ARTIGO: Araguaia, guerrilha ou massacre ?

Tadeu França professor universitário e ex- deputado federal constituinte.

Guerrilheiros que lutaram contra a ditadura militar e foram assassinados pelo regime - Arquivo PCdoB

Para os estudantes da atualidade é difícil entender por que um agrupamento de jovens decidiu abandonar um sem- número de cursos universitários e internar- se na área do Bico do Papagaio com abrangência aos Estados do Pará,
Maranhão e Tocantins.
É que, na realidade, os jovens da geração de 1968, principalmente a partir do AI 5 do general presidente Costa e Silva, rebelaram- se contra o absolutismo de poderes de que se revestiu a ditadura militar.A partir de então,a tortura, a suspensão de habeas corpus para os denominados crimes de motivação política, os toques de recolher, a censura à imprensa, o exercício do governo por decretos- leis, tudo passou a ser parte da soberania presidencial.
No centro do Rio de Janeiro, 100.000 pessoas foram às ruas aos gritos de:
ABAIXO A DITADURA.
Não houve dúvidas, blindados foram acionados contra o povo. Era o início dos anos de chumbo ou da banditização do regime Na repressão, a ordem era atirar para matar.
Já os estudantes tentavam revisar, utilizando- se de estilingues,rolhas ou bolinhas de gude, na tentatica de conter a cavalaria.
Os protestos estendiam- se também contra a guerra do Vietnã, o assassinato do pastor Martin Luther King e a guerra fria.
Jovens eram mortos, a exemplo de Manoel Ferreira, Márcia Ângela Ribeiro e Fernando da Silva.
Afrontando a censura, tornou- se comum o uso de camisetas com a foto de Che Guevara com os dizeres:
“Hay que endurecer,
pero sin perder la ternura jamas”.
Líderes acadêmicos era presos com frequência. Se refugiados em igrejas, pancadarias aconteciam depois das missas ou ainda
massacres nas portas das Universidades.
Na repressão do dia 21/06/68, assassinatos, prisões e espancamentos.
À medida em que o autoritarismo produzia vítimas, mais se intensificavam os protestos estudantis em outras regiões do país.
Lideranças nacionais, como João Amazonas, ex- deputado federal e Maurício Grabois entenderam que a única alternativa para destituir o regime era a luta armada a iniciar- se no silêncio do campo e, uma vez consolidada no campesinato, avançar para as cidades.Foi quando moças e rapazes, todos voluntários, deslocaram- se para a região entre cortada pelo Rio Xingu.
De família radicada em Maringá, o ex- seminarista franciscano e advogado Arno Preiss deslocou-se para o extremo norte do atual Estado de Tocantins.
Segundo o comandante Maurício Grabois, o objetivo era ” desgastar as forças armadas”.
O exército reagiu e, em grande número e com armamentos pesados, realizou um cerco estratégico, dificultando aos guerrilheiros até a obtenção da água. Famintos e sedentos, um a um os rebeldes foram fuzilados.
Concluído o massacre, foram tomadas as precauções para apagar os vestígios dos cadáveres produzidos. O exército jamais revelou o número de mortos do massacre denominado historicamente como GUERRILHA DO ARAGUAIA.
Como afirmou um nativo da região do Bico do Papagaio, “as meninas e meninos entendiam mesmo é de caneta. Por que não continuaram na escola? Enfrentar metralhadora com garrucha não tinha como dar certo”.