O cenário para o evangelho deste domingo é o da última semana da vida de Jesus, com a sua festiva entrada em Jerusalém, às vésperas da festa da Páscoa.
Do meio da multidão de peregrinos, dois gregos se aproximam de Filipe da Galileia e dizem:
“Senhor queremos ver Jesus” (Jo 12, 21).
Felipe fala com André e os dois vão falar com Jesus.
Daqui para frente, há um surpreendente diálogo, um contraponto à narrativa dos três outros evangelistas. Em Marcos, Mateus e Lucas, Jesus provocou um choque e crescente oposição, quando anunciou que ia para Jerusalém, onde “esse Homem devia padecer muito, ser reprovado pelos senadores, sumos sacerdotes e letrados, sofrer a morte e depois de três dias ressuscitar” (Mc 8, 31).
É, porém, à luz da ressurreição que João reinterpreta esse momento: a cruz é vista como glorificação e não como sinal de maldição. Passar pela morte é caminho necessário para que o grão de trigo dê muito fruto:
“Em verdade, em verdade, eu vos digo que se o grão de trigo que cai na terra, não morre, ele continuará um grão de trigo, mas se morre, então produz muito fruto” (12, 28).
João suprime o episódio da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras, mas o traz de outra forma, para este encontro com os gregos:
“Agora, sinto-me angustiado. E que direi? Pai, livra-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai glorifica o teu nome” (12, 27}.
E João que omite também o episódio da Transfiguração, mas traz para este momento a manifestação de seu Pai: “Então veio uma voz do céu: Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo”. (12, 28).
Declara, por fim, a vitória sobre o espírito do mal:
“Agora o chefe deste mundo vai ser expulso e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (12, 31-32).
Arremata o significado desse encontro, ao indicar sua chave de leitura, chave desta mensagem e da inteira vida de Jesus:
“Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer” (12, 33),
Toda esta passagem traz um recado para nós, que hesitamos em seguir os passos de Jesus:
“Se alguém se apega à sua vida, perde-a, mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me onde eu estou estará também meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará” (12, 25-25).