Durante a primeira visita que os líderes indígenas fizeram â Assembleia Nacional Constituinte em 88, liderados pelo cacique Raoni, eles foram barrados logo à entrada do salão verde da Câmara dos Deputados.
Ao deparar com o olhar entristecido de Raoni, perguntei aos seguranças do Congresso Nacional a respeito do porquê da proibição aos indígenas quanto ao acesso às galerias do plenário da Casa.
A resposta veio rápida:
– Deputado Tadeu França, o senhor está vendo que os índios estão sem paletó e gravata.
– Que absurdo! respondi.
Ato contínuo, disse a Raoni e aos demais indígenas que me acompanhassem.
Raoni fez questão de me agradecer, sorridente.
A partir desse episódio, índios de todas as regiões do Brasil foram chegando às galerias do plenário constituinte e se mantiveram atentos e aplicados durante os debates quanto aos direitos deles na Constituição da República Federativa do Brasil.
Por solicitação do então Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, o deputado Ulisses Guimarães, tomei a iniciativa de organizar a Frente Parlamentar Indígena, abrangendo 42 constituintes entre deputados federais e senadores.
Com o apoio de antropólogos e, de um modo especial do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), os índios brasileiros ganharam visibilidade nacional e internacional e em que pese a violência que ainda persiste contra eles, principalmente pela invasão das áreas em que vivem, destruindo-lhes as plantações, queimando- lhes as ocas, desmatando-lhes as matas, poluindo-lhes as fontes e os rios com mercúrio para a obtenção do ouro ou ainda estuprando meninas como infelizmente ocorre na comunidade yanomami, a Constituição Cidadã de 88 delegou ao futuro do Brasil leis justas que têm sido afrontadas impunemente pelo atual presidente Jair Messias Bolsonato, omisso quanto ao desmatamento da Amazônia e mero espectador das balsas gigantescas que navegam livremente, lotadas con troncos abatidos nos redutos indígenas e contrabandeados impunemente.