Na Liturgia deste Domingo, III do Tempo do Advento, veremos, na 1a Leitura (Is 35, 1-6a.10), que Deus prepara a volta dos exilados na Babilônia: transformando o deserto em terra verde; revigorando o povo abatido e preparando o caminho seguro de volta para casa. O profeta Isaías fala e se dirige aos que estão desanimados, para ajudá-los a confiar na salvação que vem do Senhor. Ele descreve as consequências da intervenção divina com imagens de pessoas que recuperam instantaneamente a saúde e com a participação da natureza nesta alegria.
Enfim, Deus faz nova história a partir dos mutilados e rejeitados da sociedade. O autor da virada histórica é o próprio Deus. Diante disso, ficam as seguintes questões:
– Quais são os efeitos, os sinais, da chegada de Deus em nossas vidas?
– Qual deserto deve florir e qual é a função da natureza?
Na 2ª Leitura (Tg 5, 7-10), o Apóstolo Tiago nos explica que, mesmo não vendo as transformações que esperamos e diante das adversidades da vida, não devemos desanimar e sim continuar fazendo a nossa parte: “semear o bem”. Ele nos apresenta os profetas como modelos de fé que, na história, não se dobraram e nem se deixaram vencer, mas, em todo tempo, com esperança, com paciência e resistência, confiaram na vinda do Senhor, Justo Juiz.
No Evangelho (Mt 11, 2-11), a pergunta de João Batista é a mesma que muitos ainda hoje fazem diante de tantas incertezas, desafios e sofrimentos: Será que Jesus é verdadeiramente o Messias? A resposta não é dada em palavras, pois a vivência do cristianismo não é simples ideia ou teoria, mas sim por meio dos resultados, da prática, isto é, pelos frutos das atividades pastorais: a libertação dos pobres e oprimidos. Cegos enxergam, paralíticos andam, surdos ouvem, mortos ressuscitam etc. “É pelos frutos que se conhece a árvore”. Jesus, Mestre, ensina a ler a Bíblia a partir da ótica e compromisso com os pobres. Como ficam os que não se alinham com essa ótica? Escandalizam-se, não são solidários com a sua causa. Para muitas pessoas, a Igreja deve pregar um Messias intimista, triunfalista, sem a preocupação em recuperar a dignidade da pessoa humana, por isso o alerta de Jesus: “Feliz aquele que não se escandaliza pela sua prática”. Evitar o escândalo é ser agente de libertação, junto com Jesus e por causas Dele.
O Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja no mundo atual, Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), já exortava os cristãos a que procurassem cumprir fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho:
“Afastam-se da verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um. Mas não menos erram os que, pelo contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam consistir apenas no cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais. Este divórcio entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo. O cristão que descuida os seus deveres temporais, falta aos seus deveres para com o próximo e até para com o próprio Deus, põe em risco a sua salvação eterna” (GS, 43).
Depois de se apresentar mediante sua prática, Jesus dá testemunho sobre João Batista, esclarece sua identidade, seu valor e sua missão. João Batista não é um ‘caniço’ agitado pelo vento que pactua e é levado pelo sistema dominante, não é um pregador oportunista que se adapta conforme a situação, não é um burguês que vive na fortuna e no luxo, não veste roupas de grife, mas é pessoa livre e despojada que consegue enxergar longe e apontar o caminho. João é um profeta que, com seu traje e sua prática despojados, denuncia o luxo e a exploração dos poderosos e prepara o caminho por onde vai passar o Messias.
Mas, João Batista é muito mais que um profeta. “É o maior dos nascidos de mulher. No entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele”. Nenhum homem do Antigo Testamento é maior do que João Batista. Entretanto, João pertence ao Antigo Testamento, onde as profecias são anunciadas, e não ao Novo Testamento, onde elas já se realizam. Neste elogio de Jesus ao Batista podemos ver uma declaração implícita da superioridade do Novo sobre o Antigo Testamento; da Igreja sobre a Sinagoga; da Lei de Cristo sobre a Lei de Moisés.
Jesus e João têm estilos e projetos muitos distintos um do outro, mas ambos atuam em nome de Deus. A rejeição de ambos mostra o receio geral de acolher os enviados de Deus e ter de se comprometer com as exigências que eles comunicam.
Concluindo esta reflexão, afirmo que a Igreja chama este 3º domingo do advento de domingo do “Alegrai-vos”. Recebe este nome pela primeira palavra em latim da antífona de entrada, que diz: “Gaudéte in Domino semper: íterum dico, gaudéte” (Estai sempre alegres no Senhor, repito, estai sempre alegres, Fl 4, 4.5).
Esta alegria nos vem porque o Senhor está próximo, portanto nos alegramos em um fundamento sólido e não em coisas passageiras. Vejamos:
– Na anunciação: “Alegra-te cheia de graça…” (Lc 1,28);
– Quando da visita de Maria a Isabel: João Batista salta no ventre ante a proximidade do Messias (Lc 1, 39ss);
– O anjo aos pastores: “Não temais, trago-vos uma boa nova, uma grande alegria para todo o povo, pois nasceu-vos hoje um salvador” (Lc 2, 10-11);
– Os Apóstolos: “Alegraram-se ao ver o Senhor… A paz esteja com vocês… soprou sobre eles…” (Jo 20, 20ss).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR