Hoje, sábado, 06/06/2020, acordamos estarrecidos com as notícias veiculadas por todo tipo de canal de notícias, de que o Governo Bolsonaro e vários representantes de meios de comunicação católicos estavam procurando alinhamento e negociação para seguir e sustentar essa política catastrófica governamental, em prejuízo aos mais fragilizados do nosso povo brasileiro. Em troca disso o governo federal faria investimento e iria financiar propaganda governamental nesses sites, canais de TVs e rádios católicas. Infelizmente essa situação acaba colocando a Igreja Católica em franco nivelamento com Edir Macedo, Silas Malafaia, Valdemiro Santiago e outros mediáticos de moral duvidosa. Se isso vier acontecer perderemos a credibilidade moral e espiritual frente à sociedade e nos tornaremos motivo de chacota e de vergonha por estarmos nesta instituição que sempre prezou pela justiça, pela dignidade do ser humano e pelo bem comum. Nossa igreja, nosso ministério e nossa evangelização não devem estar atrelados a esse condicionamento, a essa lavagem cerebral imposta ao conjunto da sociedade, que visa por fim negar a democracia e levar a humanidade novamente em uma “Idade das Trevas”, de uma “guerra de todos contra todos”.
Boa parte desses que aparecem nessa trama mercadológica são católicos que nem sempre se manifestaram, em seus programas e linhas editoriais, favoráveis a CNBB e ao Papa Francisco. Entre os que participaram desse evento estão: João Monteiro de Barros Neto – Rede Vida, Padre Jonas – Canção Nova, Padre Welinton Silva – TV Pai Eterno, Padre Reginaldo Manzotti – Associação Evangelizar e outros oportunistas que atuam na Câmara Federal como o Deputado Diego Garcia, Eros Biondini e outros, vinculados à RCC. Não queremos e não aceitamos que pessoas assim usem e instrumentalizem nossa Igreja como verdadeiros “Vendilhões do Templo”, apoiando regimes fascistas e políticas de exclusão para com os mais necessitados.
Essas notícias do dia de hoje, nos levou a escrever esse manifesto, com o título acima: “EUGREJA” versus IGREJA, onde entendemos:
– “EUGREJA” = dos shows, dos espetáculos, barganhas que faz qualquer negócio nefasto onde os fins justificam os meios, culto a si mesmo, projeto de poder e fama para si e não para a Igreja de Jesus Cristo;
– IGREJA = os que são comprometidos com o Reino de Deus.
Muitas atitudes dos membros dessa “EUGREJA”, nos arrasa mais que os palavrões do presidente: “Se um inimigo me insultasse, eu poderia suportar; se meu adversário se erguesse contra mim, eu me esconderia dele. Mas é você, homem igual a mim, meu amigo, meu confidente, a quem me unia uma doce intimidade; andávamos juntos na casa de Deus” (Sl 55, 13-15). É repugnante “vender” a dignidade ao fascismo, o que terão para anunciar de construtivo para o país? Será que vale a pena manter este tipo de evangelização? Muitas dessas pessoas são representantes de si mesmos, sem comunhão pastoral com a Igreja Institucional. A igreja é apenas um instrumento para elevação de seus egos, uma verdadeira egolatria, evangelização, evangelho, evangelizar são apenas estratégias para o que consideram um bem maior: satisfação do ego e vantagens econômicas.
Diante disso seria coerente que Grupos de Oração e outras atividades eclesiais ligadas a esses Movimentos, em todo o país se desligassem desses segmentos estaduais e nacionais e, então ficassem ligados somente às paróquias para não serem desmoralizados enquanto Igreja que luta por dignidade, cidadania, justiça e solidariedade. Seria um testemunho de fidelidade à Doutrina Social da Igreja e ao Papa Francisco, que diz o seguinte sobre Igreja e Movimentos: “É muito salutar que não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular. Esta integração evitará que fiquem somente com uma parte do Evangelho e da Igreja ou que se transformem em nômades sem raízes” (EG, 29).
