Terminado o tempo pascal, com a festa da Ascenção, a celebração de Pentecostes e da Santíssima Trindade, ingressamos nessa longa jornada do Tempo comum, que só se encerra no final do ano, com a chegada do tempo do Advento. Sua cor litúrgica já não é mais o branco do tempo pascal, mas a cor verde. Hoje, retomamos o tempo comum e celebramos seu 12º. Domingo.
O evangelista que vai nos acompanhar é Lucas, o do terceiro evangelho sinótico. Seu ano é o ano C. Foi precedido pelo evangelho de Mateus, no ano A e pelo evangelho de Marcos no ano B Se Mateus foi dirigido sobretudo para os seguidores de Jesus vindos do judaísmo, Lucas é o evangelista voltado para os não judeus, aos gentios dos muitos diferentes povos e religiões do vasto império romano. Lucas revisita os eventos do ministério de Jesus, à luz das perguntas das comunidades nascidas das viagens missionárias do apóstolo Paulo e seus companheiros, das longas estadias em Corinto e Éfeso e de sua jornada final em Roma. Lucas é ainda o evangelista da infância de Jesus, que narra o anúncio do anjo a Maria, sua visita a Isabel, o nascimento em Belém e a perda do menino na peregrinação a Jerusalém (Lc 1 e 2). É ainda o evangelho do Espírito Santo e de parábolas das mais significativas e registradas somente por ele, como a do bom samaritano (10, 25-37) e a do filho pródigo, melhor dizendo, do pai bondoso e misericordioso (15, 11-32), É ainda o evangelista atento às mulheres que acompanham Jesus desde a Galileia (Lc 8, 1-3), que o acolhem em sua casa, como Marta e Maria (10, 38-41), que não arredam o pé na hora de sua paixão (23, 27-31; 23, 49; 23, 55-56) e vão ao sepulcro para ungir o seu corpo e são as testemunhas primeiras da ressurreição (24, 1-12). É também o único a registrar os diálogos de Jesus com os dois discípulos de Emaús, no dia mesmo da ressurreição (24, 13-35). Nesse 12º. Domingo do tempo comum, o evangelho é tirado do capítulo nono do seu evangelho (Lc 9, 18-24). Neste capítulo, chega ao fim o ministério de Jesus na Galileia e tem início a parte final do seu ministério, com sua lenta subida para Jerusalém, onde vai conhecer o último embate com as autoridades do Tempo e do sinédrio, sua prisão, morte e ressurreição (Lc 9, 51ss). Jesus convoca os doze e os envia em missão: “…saíram, percorreram as aldeias anunciando a boa notícia e curando por toda parte” (9, 6). Quando voltaram, nem tiveram tempo para contar para Jesus sua jornada missionária, pois logo se juntou grande multidão à procura de Jesus, que cura os enfermos, instrui sobre o Reinado de Deus e termina ordenando aos apóstolos, face ao desamparo e à fome daquele povo: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (9, 10-17). Jesus retira-se então para orar e quando os discípulos se aproximam, pergunta-lhes: “Quem diz o povo que eu sou? Eles responderam: ‘Uns dizem que es João Batista, outros, que es Elias, mas outros acham que es algum dos antigos profetas que ressuscitou’. Mas Jesus perguntou: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Pedro respondeu: ‘O Messias (Cristo) de Deus’” (9, 18-20). Essa provocação de Jesus aos mais chegados, depois de quase três anos de convivência, era mais do que pertinente diante do que estava por vir nessa desafiante e ameaçadora subida para Jerusalém: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Depois Jesus disse a todos: ‘Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz a cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perde-la e quem perder sua vida por causa de mim, esse a salvará’” (9, 22-24). A pergunta de Jesus dirigida aos apóstolos, é também uma interpelação para nós que queremos ser seus seguidores. É só nele que reside nossa esperança em meio às tribulações porque passamos, as dúvidas e incertezas que nos cercam? A este propósito, comenta Pagola: “Por isso, quem no meio da crise religiosa deseja saber se continua sendo cristão não precisa examinar sua postura em relação ao papa, à Igreja católica ou à prática dominical. A primeira coisa é perguntar-nos sinceramente: “Creio em Jesus Cristo?”; ”Sigo-o?”, “Confio nele”? Nosso coração deixa de ser cristão, quando Cristo já não significa nada para nós. Por isso, é tão importante ouvir sempre de novo a sua pergunta: “Quem dizeis que eu sou?”, “o que significo em vossa vida?”