ARTIGO: Natividade de São João Batista. Por Antonio Leomar Montagna da Arquidiocese de Maringá

“CONVÉM QUE ELE CRESÇA E EU DIMINUA” (Jo 3, 30)

ARTIGO: Natividade de São João Batista. Por Antonio Leomar Montagna da Arquidiocese de Maringá
Na Liturgia desta quarta-feira, celebramos a Natividade de São João Batista, ao qual a religiosidade popular consagra cantos, danças folclóricas e fogueiras. Segundo o Evangelho de São Lucas, João era filho do sacerdote Zacarias (o mudo – que se tornará exuberância profética) e de Isabel (a estéril – que se tornará fecundidade), ambos de idade avançada. Seu nascimento e sua missão foram anunciados pelo anjo Gabriel (sexto mês da gravidez de Isabel), por isso a Igreja celebra esta solenidade três meses após a Anunciação e seis meses antes do Natal. Na circuncisão, recebeu o nome de João e seu pai louva a Deus, o mencionado como o precursor do Messias. Foi santificado pela graça divina antes mesmo de seu nascimento: “Isabel, repleta do Espírito Santo, disse a Maria: quando tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre”.
 
A celebração da Natividade do Batista é, com a do nascimento de Jesus e de Maria, a única festa litúrgica que a Igreja dedica ao nascimento de um santo, sendo ele o primeiro santo venerado na Igreja universal com uma festa litúrgica particular. João é definido pelo próprio Cristo como: “o maior entre os nascidos de mulher”, é o último profeta e o primeiro apóstolo, enquanto precede o Messias e lhe dá testemunho. João pregava a penitência no deserto e a necessidade do batismo para a remissão dos pecados; com esse gesto, pretendia mostrar que a pessoa não pode se purificar sozinha, mas que a santidade vem de Deus. Jesus deixou-se batizar por ele.
 
João condenava a hipocrisia e a imoralidade, pagou com o martírio (celebrado em 29 de agosto) o rigor moral que ele não só pregava, mas punha em prática, sem ceder, também, diante das ameaças de morte. Por ter denunciado publicamente o adultério do rei Herodes, foi preso e degolado a pedido da adúltera Herodíades. A pregação de João Batista atraia muitas pessoas, impressionadas por suas palavras e pelo seu exemplo de vida penitente. Ele “é mais que um profeta, disse Jesus. É dele que está escrito: eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti”. João é o maior dos profetas de Israel, porque pôde apontar o objeto de sua profecia (Mt 11, 7-15 e Jo 1, 19-28). Neste sentido, todo cristão tem que ser, de uma forma ou de outra, um João Batista, que prepara com humildade e coragem os caminhos do Senhor.
 
Nesta liturgia da Solenidade da Natividade de São João Batista, também veremos, na 1a Leitura (Is 49, 1-6), que o “Servo do Senhor” é chamado por Deus desde o ventre materno “para ser luz e salvação a todas as nações”. A imagem do Servo representa tanto o povo de Israel quanto o profeta, os cristãos reconhecem nele, também, a imagem de Cristo. A semelhança deste Servo, que desde o início (ventre) recebe a missão (o nome) de anunciar a palavra de Deus para reunir e restaurar seu povo disperso, o profeta João Batista também é escolhido desde o seio de sua mãe e plenificado com a força de Deus, em vista de uma grande missão: preparar o caminho para Cristo, Luz das nações.
 
Também nós, hoje, somos chamados a cumprir a missão de levar a luz de Cristo e a salvação a todos os povos e em todos os ambientes, principalmente os leigos, cujo “altar” são as realidades temporais, ali devem fazer o Reino de Deus acontecer.
 
Na 2ª Leitura (At 13, 22-26), o Apóstolo Paulo nos mostra como Deus preparou seu povo para a vinda do Messias e como João Batista cumpriu fielmente sua missão de precursor.
 
No Evangelho (Lc 1, 57-66.80), vemos que o nascimento de João (nome que significa Deus é propício, bondoso e que tem piedade) iniciou uma nova era: terminou o tempo das promessas, da expectativa, e iniciou o tempo da realização. Deus cumpriu a sua palavra. João é uma dádiva a seus pais: mãe estéril e pai mudo. Do silêncio de Zacarias nasce a última palavra profética da antiga aliança; da esterilidade de Isabel nasce o anunciador da vida perfeita oferecida por Deus ao seu povo, Jesus Cristo. O seio de Isabel representa a condição da humanidade: sem vida, sem esperança, sem futuro. Mas Deus intervém do alto para lhe dar vida e lhe mostra como é grande o seu poder e gratuito o seu amor. João é, também, motivo de alegria e esperança para os vizinhos e para toda a humanidade.
 
João Batista viveu em profunda humildade, no deserto se preparou para a missão, no silêncio, na oração, no estudo e na sobriedade, antes de se apresentar diante do povo para transmitir seu anúncio.
 
Outro fato que devemos destacar da vida de João Batista e que deve prevalecer em nossos dias: o importante é dar testemunho de Jesus e não querer ocupar o seu lugar, ser oportunista, tirar proveito e buscar sucesso e ostentação pelo cargo que ocupamos na comunidade: “Convém que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3, 30). Importante, também, na comunidade, é louvar a Deus pelos dons dos outros, daqueles que evangelizam com métodos diferentes dos nossos, que rezam e celebram de outras maneiras, que não necessariamente são iguais a nós, mas que, como João Batista, “dão testemunho do Filho de Deus”.
 
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.