CRÔNICA: “Sonho de um idoso com início de Alzheimer”

Por: Nelson Maimone - escritor que ocupa a cadeira 29 na Academia de Letras de Maringá - Patrono: Menoti Del Picchia

Foi um dia agitado e com muitos problemas do quotidiano ainda para serem solucionados. À noite fui me deitar cansado relembrando como num filme e matutando para encontrar soluções. Foi um sono agitado, em que estava hospedado num hotel com a família. Resolvi dar um passeio pelas redondezas, onde havia um bosque e um rio sinuoso no meio da mata. De repente, estava num vilarejo, onde não conhecia as pessoas, que eram pacatas, serenas, tranquilas vivendo o seu dia a dia, com suas famílias e fazendo os afazeres quotidianos.

Após o contato amigável com os transeuntes, pensei em retornar a meu hotel. No entanto, não me lembrava mais de sua localização e nem de seu nome. Fiquei agitado e preocupado, pois sabia que meus familiares iriam sentir a minha falta, levando-se em conta que tinha saído sem avisá-los.

Procurei na minha bolsa que levo a tiracolo, o meu celular ou algum endereço do hotel. Foram infrutíferas a minha procura e só tinha algumas anotações sem algum valor.
Vislumbrei uma família com seus filhos, uma garotinha de quatro anos e um garoto de seis, com seus pais. Fiz amizade e relatei o meu problema e ajudaram a analisar o que tinha em mãos, no entanto, de nada valeu sua procura.

No entanto, através de uma pesquisa no Google verificaram quais os hotéis que havia na redondeza e entraram em contato para constatar se um idoso estava ausente da família. Após algumas horas de espera, finalmente localizaram o meu hotel e meus familiares vieram me buscar.

 

Foram momentos de angustia e desespero estar perdido,

sem saber onde, sem pistas, sem memória para saber de

minha localização prévia, sem família, sem documentos,

pois tinha saído para um passeio matinal, um verdadeiro terror psíquico.

 

Acordei assustado e constatei que estava em casa, no meu leito, ainda com aquela sensação de desespero de estar desamparado, triste, sem nada que me pudesse identificar, nem mesmo um celular, um cartão, enfim, apesar de estar no meio de pessoas de bem, nada substitui o teu convívio familiar e seu habitat.

Quantos vivenciam problemas apesar de estarem acordados, sem achar uma luz no fim túnel. Muitos não têm família, ou se muitas vezes eles não se importam mais com os mais velhos. Assim, desperta o desespero, a falta de uma mão amiga, de um familiar, de um companheira.

Na verdade, plantando-se, se colhe e filhos que tiveram o amparo, o amor, o carinho de seus pais, com certeza nunca deixaram de fazê-los para com seus entes queridos.

Mas no meu caso, seria um aviso e Alzheimer que estaria se iniciando e para cuidar me daqui para frente e quem sabe, usando a tecnologia da inteligência artificial, implantar um chip de localização?

@nelsonmaimone