Antes de alguém pensar que estou sugerindo baixar o sarrafo no poeta, romancista e jornalista Paulo Leminski, que faria 78 anos no dia 24 de agosto, adianto que se trata de pixação do próprio poeta nos muros da cidade.
Era um provocador. Estava sempre desafiando. E produzindo. Nem o concretista Decio Pignarati entendia as mudanças bruscas do poeta.
“É difícil falar do Leminski.
Um dia é prosador radical,
outro é professor de cursinho,
outro aparece como lutador de caratê,
depois vira poeta e em seguida biógrafo”,
disse Pignatari numa noite na mesa do
Bar Hermes no começo de 1998.
Leminski era uma metamorfose ambulante. No tempo em que trabalhei no jornal O Estado do Paraná, escrevi sobre Leminski, sempre nesta época do ano, pelo menos umas três vezes. Mas hoje vou abordar algo que não me lembro de ter escrito em artigos anteriores. Sobre o Leminski entrevistado. Devo ter jornais velhos com três ou quatro entrevistas longas do Leminski. Duas me recordo: para o Almanaque de O Estado e o Caderno 2 da Folha de Londrina. As ideias efervescentes do poeta estão lá. Leminski falando era incandescente.
O cara era uma usina absorvendo e processando ideias contemporâneas, sem esquecer colunas do passado. Aplicava tudo à realidade em que vivia. Poucos agentes da cultura brasileira da segunda metade do século 20 tinham visão não-conformista tão aguda como Paulo Leminski.
Não é tese. Está em suas entrevistas. O único que me lembro é Caetano Veloso. Que gostava de Leminski. O poeta era uma espécie de Oswald de Andrade dos anos 70-80, metabolizando tudo. Talvez por isso morreu cedo, aos 44 anos, em 1989. Consumiu a energia de uma vida inteira pensando e produzindo, como fornalha de uma locomotiva.
Chega a ser espantoso que nenhuma editora ou editor ainda não teve a ideia de reunir estas entrevistas em livro. Seria uma grande contribuição para quem queira entender o abismo cultural em que vivemos hoje em dia.