A audiência pública sobre a dengue, realizada na última quinta-feira (23/2) na Assembleia Legislativa do Paraná, trouxe contribuições não só para reforçar as ações no curto prazo como também para colocar no radar mudanças em questões importantes que influenciarão num futuro próximo a definição das políticas de combate ao problema.
Entre esses “novos itens” estão, por exemplo, mudanças de comportamento do mosquito transmissor e o impacto das mudanças climáticas, que influencia a incidência da doença em diferentes regiões.
Promovido pela deputada estadual Márcia Huçulak (PSD), o encontro reuniu gestores, especialistas e representantes da sociedade civil para debater o cenário da dengue, cuja incidência é recorde no país neste início de 2023.
Maior incidência
O calor, por exemplo, está exercendo influência na multiplicação do mosquito transmissor, Aedes aegytpi, apresentou Ivana Belmonte, coordenadora de vigilância ambiental da Secretária de Estado da Saúde (Sesa).
Com o clima mais propício à reprodução do mosquito, cidades que não registravam problema com a dengue passaram precisar enfrentá-lo. “Não há mais região sem risco de dengue no estado”, disse.
O problema era menor nas regiões Centro e Sul do estado, que são mais frias, por exemplo, e agora fazem parte do mapa da dengue.
Essa é uma situação que tende a se normalizar no futuro, devido às mudanças climáticas em curso, que elevam a temperatura média do planeta, expos o professor Wilson Flávio Feltrin, coordenador do Laboratório de Climatologia da Universidade Federal do Paraná.
“Isso exige fortalecimento das ações que já ocorrem e uma aproximação maior com a população, que tem de participar mais das ações junto com os agentes [públicos]”, avalia ele, referindo-se às ações de eliminação de criadouros de mosquito. “Com a mudança climática, a tendência é ter mais ambientes favoráveis à reprodução. Cidades que não tinham condições [para o mosquito] passam a ter.”
A essa situação se soma a adaptação do próprio mosquito, cuja reprodução antes exigia temperatura mais alta e hoje já se multiplica em mais baixas, como mostrou a doutoranda da UFPR, Kelly Germano, cuja linha de estudo é o Aedes.
Pontos de reforço
Com isso, um dos modos mais eficazes de combater a proliferação do mosquito ganha muita força – o que depende enormemente da participação ativa da população.
Trata-se da eliminação de todo e qualquer recipiente que permita o acúmulo de água em quaisquer volumes, onde o mosquito se reproduz. Vai de uma tampinha de garrafa até caixa d´água e piscina.
Como exemplo do potencial de multiplicação , a deputada Márcia, que é ex-secretária de Saúde de Curitiba, lembrou que uma fêmea do Aedes aegypti põe cerca de 200 ovos.
Daí a importância de não permitir a proliferação. Os fumacês usados para matar o mosquito ajudam no controle, mas atuam numa área limitada e quando ele já está ativo. É mais importante não permitir que ele se reproduza.
Trabalho de todos
A atuação de cada morador, portanto, é fundamental.
Um dos participantes do encontro, o presidente da Associação das Administradoras de Condomínio do Paraná, Cláudio Marcelo Baiak, disse que sua entidade já trabalha no reforço às medidas preventivas com os associados, mas pretende ampliar as ações.
“Faremos novas ações, mais incisivas, de treinamento e informação com os associados”, afirmou ele, cuja associação reúne cerca de 150 mil imóveis.
A superintendente da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Flávia Quadros, lembrou que 75% dos focos de mosquito estão dentro das nossas casas – portanto, facilmente passíveis de serem eliminados.
ASC/ALEP