Também seria muito benéfico se todos os católicos deixassem de contribuir economicamente com esses segmentos e canalizassem suas ofertas e ajudas às paróquias e instituições locais onde pudessem acompanhar os trabalhos e perceber os resultados da evangelização e transformação social.
Nesse dia triste que nos surpreende e olhando para nossa realidade política-social-eclesial, a pergunta que nos vem: Por que o consentimento ao mal, e o que é pior, de forma coletiva?
Boa parte desse pessoal e de seus seguidores estão ligados à ala que diverge da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Papa Francisco, muitos ainda não conhecem devidamente a doutrina católica, isso evidencia mais e mais a necessidade urgente de que todos os fiéis católicos procurem boa formação doutrinária, pois, segundo o Papa São João Paulo II, sem uma formação sólida consta-se essa degeneração: intelectual, moral e espiritual:
“O consentimento ao mal, que é um sinal preocupante de degeneração, intelectual, moral e espiritual não só para os cristãos, está produzindo, em numerosos contextos, um desconcertante vazio cultural e político, que torna incapazes de mudar e renovar. Enquanto as relações sociais não mudarem e a justiça e solidariedade permanecerem ausentes e invisíveis, as portas do futuro fecham-se e o destino de tantos povos fica aprisionado num presente cada vez mais incerto e precário” (Pontifício Conselho Justiça e Paz. Para uma melhor Distribuição da terra – o desafio da reforma agrária, 1998, 61).
Precisamos urgentemente interromper esse consentimento ao mal de forma coletiva, para isso, será necessária uma mudança de mentalidade, adaptada segundo os ditames do Evangelho:
“A mudança de mentalidade interpela a nossa missão evangelizadora, de modo particular a evangelização dos jovens, das famílias e dos novos dinamismos sociais. Toda a missão da Igreja tem de ser, cada vez mais, pensada para um novo contexto da sociedade. São necessárias criatividade e ousadia, na fidelidade à missão da Igreja e às verdades evangélicas que a norteiam”.
Faz parte dessa missão evangelizadora o esclarecimento das consciências. A Igreja respeita a consciência, o mais digno santuário da liberdade. Não a ameaça, nem atemoriza, mas quer ajudar a esclarecê-la com a verdade, pois só assim poderá exprimir a sua dignidade.
Esta verdade iluminadora das consciências provém de um sadio exercício da razão, no quadro da cultura; é-nos revelada por Deus, que vem ao encontro do ser humano; é património de uma comunidade, cuja tradição viva é fonte de verdade, enquadrando a dimensão individual da liberdade e da busca da verdade. Para os católicos, a verdade revelada, transmitida pela Igreja no quadro de uma tradição viva, é elemento fundamental no esclarecimento das consciências” (Cf. Nota da Conferência Episcopal Portuguesa, 16/02/2007).
Concluímos afirmando que a luta pela vida, pela dignidade humana, pela solidariedade e pelo bem comum, é uma das mais nobres tarefas civilizacionais. Não será o novo contexto de “balbúrdia” criado em nosso país que nos enfraquecerá no prosseguimento desta luta. Nós, como Igreja, continuaremos fieis à sua missão de anúncio do Evangelho, da vida em plenitude e de denúncia de tudo aquilo que se opõe ao Reino de Deus.
Esperamos ter contribuído com esta reflexão e nos colocamos nas mãos da Santíssima Trindade. Pedimos que por intercessão de Nossa Senhora Aparecida sejamos livres de todos os males e tenhamos um Brasil e um mundo melhor. Que em nossa “Casa Comum” sejamos “um por todos, todos por um, todos por todos, o tempo todo”.
Que tudo seja para a maior glória de Deus e para o bem de toda a humanidade. Que venham muitos frutos para o Reino de Deus.