Jesus entrou em Jerusalém recebido com festa pela multidão dos peregrinos. Vai ao templo e indignado expulsa os que haviam feito da Casa do seu Pai um covil de ladrões. É confrontado pelos sumos sacerdotes e doutores da lei. Querem saber com que autoridade estava ensinando e quem lhe dera o direito de botar para fora os vendedores que pagavam caro para essas mesmas autoridades para violar a santidade da casa de Deus e montar ali suas barracas de cabras, bois, ovelhas e bancas de cambistas?
Jesus responde com três parábolas: no domingo passado com a dos dois filhos que o pai envia para trabalhar na sua vinha. Cumpre a vontade do Pai, aquele que disse que não ia, mas foi. E Jesus arremata mirando as autoridades: “As prostitutas e os cobradores de impostos vos precederão no Reino de Deus, pois ouviram João Batista e se converteram e vocês não” (Mt 21, 28-32). Emenda com outra parábola, a do homem que prepara um terreno, planta uma vinha, cava um lagar, levanta uma torre de vigia, arrenda aquela terra e parte em viagem para o estrangeiro, por um longo tempo (Mt 21, 33-43). Era comum nos tempos de Jesus e provocava revolta dos camponeses, que as melhores estivessem nas mãos de poucos que cobravam pesadas rendas dos lavradores sem terra e iam gozar a vida, no estrangeiro, só enviando empregados para receber o pagamento no tempo da colheita. Passados provavelmente três ou quatro anos, o tempo de a vinha entrar em plena produção, o dono envia um empregado para receber a sua parte na colheita. Ele é maltratado e despachado de mãos vazias. Envia um segundo e um terceiro que recebem o mesmo tratamento. Resolve enviar seu filho, chamado por Marcos e Lucas de “filho muito querido”, imaginando: “Com certeza, irão respeitá-lo”. Vendo-o chegar, confabulam os arrendatários: “É o herdeiro. Vamos mata-lo e fiquemos com a herança”. Arrastam-no para fora da vinha e o assassinam. Jesus pergunta: “O que fará o dono da vinha com aqueles homicidas?” As autoridades respondem sem pestanejar, já condenando a si próprias, pois estavam procurando um jeito de matar Jesus: “Fará perecer de morte horrível os malfeitores e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe entreguem os frutos a seu tempo”. Jesus relembra a passagem da Escritura acerca da pedra que foi rejeitada pelos construtores e se tornou a pedra angular, para então concluir: “O Reino de Deus será tirado de vós e entregue a um povo que produza os devidos frutos”. Depois da destruição de Jerusalém e do templo, com a dispersão do povo judeu, as primeiras comunidades interpretaram a parábola no sentido de que a tarefa de implantar o Reino de Deus havia passado do povo da antiga Aliança, para o povo da nova Aliança, da Sinagoga para a Igreja. Mas hoje não podemos fugir da mesma interpelação de Jesus: nossas comunidades estão sendo fieis portadoras dos sonhos de Jesus, entregando os frutos do seu Reino? São fraternas e acolhedoras para os excluídos da sociedade? Encontram eles, ali, os mesmos gestos de Jesus em relação aos que passam fome ou estão vivendo nas ruas, aos que estão nas prisões, às mulheres vítimas de violência e exploração, aos imigrantes que ninguém quer receber? Somos intransigentes defensores de toda vida, diante da multiplicação violências, de roubos e atentados à propriedade, engrossam o coro dos que pensam que matar mais e mais, solucionaria os problemas da sociedade, esquecidos do grande mandamento: “Não matarás”? A vida pertence a Deus e não a nós. A nós cabe cuidar incansavelmente de toda vida, em especial das mais vulneráveis e ameaçadas, para sermos fiéis seguidores de Jesus e construtores do seu Reino de justiça, de paz e de renovado cuidado e ternura para com todas as pessoas e todas as criaturas.