Chefe da ONU vê resistência humana e heroísmo em meio a “carnificina climática” no Paquistão

Em visita de dois dias ao país, devastado por fortes chuvas e inundações, o secretário-geral da ONU percorreu áreas afetadas; ele destacou as consequências da queima de combustíveis fósseis e disse que os países mais ricos são moralmente responsáveis por ajudar países em desenvolvimento a se recuperarem de desastres como esses.

Chefe da ONU vê resistência humana e heroísmo em meio a "carnificina climática" no Paquistão

foto: Eskinder Debebe ONU

Em seu segundo dia de visita ao Paquistão, neste sábado, o secretário-geral da ONU declarou a jornalistas já ter visto muitos desastres humanitários no mundo, mas nunca uma “carnificina climática” nessa escala.

O país foi inundado por fortes chuvas que causaram deslizamento de terras, destruição, a morte de mais de 1,3 mil pessoas, deixaram milhões de pessoas desabrigadas e um terço do território submerso.

Solidariedade

António Guterres viu em primeira mão os danos causados ​​em algumas áreas e conversou com pessoas deslocadas e trabalhadores humanitários. Ele disse não ter palavras para descrever o que viu: uma área inundada que é três vezes a área total de seu próprio país, Portugal.

O secretário-geral da ONU afirmou ter visto também grandes níveis de resistência e heroísmo humanos, com trabalhadores de emergência e pessoas comuns ajudando uns aos outros.

Ele descreveu o momento que considerou mais emocionante durante a visita, quando ouviu um grupo de mulheres e homens que sacrificaram seus bens, a possibilidade de resgatar coisas de suas próprias casas, para ajudar os vizinhos a serem resgatados.

Guterres prestou homenagem aos esforços das autoridades paquistanesas, civis e militares, nacionais e regionais. E agradeceu à sociedade civil, às organizações humanitárias, aos seus colegas da ONU e a todos os doadores que apoiaram o Paquistão.

Financiamento e redução de emissões

As pessoas que vivem em condições de alta vulnerabilidade climática, inclusive no sul da Ásia, têm 15 vezes mais chances de morrer por impactos climáticos. Quase metade da humanidade está agora nesta categoria, a esmagadora maioria no mundo em desenvolvimento.

O líder nas Nações Unidas fez um apelo para que pelo menos metade de todo o financiamento climático seja destinado à adaptação e resiliência climática para que países como o Paquistão possam enfrentar as próximas inundações de uma maneira que proteja seus cidadãos e proteja sua economia e sua riqueza.

Ele pediu ainda que todos os países, em especial o G20, aumentem suas metas nacionais de redução de emissões todos os anos, até que o limite mundial de temperatura de 1,5°C seja garantido.

Guterres afirmou que viu “uma tragédia humana épica” no Paquistão, mas também viu o futuro. E que à medida que o planeta continua aquecendo, todos os países sofrerão cada vez mais perdas e danos climáticos além de sua capacidade de adaptação.

Segundo ele, “hoje é o Paquistão, amanhã, pode ser o seu país”. E encerrou dizendo que esta é uma crise global, e exige uma resposta global.

Visita de dois dias

Guterres chegou ao país na sexta-feira para mostrar solidariedade ao povo paquistanês após a perda de vidas e a destruição causada pelas enchentes devastadoras, que começaram em junho deste ano. Ele pediu apoio internacional maciço para enfrentar essa “catástrofe climática”.

Após sua chegada, o secretário-geral foi informado sobre os últimos acontecimentos e a resposta liderada pelo Paquistão pelo primeiro-ministro Shehbaz Sharif e pelo ministro das relações exteriores Bilawal Bhutto Zardari, assim como outros membros do governo.

Guterres afirmou em seus encontros que sua visita de dois dias ao país não é só de solidariedade, mas “uma questão de justiça”. Ele foi acompanhado pelo subsecretário-geral para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, e pelo coordenador residente, Julien Harneis. ONU NEWS