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Chuva de meteoros, Lua Vermelha e o primeiro eclipse lunar de 2022 que acontece na madrugada deste domingo entre os dias 15 a 16 de maio. O quinto mês do ano traz consigo diversos eventos astronômicos de grande interesse dos observadores do céu e do universo, que já deixaram o dia reservado na agenda. No entanto, podemos observar que o tema também abre um importante debate para a pesquisa científica e desperta a curiosidade do público.
Pensando em entender melhor esses fenômenos e como eles acontecem, conversamos com dois pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para explicar cientificamente esses eventos. E, claro, também a melhor forma de aproveitá-los seja no conforto do seu lar ou acampados em uma ilha.
Segundo o site TimeandDate, que realiza o acompanhamento dos eclipses solares e lunares no mundo, o evento já começa a ser visível em Curitiba (PR) a partir das 22h32 de domingo, dia 15, com o ponto máximo às 01h11 da madrugada de segunda, dia 16. O eclipse lunar poderá ser observado a olho nu pela população por coincidir com a época da Lua Cheia na América do Sul e deve acabar por volta das 03h da manhã.
Como assistir ao eclipse?
“Basta olhar para o céu”, é o que explica Dietmar William Foryta, professor adjunto ao Departamento de Física da UFPR. O eclipse lunar poderá ser observado a olho nu em todo Brasil, que terá uma posição privilegiada nesse evento. O professor explica que basta estar acordado no horário do fenômeno e tentar observar o céu da sua cidade. “A pessoa precisa apenas se preocupar com a visibilidade, as nuvens precisam colaborar para poder aparecer a lua”, explica o professor.
A previsão do tempo pode mudar a qualquer momento. No entanto, no site de meteorologia Climatempo, já é possível ver que a previsão para a noite do dia 15 e a madrugada do dia 16 será com algumas nuvens. “Caso esteja nublado, ela não aparece. Se estiver céu limpo, aproveite”, diz o professor.
O pesquisador nos conta que o eclipse é basicamente a interposição entre uma fonte de luz e um corpo. O eclipse solar é quando a Lua interpõe a luz do Sol, ou seja, para nós que estamos na Terra é como se a lua tampasse o sol. Já o lunar é quando a Terra interpõe a luz do Sol. Ou seja, a lua perde o seu brilho, porque a terra tampa a luz que vem do Sol.
No caso do eclipse lunar deste mês, ainda ocorrerá outro efeito chamado Lua Vermelha. O professor Dietmar conta que ao existir a interposição de um corpo com a luz do Sol, a sombra pode ser dividida em duas partes. “Uma delas é a totalidade escura e a outra como se fosse uma espécie de penumbra, onde parte dos raios de Sol atravessam a atmosfera da Terra antes de chegar à Lua”, ensina. No momento em que a luz do Sol atravessa nossa atmosfera, a luz é espalhada perdendo a tonalidade azul que conhecemos e se aproximando mais do vermelho. Logo, cria-se o efeito da Lua Vermelha.
Maio: por que ele é o mês dos fenômenos astronômicos?
A professora Roberta Bartelmebs, do Departamento de Educação, Ensino e Ciências (DEC) do Setor Palotina da UFPR, explica que o mês de maio foi bem diferenciado devido aos vários eventos que citamos no início do texto. Outros exemplos são a existência da conjunção planetária, entre Marte, Vênus, Saturno e Júpiter. Esse fenômeno é quando, aparentemente, esses planetas ficam com suas órbitas alinhadas quando observados da Terra. Segundo os astrônomos, esse fenômeno já pode ser visto antes do amanhecer ao leste, logo acima do horizonte.
“Tivemos também um evento chamado chuva de meteoros Eta Aquáridas entre 6 e 7 de maio, esse fenômeno se refere a partículas deixadas pelos cometas e que formam um espetáculo bem interessante de ‘estrelas cadentes’ como conhecemos popularmente”, conta a professora.
A chuva de meteoros é um fenômeno que ocorre devido aos corpos celestes que caem constantemente através da atmosfera. “Quando a velocidade é grande o suficiente, a interação do corpo com a atmosfera emite um brilho até que este corpo perca velocidade para não produzir mais brilho”, explica o professor Dietmar. Alguns corpos celestes deixam esse rastro atrás de si, como os cometas.
