ARTIGO: “Nossa água é cara. Como vereador, votei contra a usurpação da Codemar na década de 70”, diz Tadeu França

Parlamentar Constituinte de 1988, professor da UEM

Era a CODEMAR ( Companhia de Desenvolvimento de Maringá) que gerenciava, desde o Rio Pirapó, a água de que precisávamos para beber. Entretanto, na década de 70, durante o segundo mandato do Prefeito Dr. João Paulino Vieira Filho, ocorreu a doação de nossa água de custo baixo e sem dificuldade para obtenção para todos os bolsos de Maringá, a doação do patrimônio de todos os cidadãos para a Sanepar, sob a traiçoeira modalidade de transferência via capital aberto, sistema que vem solapando o patrimônio nacional a favor principalmente das poderosas empresas multinacionais e empobrecendo nossa pátria. Assim, não foi somente o governo do Estado que se tornou dono de nossa excelente água “municipal”, como também uma rede incontrolável de grandes acionistas do país ou internacionais.Hoje, os ” donos” de nossa antiga água municipal chegam a aproximadamente 380.000 sócios que não abrem mão dos polpudos dividendos a eles pagos periodicamente e que a todos eles garantem extraordinária lucratividade.
Não se ouvia falar antigamente em cortes de água aos moradores. Hoje, a lista mensal de cortes é imensa.Para os mais humildes, não dispor de água para as próprias necessidades fundamentais tornou- se um drama frequente.
A privatização virou moda. Até a lucrativa COPEL não escapou do desmonte paranaense. Já o avanço tentado sobre a SANEPAR não foi muito tranquilo. O governador Ratinho Jr. arriscou privatizar os sistemas de água em 16 municípios a favor das Empresas AEGEA, PORFIN E KINEA, mas ante a demissão de 8.9% dos empregados e a ação enérgica dos sindicatos dos trabalhadores, não avançou dessa vez no desmonte do Estado.
A verdade é que a maioria dos trabalhadores de Maringá, quando consegue emprego, sobrevive com o salário mínimo, paga aluguel de abrigos modestíssimos na periferia e, quando surge o alerta de possível vazamento oculto acompanhado da conta que a eles é impossível de ser paga, entram em pânico. Nem de longe imaginam que oculta nas elevadas contas está a lucratividade dos acionistas que exige pontualidade.
Não pagaram a conta? Que se corte a água e ponto final.
Por falar em concessão da água no passado, o prazo já está vencido há muito tempo, mas ficou no vazio a perspectiva de devolução ao povo maringaense de um sistema construído por ele e que lhe foi injustamente arrebatado.
Será que o novo Prefeito e novos Vereadores serão capazes de enfrentar a poderosa e anônima avalanche dos que se apropriaram de nosso mais precioso valor: a água que bebemos?