Que eu saiba esta foto nunca foi publicada. Por uma razão simples. Era para ser a foto do empresário Amorim Pedrosa Moleirinho com o prefeito João Paulino Vieira Filho. Mas um “papagaio pirata do Ceará” resolveu dar o ar de sua graça, sorrateiramente ficou atrás dos dois com uma cara de puro deboche e por este motivo O Jornal não a publicou. O “papagaio” era o colunista Francisco Timbó de Souza. No entanto, trata-se de foto histórica. Os três, cada um por um motivo, foram figuras proeminentes de Maringá nos anos 60, 70 e 80.
João Paulino, o JP, por razões óbvias: foi prefeito dez anos em dois mandatos e ainda na primeira gestão emplacou o sucessor Luiz Moreira de Carvalho. JP na primeira administração trouxe a água e asfalto para a cidade, que vivia de água de poço e ruas poeirentas. Só o quadrilátero central era pavimentado com paralelepípedos. Ele foi grande entusiasta pelo futebol (incentivou quando promotor em Mandaguari o time daquela cidade que foi campeão do Norte e disputou o título estadual com o Coritiba) e na condição de prefeito foi o responsável pelos anos de glória do Grêmio de Maringá, por dar apoio do poder público para a formação do time.
O primeiro mandato dele foi no começo dos anos 60. O segundo no final dos anos 70. Neste JP teve ainda mais trabalho porque o antecessor, Sílvio Barros entregara a cidade para a farra das imobiliárias que criaram dezenas de loteamentos sem estrutura e muitos sem respeitar o primeiro plano diretor da cidade. JP consertou a esbórnia e criou um segundo plano diretor que permitiu a cidade expandir até hoje sem comprometer o seu traçado urbanístico. Sílvio também tinha iniciado o novo prédio da Câmara numa praça ao lado da Catedral. JP derrubou nas primeiras semanas de mandato. Praça era praça e construir prédios nela era arruaça.
Amorim Moleirinho foi um empresário ligado ao Frigorífico Central. Arrumou título de comendador. Os dois viraram nomes de avenidas na cidade.
E o Francisco Timbó de Souza? O cearense Francisco Timbó de Souza foi um dos personagens mais polêmicos de Maringá durante os anos 60 e 70. Começou líder estudantil secundarista. Ganhou fama de comunista sem nunca ter sido. Era um radical. E por isso era considerado um grande subversivo. Quando chegava num congresso estudantil todo mundo ficava apavorado. Principalmente a situação. Timbó era um dos comandantes da oposição. Fosse qual fosse.
Eu devo a ele a minha primeira saída de casa para Curitiba. Houve congresso estudantil da Upes no Colossinho em Londrina, em julho de 1971. Eu perdi o interesse naquilo. Mas quando cheguei em Londrina soube que eu seria o secretário-geral da Upes na chapa de oposição. Timbó apeou da chapa de oposição o Provino Pozza e condicionou a troca por meu nome pelo apoio da bancada de Maringá. O presidente da chapa aceitou porque Maringá tinha os votos necessários para eleger a oposição contra Daniel Catani, de Pato Branco, apoiado por Gilberto Alvarenga de Curitiba.
Timbó foi eleito vereador em 1974 e foi a maior pedra no sapato do Sílvio Barros que tinha “conquistado” quase todo legislativo. Sílvio que era meio maluco entrou com um projeto para construir um sanitário público em sua casa na rua Martim Afonso na Zona Dois, alegando que o povo que ia lá para falar com ele queria usar os sanitários de sua casa e a coisa não estava ficando legal. O problema, além de insólito, era que a casa nem era dele. Era alugada e pertencia ao médico Naby Zacarias. Foi o maior rolo. Virou notícia nacional. Timbó fez o maior fuzuê. E o banheiro não foi construído. Quem fosse na casa do Sílvio Barros e sentisse vontade de evacuar teria que antes ou depois de falar com o prefeito procurar um terreno baldio que havia por perto.
Timbó foi o grande opositor de Sílvio Barros. O prefeito alegava que não adiantava ter a Câmara ao seu lado se ela tinha um anarquista louco como o Timbó. Mas ele não era louco não. Em 1972 eu estava aprendendo a dirigir e estávamos todos num clube de boliche que havia na avenida Brasil. Era um local onde as garotas que não gostavam de boliche iam se encontrar para conhecer rapazes que gostavam de boliche, mas não se incomodavam de mudar a programação se a conversa fosse boa. Na realidade, muitos rapazes não gostavam de boliche. Era uma hora da manhã, todos estavam bêbados menos eu. Timbó disse: “Dê o carro para o Edilson que está sóbrio e tem juízo”. Entraram três no banco de trás e dois na frente.
Timbó só se esqueceu que eu ainda não sabia dirigir muito bem. E não estava tão sóbrio e nem tinha tanto juízo assim, porque peguei a direção do Fusca e o carro saiu ziguezagueando como também estivesse bêbado, mas em maior velocidade. Quando fiz a curva para entrar na avenida Duque de Caxias em direção da Tamandaré o Fusca inventou de fazer a curva com duas rodas. Timbó começou na hora a gritar no banco de trás: “Ele vai nos matar, ele vai nos matar. Pare o carro que eu quero descer!”. Eu parei, claro. Todo mundo dentro do Fusca estava com os olhos arregalados e tinham curado a bebedeira. Um japonês que estava ao meu lado no banco de passageiros na frente desceu, foi até um poste e vomitou tudo que bebeu e comeu.
Timbó depois fez vestibular e entrou para o curso de Direito da UEM. Eu fiz seis meses depois dele. Tempos depois nos formamos. Ele virou advogado. Eu continuei jornalista. Faz uns 40 anos que não o vejo. Principalmente porque para surpresa geral da nação ele mudou da água para o vinho. De um boêmio inveterado se transformou num senhor de respeito. Pelo menos foi o que me disse há alguns anos o Massao Tsukada. Que foi um grande amigo do Timbó.