E no caso dos eclipses solares?
Os eclipses lunares podem sempre serem vistos a olho nu. Mas, os especialistas reforçam: nunca olhe diretamente para um eclipse solar!
A professora Roberta explica que o eclipse solar jamais deve ser olhado diretamente, pois é possível causar queimaduras na retina. “Esse fenômeno é mais delicado e para poder ser bem aproveitado precisamos de equipamentos adequados para nossos olhos”, reforça a professora.
O professor Dietmar exemplifica que nesses casos é necessário o uso de um filtro especial. “Nada de usar óculos escuros, chapas de raio-X, fuligem de vidros, todas essas opções são mitos e perigosas”, orienta já desmistificando alguns mitos. “É importante comprar filtros solares especiais para o evento”, alerta. Ele ainda deixa o convite: “No Paraná, teremos um eclipse solar visível em 8 de abril de 2024, há tempo suficiente para investir em um filtro até lá”.
Se eu não assistir, quando verei o próximo?
Para quem não conseguir visualizar o eclipse lunar deste ano, nem tudo está perdido. A professora Roberta explica que os eclipses são raros, porque são fenômenos que necessitam do alinhamento entre a Lua, Terra e o Sol. “Esses eventos ocorrem duas vezes por ano, mas em diferentes regiões do planeta”, explica.
Quando falamos dos alinhamentos dos planetas, como o caso de Marte, Vênus, Júpiter e Saturno neste mês de maio, eles também podem ser um quanto raro. “Alinhamentos ocasionais acontecem todo ano, mas ver quatro planetas em um único alinhamento é algo bem mais raro”, explica.
No entanto, chuvas de meteoros são periódicas, devido à quantidade de corpos celestes no céu, e acontecem mais de uma vez ao ano. “Além disso, para quem não conseguir ver este ano, existem sites especializados que vão sempre nos avisar quando poderemos ver uma nova chuva de meteoros, caso percamos a que está por vir”, conta a professora para animar a esperança dos adoradores do céu.
A importância dos estudos astronômicos
A professora Roberta conta que a educação científica desses fenômenos pode ser chave para evitar alardes de pessoas que acreditam, por exemplo, que um alinhamento planetário pode trazer força psíquica para determinado signo, ou que um eclipse é sinal de azar. “No sentido de divulgação científica e desenvolvimento do pensamento científico e crítico é importante saber exatamente, ou com o máximo de precisão possível, como o mundo funciona na perspectiva científica”, conta.
Os estudos de astronomia são antigos. O nosso calendário, chamado Gregoriano, foi criado com base em um calendário astronômico que deu origem às necessidades básicas, como plantio e colheita, bem como de cultura que marcaram a sociedade civil. Um grande exemplo disso é a virada do ano. Esse grande evento é baseado na translação do planeta ao redor do Sol. “Nem sempre essa passagem segue o padrão de 365 dias para completar esse percurso, por isso que, de tempos em tempos, temos anos com 366 dias. Isso é para alinhar a natureza e o calendário civil”, explica a professora Roberta, evidenciando que a astronomia está presente significativamente em nossas vidas.
Ela conta que no nível científico, os estudos dos astros é um conhecimento muito antigo na humanidade. A evolução científica permitiu a precisão de fenômenos que antes não eram bem compreendidos. “Existem estudos que fazem uma correlação entre a ocorrência dos eclipses e mudanças na taxa de rotação da Terra, também verificações das Leis de Kepler, gravitação universal e alguns estudos ligados à meteorologia e emissão de aerossóis com o impacto desses níveis no brilho da Lua durante um eclipse”, conta.
Partindo dessa perspectiva de estudar o nosso universo, o professor Dietmar conta que na própria UFPR existe um projeto de extensão universitária que trata da astronomia e sua divulgação, o “Projeto Astro: Observações e Divulgação de Astronomia”. “Este projeto faz parte do Programa Centro de Divulgação de Física, com outros projetos irmãos”, diz. Há também o projeto de extensão “AstroPop: Educação em Astronomia e divulgação científica”, do Setor Palotina da UFPR.
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Por Pedro Macedo
Edição: Chirlei Kohls