Uma das primeiras trovas que me lembro de haver decorado foi esta: “Cartas que vãoe que vêm… / Cartas que vêm e que vão… / Levam e trazem, também, / pedaços docoração…”. Estava escrita no caderno de recordações de uma colega de ginásio, em São Fidélis-RJ, e trazia embaixo o nome do autor: Tio Gílson. Só alguns anos mais tarde vim a saber que aquele Gílson (de Castro), dentista da Aeronáutica, tio de minha colega Heloísa, era o mesmo já famoso poeta conhecido como Luiz Otávio, cujos versos eu via com frequência em jornais, revistas e almanaques.
Quando mudei para Maringá-PR, em 1955, assumi a direção de um dos jornais locais e criei uma coluna literária em que divulgava textos diversos. De Luiz Otávio, publiquei muitos sonetos e trovas, de modo que o nome me ficou familiar.
No início de 1960, a saudade me levou de volta para o estado do Rio. Fui morar em Nova Friburgo, onde afinal conheci pessoalmente o Príncipe dos Trovadores Brasileiros.
Encontrei-o numa sala da Biblioteca Municipal, em companhia do poeta J. G. de Araújo Jorge, cuidando dos preparativos dos I Jogos Florais de Nova Friburgo, belíssima festa que marcou o início do grande movimento literário que nos anos seguintes espalharia Brasil afora a “febre” do trovismo.
Luiz Otávio, a quem naquela ocasião fui apresentado pelo também trovador Delmar Barrão, disse que já me conhecia de nome, pelos jornais que eu lhe enviava pelo correio, e de pronto “intimou-me” a aderir àquele movimento. Expliquei que minha iniciação tinha sido noutros gêneros, que gostava de escrever contos, crônicas, poemas livres etc… Tentei enfim tirar o corpo fora, porém a argumentação foi irresistível. “Você pode escrever o tipo de poesia ou prosa que bem entender, disse ele, mas, se quiser ficar conhecido em todo o Brasil, comece a fazer trovas”.
Essa conversa, que veio como uma luz a me apontar o caminho, ocorreu faz mais de meio século. Comecei a escrever trovas. Nunca mais parei. Não fiquei “conhecido em todo o Brasil”, no entanto posso dizer que em todo o Brasil tenho conhecidos, gente muito boa, amigos que, de tão queridos, chamo de irmãos e irmãs.
Fiquei um ano em Friburgo, depois mais dois anos em São Fidélis, onde fundamos o GBT – Grêmio Brasileiro de Trovadores e promovemos vários grandes eventos. Até que em meados de 1963 retornei a Maringá, dessa vez definitivamente. Mas continuei discípulo do Príncipe, com quem trocava cartas seguidamente.
Em 1965, durante os I Jogos Florais de Bandeirantes, Luiz Otávio me chamou num canto e ali mesmo me nomeou delegado do GBT em Maringá. Em 1966, sucedendo uma das primeiras a serem instaladas no interior brasileiro, em meio ao I Festival de Trovadores, sediado na cidade.
A essa altura eu já me havia enturmado com todo o grande time dos pioneiros da trova otaviana: J. G. de Araújo Jorge, Aparício Fernandes, Élton Carvalho, Colbert Rangel Coelho, Lilinha Fernandes, Durval Mendonça, Eno Wanke, Barreto Coutinho, Vera Vargas, Rodolpho Abbud, José Maria Machado de Araújo, Madalena Léa, Maria Nascimento, Carlos Guimarães, Carolina Ramos, Octávio Babo Filho, Iracy do Nascimento e Silva, Helena Ferraz, Maria Thereza Cavalheiro, Amaryllis Schloenbach, Lery Guimarães, Joubert de Araújo Silva, Leonardo Henke, Orlando Woczkoski, Zálkind Piatigórsky… e tantos outros que aos poucos foram tornando cada vez mais rica, animada e forte a mais bela escola literária de que até hoje se teve notícia.
A luz que veio do Luiz continua válida para todos os novos poetas: “Você pode escrever o que bem entender, mas, se quiser ficar conhecido em todo o Brasil, e até no exterior, comece a fazer trovas”.