O tema relações humanas na contemporaneidade têm gerado inúmeras discussões, como resultado das importantes mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas. Dentre elas, destacamos o regime de acumulação de capital flexível, e a globalização em suas dimensões socioeconômicas, culturais e tecnológicas. Essas mudanças seguem atreladas à fluidez, à novidade e ao efêmero, e passam a ser valorizadas e a fazer parte das práticas que se constituem na contemporaneidade.
A acumulação flexível caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção totalmente novos, novas maneiras de fornecer serviços financeiros, novos mercados, taxas intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional, dentre outras.
Como consequência, ocorrem mudanças avassaladoras e profundas nos valores, comportamentos e identidades. É desta forma que essas modificações ao longo do tempo possibilitaram o desencadeamento, na contemporaneidade, de novos tipos de relacionamentos muito mais efêmeros, frágeis e superficiais.
Diante do exposto, podemos nos perguntar: no que se fundamentam e como ocorrem as relações interpessoais na contemporaneidade?
Novas formas de comunicação, aliadas às novas tecnologias, possibilitam a interação e sociabilidade à distância, o que se por um lado nos permitiu ultrapassar as barreiras geográficas que se interpunham entre nós, por outro lado, possibilitou relações de laços frágeis.
Bauman (2004), em seu livro * ”Sociedade líquida” assevera que, ao contrário dos antigos relacionamentos, as “relações virtuais” parecem ter sido feitas exatamente para o cenário da vida contemporânea, em que os “relacionamentos virtuais” são fáceis de entrar e de sair, de simples execução e entendimento, diferente do “relacionamento real” que parece ser embaraçado, brando e árduo. Portanto, numa sociedade em que tudo pode ser facilmente descartado, os relacionamentos também o são.
Com o ser humano em constante processo de mudança, os conhecimentos e os relacionamentos se tornam superficiais, pois não há tempo para se aprofundar, uma vez que se perderia tempo em adquirir novos conhecimentos, mesmo sendo superficiais, e novos relacionamentos, também superficiais.
As pessoas se inserem em relações menos densas, mais fúteis, construídas em bases frágeis, em que o desfecho são vínculos não duradouros, fluidos, uma vez que essa instabilidade das ligações valoriza justamente a capacidade de fugir dos sentimentos mais profundos, ou até mesmo, não estabelecer sentimentos íntimos. Para Casadore e Hashimoto (2012), é uma nova forma de poder e dominação que andam em paralelo com a enfermidade das relações. Baldanza (2006) corrobora com este entendimento, ao afirmar que as incertezas, provenientes dessa nova forma de se relacionar, geram desconforto e aumentam a sensação de angústia do ser humano.
Sem demora, as pessoas precisam dispor de tempo uns para os outros, sem a simultaneidade e o multitarefismo que nos é exigido nesta era moderna.
A Psicologia nos ajuda a entender que há vários fatores como a personalidade, o contexto no qual se está inserido, a história de vida de cada um, dentre outros, que nos tornam singulares, o que faz com que algumas vivências subjetivas possam ser mais harmoniosas, outras mais inquietantes, proporcionando ajustamentos que levam o sujeito ao bem-estar ou a doenças.
Hoje mais do que nunca, saber se relacionar com as pessoas tem se tornado um problema que afeta todos os âmbitos da sociedade, uma vez que o relacionamento tem sido uma dificuldade enfrentada por diversas pessoas. Com base nisso faz-se necessário refletir acerca dos componentes da relação social. Toda relação entre pessoas é composta por sentimentos, atitudes, e necessidades que são peculiares de cada um, influenciando assim seu comportamento dentro de um determinado grupo afim, e são esses fatores que mantêm ou encerram uma relação. Saber lidar com as diferenças é extremamente importante para se manter relações saudáveis. Uma das formas de se manter relações sociais harmônicas é a empatia. A empatia consiste na capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Para o psicólogo Carl Rogers: “ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.”
Quando somos empáticos, estamos pensando com a pessoa, e não por ela ou sobre ela. Já tentou? Nem sempre é fácil…mas ficam aqui algumas dicas que podem nos auxiliar a sermos mais empáticos:
– Transmita que deseja compreender, que tem vontade de falar e saber mais, ouça;
– Discuta o que realmente é importante, o que preocupa ou alegra a outra pessoa;
– Fale sobre os sentimentos do outro, confirme que percebe o que ele está sentindo (mesmo que não perceba o porquê, que não encontre o motivo, consegue perceber que a pessoa não se sente bem).
Quando a outra pessoa se sente não só ouvida, mas principalmente compreendida, é mais provável que confie mais em si e se sinta mais à vontade na relação para conversar e partilhar.
Se tentamos compreender os outros, quem sabe não conseguimos compreender melhor a nós mesmos?
* assista a entrevista realizada por Mindset Global com Zygmunt Baumann