ARTIGO: “Licença para mentir”

Prof. Ricardo Dias Silva - vice-reitor da UEM entre 2018 e 2022

Prof. Ricardo Dias Silva – Vice-Reitor da UEM de 2018 a 2022

 

” . . . deputados federais e senadores

institucionalizam a mentira como política pública”.

“Duas decisões da classe política, nos últimos dias, refletem a crise ética e moral em que nos encontramos, mais especificamente no Paraná. Uma diz respeito a manutenção pelo Congresso Nacional do veto bolsonarista que diz não ao projeto que condena e pune quem dissemina Fake News, em português claro, a mentira. Mantendo assim a base ideológica da extrema-direita, deputados federais e senadores institucionalizam a mentira como política pública.

 

” . . . Complementarmente o governo do Paraná avança no

projeto de privatização do sistema público de educação …

como dizia Darcy Ribeiro, a crise da educação no Brasil é um projeto”

 

entregando para estas mesmas pessoas o compromisso de educar nossas crianças e jovens. Isto porque, nas últimas décadas, a educação se tornou um negócio muito rentável, a ponto de atrair grandes grupos internacionais que vêm comprar escolas e universidades no Brasil.

O negócio é tão bom que estes grupos enriquecidos passaram a patrocinar o futebol brasileiro, substituindo nos uniformes dos atletas as antigas marcas de instituições financeiras pelas suas – preste atenção no bumbum do seu jogador preferido.

Ora, o dinheiro leva ao poder e vice-versa. Assim estes grupos privados passaram a financiar também políticos, inclusive convidando parte deles para se tornarem sócios no negócio. O próximo passo foi colocá-los em cargos estratégicos.

Quem não se lembra dos ministros de Temer e Bolsonaro vinculados aos conglomerados educacionais privados ou o secretário de educação do Tarcísio que levou do Paraná para São Paulo o mesmo projeto de estado mínimo e educação virtual?

Como dizia Darcy Ribeiro, intelectual e político brasileiro, ex-reitor da Universidade de Brasília e responsável por projetos como o CIEP e o Memorial da América Latina: _ “a crise da educação no Brasil é um projeto”. Projeto este que tem avançado rápido para desqualificar a escola e a universidade pública e transferir para a classe dominante economicamente não só os lucros do negócio, mas também, e isto é o mais grave, a responsabilidade pelo projeto pedagógico – determinando o que deve ser ensinado para nossas crianças e jovens.  No entanto, para que o projeto dê certo é preciso desqualificar a educação pública, e aí as Fake News encaixam como uma luva;  sucatear o sistema público, a parte mais fácil para quem faz a gestão, ainda mais com a ferramenta da desvinculação de receitas, que permite aos gestores tirarem dinheiro da educação ao invés de colocar; e a substituição do modelo atual por outro, colocando no lugar primeiro a escola cívico-militar, uma balela que confunde educação com disciplina e subserviência e, por fim, a escola privada, salvadora da pátria, que obviamente será dividida em duas categorias. De um lado a escola dos ricos, bilingue, com formação de excelência nas mais diversas áreas de conhecimento e que colocará seus alunos no seu lugar de direito, os cargos de chefia. Do outro lado, a escola dos pobres, limpinha mas mais modesta, sem essas frescuras de arte, sociologia e filosofia – esse negócio freiriano de “Educação Libertadora”, e que irá doutrinar esses jovens para que se conformem com a condição de segunda classe e para que sirvam a pátria sem incomodar os riquinhos da primeira classe. Uma espécie de volta à idade-média, mas agora com uma aparência de modernidade, com laptops, Apps e essa parafernália toda, muito mais legal do que o blábláblá de livros e professores. Para que o projeto funcione é preciso licença para mentir e isto explica, em parte, algumas coisas que estão acontecendo”.