Em Londrina, Lula fala em ‘golpe no fascismo’ nas eleições de outubro

Em discurso no assentamento Eli Vive, ex-presidente ressaltou necessidade de combater a pobreza: “Fome é uma doença que não dói aos olhos de quem não sente”

Em Londrina, Lula fala em ‘golpe no fascismo’ nas eleições de outubro 
                
                    Em discurso no assentamento Eli Vive, ex-presidente ressaltou necessidade de combater a pobreza: “Fome é uma doença que não dói aos olhos de quem não sente”

foto: Filipe Barbosa

Combater a fome, recuperar a soberania nacional e derrotar o fascismo são prioridades apontadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um eventual novo mandato. Lula abordou os temas no último sábado (19), em discurso no assentamento Eli Vive, em Lerroville, distrito de Londrina, durante o evento Jornada de Solidariedade: Rumo aos Comitês Populares, iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em apoio à sua candidatura.

O evento reuniu cerca de 7 mil pessoas, segundo o MST. Acompanharam a visita a presidente nacional do PT, deputada federal Gleise Hoffman; o ex-governador Roberto Requião, recém-filiado ao PT e pré-candidato ao governo do Paraná; o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile; o economista Eduardo Moreira e a chef de cozinha, apresentadora e ativista da alimentação saudável Bela Gil.

Foi a primeira visita de Lula ao Paraná desde que ele saiu da prisão, dois anos e quatro meses atrás. Em seu discurso, o ex-presidente lamentou a volta da fome e o aprofundamento da insegurança alimentar entre os brasileiros.

O Paulo Freire dizia que toda criança que come fica inteligente. Porque se a criança não come ela não tem sequer capacidade de desenvolver a sua inteligência. E toda pessoa que come fica bonita. Toda pessoa que está com fome não pode ficar bonita porque a fome é feia e a gente não pode se acostumar com a fome. A fome é uma doença que não dói aos olhos de quem não sente. É uma das coisas mais bárbaras que a humanidade deixou acontecer com ela. E é mais grave porque a gente tem capacidade de produzir alimento para todos os seres humanos e, mesmo assim, ainda tem 900 milhões de seres humanos que vão dormir todos os dias sem comer. E só no Brasil, além de 19 milhões de pessoas que estão passando fome, você tem mais 116 milhões de pessoas que estão com problema de insuficência na sua necessidade de segurança alimentar”.

O ex-presidente destacou que a crise alimentar ocorre pela queda ou falta de renda, porque “não tem dinheiro para as pessoas comprarem”. “Todo mundo adora entrar no supermercado e comprar com fartura tudo aquilo que ela precisa, levar para casa para sustentar a si, sua família e, quem sabe, guardar um pouquinho para quando a gente passear lá e visitar vocês”.

Lula criticou Jair Bolsonaro (PL) e o ex-juiz e pré-candidato à presidência Sérgio Moro (Podemos), que, de acordo com ele, desconhecem a realidade brasileira.

Essa gente, me desculpem, não está preparada para cuidar desse país, porque a primeira coisa que tem que fazer é entender: entender como é que vivem as pessoas, entender a alma de cada um quando está desempregado. Porque na vida da gente, quando está tudo bem, é maravilhoso, mas quando as coisas estão ruins, às vezes as pessoas desaprenderam a ser solidárias, as pessoas foram perdendo a sensibilidade. O humanismo está perdendo para o algoritmo. Nós que temos alma, pensamento, sentimento; nós que deveriamos ter só afeto, estamos perdendo para os algoritmos”, declarou.

Luiz inácio Lula da Silva e Roberto Requião PT

Nós temos uma fábrica de mentiras nesse país, contando mentira todo dia, 24 horas por dia. O Bolsonaro conta sete mentiras todo santo dia. E quando não está contando mentira está fazendo desgraça, vendendo o país, quebrando o país. Esse cara não visitou uma família que morreu de covid; esse cara não teve uma palavra de afeto para ninguém que morreu; esse cara desrespeitou a ciência; esse cara montou uma verdadeira quadrilha no Ministério da Saúde para comprar vacina, mesmo negando a vacina”.

Para o ex-presidente, tanto o atual governo quanto o Congresso Nacional estão alinhados com pautas “anti nacionais” e “anti povo”. Ele releva planos de retomar a política externa adotada em seus governos anteriores.

“Nós precisamos recuperar a soberania brasileira. Um país soberano cuida do seu povo; um país soberano cuida da educação, cuida da saúde; num país soberano o governo decide tomar conta da suas fronteiras, das suas riquezas minerais, das suas florestas, das suas águas, dos seus alimentos. Um governo soberano é aquele que cuida do seu povo em primeiro lugar e depois fica quiet, ou vai tentar ajudar os outros que precisam mais do que ele. É por isso que tenho vontade de recuperar aliança na América do Sul, voltar a ter uma relação com a África, porque o Brasil pode ajudar o povo africano, o Brasil tem uma dívida histórica de 350 anos com o continente africano, 350 anos de escravidão e a gente ainda vive nos dias de hoje o preconceito igual a gente via 100 anos atrás”, lamentou.

Sobre a política econômica, Lula afirmou que os mais pobres serão o centro. “Eu tenho tentando simplificar porque você não pode dizer tudo que vai fazer (em política econômica), se disser você não faz. Então eu tenho dito o seguinte: a solução nossa vai ser, primeiro, colocar o pobre no orçamento. E a gente vai, em contrapartida, colocar o rico no imposto de renda. Ele vai ter que pagar de acordo com o que ele ganha”.

‘Comida é ferramenta muito poderosa de transformação’

A apresentadora, chef de cozinha e ativista Bela Gil destacou a importância da alimentação saudável como garantia de exercício pleno da cidadania.

foto: Cecília França 

A comida é uma ferramenta muito poderosa de transformação, política, econômica, social, ambiental, cultural, nutricional. Comer é um ato político. A gente faz política com a comida, para o bem ou para o mal. E para isso acontecer é muito importante que todos e todas tenham a oportunidade de escolher o que comer, a oportunidade de escolher não colocar veneno no prato, a oportunidade de escolher uma alimentação mais saudável”.

Bela lembra que essa escolha está inacessível em um País onde 19 milhões de pessoas passam fome e aponta a democratização da terra como essencial para superarmos a insegurança alimentar. “Acho fundamental pensar no combate à fome para a gente fazer que todas as pessoas tenham acesso a uma alimentação saudável. Para isso acontecer tem que pensar na reforma agrária, a gente tem que combater o mal pela raiz. Porque a gente sabe de onde vem nossa comida: ela vem da terra. E a gente vive num país onde a concentração de terra é enorme, 47% da terra no Brasil está ma mão de 1% da população fundiária. Isso é um absurdo”, finalizou.

Matéria: Cecília França – Lume Rede de Jornalistas – Londrina