Desde o início da guerra, a 24 de Fevereiro, Kiev diz ter sido alvo de mais de 2.000 ataques cibernéticos realizados por Moscovo.
O Google Threat Analysis Group (TAG), descobriu que, ao longo de 2022, houve 2,5 vezes mais ciberataques contra utilizadores ucranianos que em 2021; e o triplo contra utilizadores em países da NATO.
Mas, de facto, a guerra “escondida” começou muito antes disso. Mesmo antes da invasão em grande escala, na noite de 13 para 14 de janeiro de 2022, a Ucrânia foi sujeita a um ataque hacker em massa contra as estruturas governamentais. Os ataques repetiram-se a 15 e a 23 de fevereiro.
Guerra cibernética faz parte integrante da estratégia russa
Peritos do Serviço Estatal Ucraniano de Comunicações Especiais e Proteção da Informação alegam que a agressão russa incluiu uma dimensão digital desde o início, ou seja, que a Rússia está a tentar coordenar ciberataques maciços com operações militares no campo de batalha.
Um exemplo dado é uma campanha russa em grande escala, com a duração de vários meses, para destruir a infraestrutura energética da Ucrânia: os ataques com mísseis foram acompanhados por tentativas de piratear sistemas de controlo.
Esta não é uma regra incondicional, mas parece ser muito frequente, o que faz crer que a guerra cibernética é uma parte integrante da estratégia russa, e não um complemento, ou uma ferramenta de combate separada.
Ao mesmo tempo, os peritos ocidentais acreditam que as operações cibernéticas russas, – no campo de batalha e no espaço mediático – se revelaram muito menos eficazes do que o esperado, tanto pelo Ocidente, como em Moscovo.
“Até agora, neste conflito, penso que vimos que embora tenha havido um excesso de atividade cibernética do lado dos russos, esta ainda não se traduziu necessariamente num feito militar no campo de batalha. E isto não é por falta de tentativas, afirma Gavin Wild, especialista em tecnologia do fundo Carnegie Endowment for International Peace
Tim Stevens, investigador na área de cibersegurança do King’s College de Londres, acrescenta que, no combate da guerra cibernética, “os ucranianos têm tido muito mais sucesso”, mas que, no final de contas, a guerra cibernética “pode ser útil em certas circunstâncias, mas não vai fazer ganhar uma guerra”.
Por que são as “operações cibernéticas” russas frequentemente ineficazes?
Entre as razões apontadas pelos especialistas, está a falta de experiência real no recurso a operações cibernéticas em guerras desta magnitude. Além disso, a Rússia chegou um pouco mais tarde do que muitos países ocidentais à “militarização” do ciberespaço.
“Só na última década é que começaram a pensar em operações cibernéticas ofensivas num contexto militar e de guerra. Portanto, levanta-se a questão de saber se as forças militares russas estavam em condições de se dedicarem a uma espécie de guerra cibernética”, afirma Gavin Wild.
Outra explicação pode ser o êxodo em massa de trabalhadores na área das Tecnologias da Informação (TI).
Desde fevereiro de 2022, dezenas de milhares de profissionais de TI deixaram a Rússia, apesar de nem todos terem estado associados à guerra cibernética.
As razões para a partida foram variadas e, em alguns casos, poderão até ter sido cumulativas. Alguns fizeram-no por estarem em desacordo com as ações do Kremlin, outros queriam evitar ser recrutados para o exército e houve ainda quem trabalhasse para empresas ocidentais e simplesmente já não pudesse receber salários nem em dólares, nem em euros na Rússia, devido a sanções.
O ataque é a melhor defesa
As autoridades ucranianas preparavam-se para repelir ciberataques atacando-se a si próprias. De acordo com Mikhail Fedorov, em 2021, Kiev pagou a grupos de piratas informáticos de todo o mundo para “atacar” o website dos serviços públicos ucranianos Diya e procurar vulnerabilidades.
A par de outras ajudas, a Ucrânia recebe um poderoso apoio de muitas empresas com vasta experiência nesta área.
No início de Janeiro de 2023, autoridades ucranianas disseram que levariam provas de ataques de pirataria russa a um tribunal internacional em Haia para serem reconhecidas como crimes de guerra. Kiev alega que, uma vez que a maioria destes ataques são, em última análise, dirigidos contra a população civil, são crimes de guerra. Euronews