; são elas que atendem a vítima, as ouvem e quando necessário aplicam as medidas protetivas necessárias. Eu não terei contato com a vítima, terei contato somente com agressores”.
O delegado garante que as mulheres vítimas de violência vão continuar a receber atendimento personalizado, por policiais femininas altamente qualificadas e que o ambiente que elas vão encontrar será como sempre foi, profundamente humano e acolhedor.
Sobre a Nota de Repúdio publicada pelo Fórum de Mulheres de Maringá, ele diz que pretende responder com trabalho sério e muito respeito até que a eventual substituta seja designada pelo Estado.