Caso Sevilha: Termina o interrogatório do acusado de ser mandante do crime

Por Danielle Santos - Sindifisco

Caso Sevilha: Termina o interrogatório do acusado de ser mandante do crime

foto - Reprodução Youtube Sindifisco

Extenuante. Assim foi parte do interrogatório do segundo réu, dono da empresa investigada por José Antonio Sevilha e acusado de encomendar a morte do Auditor-Fiscal, quando foi interpelado pela sua defesa nesta quarta-feira (19) diante da Justiça Federal de Maringá. Cercado de diversas pilhas de documentos colocados à disposição para consulta, o advogado do acusado fazia as inquirições baseado nessas provas para dar mais embasamento ao Conselho de Sentença sobre os fatos destrinchados.

No intento de afastar a condição de principal suspeito pelo crime, a defesa quis esclarecer que, embora o depoente estivesse, à época, comprometido com os Fiscos estadual e federal, em virtude de atos contra a ordem tributária, vinha cumprindo com suas obrigações e pagando algumas multas aplicadas, e que tal condição não seria motivo para que ele intentasse contra a vida de um agente público.

Também apoiado em documentos da defesa, o réu deu a entender o possível interesse de outros empresários investigados por Sevilha, cujas empresas eram citadas em um material apreendido na mesa da vítima pela Polícia Federal dias após a morte do Auditor. O acusado tentou desqualificar ainda, por diversas vezes, os depoimentos de algumas testemunhas de acusação. Ao fim, ele respondeu a diversas perguntas dos jurados.

Centralizador

A inquirição do terceiro e último réu iniciou-se na noite desta quarta com perguntas do juiz Cristiano Manfrin acerca de episódios declarados em depoimentos de algumas testemunhas de acusação. Ele é acusado de intermediar o contato entre o dono da empresa investigada por Sevilha e o trio contratado para executar a vítima.

Ao júri, o réu desmentiu o dono da empresa ao ser questionado se era amigo do acusado e disse que tinha apenas uma relação profissional, tendo sido seu assessor administrativo na época do crime. Disse que não tinha acesso à área financeira da empresa e que o empresário era centralizador e autoritário, desmontando a tese dele de que a gerente era seu braço direito na fábrica e, portanto, cuidava dos negócios em Maringá.

O suspeito confirmou ainda a existência de crime de interposição fraudulenta nas empresas do acusado, definido por ele de “laranjal”, e falou da necessidade de o ex-chefe manter essa estratégia para driblar a fiscalização da Receita Federal em cima de supostas fraudes tributárias.

Apesar de reconhecer que compartilhava corriqueiramente o aparelho celular corporativo com o também acusado pelo assassinato do Auditor, o réu disse que nunca tinha ouvido falar no nome de Sevilha até o momento de sua morte e que tampouco teve contato com os acusados de serem os executores.

Na fase de respostas aos questionamentos feitos pelo Ministério Público em conjunto com a assistência de acusação, o réu deu um depoimento considerado surpreendente e revelador, mais consistente do que nos interrogatórios anteriores. Por causa disso, as defesas dos demais acusados começaram a fazer perguntas insistentes ao inquirido, que respondeu algumas e depois optou por ficar em silêncio por orientação de sua própria defesa, com o objetivo de não correr o risco de produzir provas contra si mesmo. O interrogatório continua nesta quinta-feira (20).

Júri popular

Esse é o primeiro júri popular realizado em Maringá e a terceira vez que os acusados são colocados diante do Tribunal do Júri. A primeira tentativa de julgamento ocorreu há três anos e foi interrompida por uma estratégia da defesa do empresário. Em 2020, um novo júri foi reconvocado e, depois de cinco dias de depoimentos, acabou sendo dissolvido em função de problemas de saúde de um dos jurados.

Além do empresário apontado como mandante do assassinato do Auditor-Fiscal José Antonio Sevilha, estão sendo julgados o homem apontado como executor, e o ex-funcionário do empresário, que teria intermediado o contato entre os dois. A investigação da Polícia Federal apontou outros dois executores: um deles morreu na prisão e o outro nunca foi localizado.

“Espero que o julgamento se encerre nessa semana com a condenação dos acusados, no sentido de dar uma resposta para a família e para os amigos ao longo de 17 anos de sofrimento. Será uma resposta também para a sociedade brasileira, pois vivemos num momento muito delicado de desrespeito e agressão aos servidores públicos e às instituições do nosso país, sendo que uma das mais atacadas é a Receita Federal do Brasil e os Auditores-Fiscais”, disse o diretor-adjunto de Defesa Profissional do Sindifisco Nacional, Auditor-Fiscal Glauco José Eggers.