CINEMA: Inspirado em Oscar Wilde, “A Substância” critica a cultura ao corpo

Por - Andye Iore

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“A Substância” é um dos grandes filmes do ano. Apesar de não ser blockbuster. No enredo, pop star com idade avançada (Elizabeth/Ela1) é demitida de programa para ser substituída por uma apresentadora mais jovem (Sue/Ela2).

Ela1 recebe uma mensagem misteriosa prometendo “uma melhor versão de si mesmo…”. O que é uma droga (a tal substância) produzida no mercado negro farmacêutico. Preocupada em cair no esquecimento, ela aceita e injeta o produto nela. O que gera um novo corpo, mais jovem e belo.

“A Substância” relaciona clonagem, feminismo, cultura ao corpo, ginástica, moda, consumismo, dieta, etarismo, ganância, vingança, vícios, saúde mental, entre outros. Muitos com semiótica nas cores de detalhes.

Ela1 se sente cada vez mais envergonhada de quem se tornou, da Ela2. Não mais das imperfeições do corpo e sim da personalidade agora. Ou seja, a original Ela1 não tem mais o corpo perfeito, mas melhorou da “cabeça”. Enquanto a Ela2 é gostosona, mas podre da cabeça, uma pessoa ruim e fútil. E uma passa a odiar a outra, sem respeitarem as regras da Substância.

LIVRO – “A Substância” é daqueles filmes que quanto mais embasamento o público tiver, mais vai entender. A principal referência não tem citação nenhuma. O filme é inspirado no clássico livro “O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, de 1890. No enredo, um homem faz pacto com o diaño para que sua beleza permaneça eterna enquanto um quadro com sua pintura envelheça, com seus males.

 

Outra “indireta” do filme é sobre as cirurgias plásticas. As mulheres buscam ficar mais bonitas, mas tem efeito contrário. Ficam com o rosto deformado e até parecendo monstros. É o que acontece com a Ela2, num ato desesperador, tentando manter a beleza.

Certamente, você tem algum amigo(a) desses “ratos de academia”. Que curte postar fotos e videos malhando. Fotos de salada. Achando que está abafando. Quando, na verdade, está com a cabeça ruim, só, cheio de problemas. Daquele que, às vezes, posta foto de chocolate dizendo que saiu da dieta e vai ter que compensar na academia. E, desde quando chocolate é maléfico? Há quem coma chocolate, bacon, e é feliz. Tem a cabeça boa. A pessoa não faz academia, não cultua o corpo, mas faz coisas boas para ela mesma e para a sociedade. E não sente culpa por sair da dieta. Se o frequentador da academia tivesse uma cabeça boa, não sentiria tanta vontade de externar para pessoas com suas fotos. Ela faria a academia para ela mesma e não para exibição numa rede social. É o que indica Ela2 em “A Substância”.

ALERTA: o final do filme é grotesco. Descamba num trashmovie supergore que faz até com que pessoas desacostumadas com cenas fortes, saiam do cinema.

“A Substância” tem 2h20 de duração, elenco com Demi Moore, Dennis Quaid, Margaret Qualley. O roteiro e direção são da francesa Coralie Fargeat. Esse é o segundo filme dela. O Primeiro, “Revenge” (2017), também relaciona questões feministas com violência.“A Substância” está em cartaz em Maringá no CineFlix, do Shopping Cidade Maringá, com sessão única às 19h.