PADRE LEOMAR MONTAGNA: Reflexão: Liturgia do III Domingo da Quaresma

Encontrar um poço no deserto é uma riqueza. Dentro de cada um de nós há um poço, um mistério...

fonte: Arquidiocese Maringá

Na Liturgia deste III Domingo da Quaresma, veremos, na 1a Leitura (Ex 17, 3-7), que o povo, no deserto, encontra obstáculos. Diante destes, percebemos dois tipos de atitudes:
– Atitudes do Povo: o povo estava sedento de água. Hoje está sedento de quê? O povo murmurava: precariedade dos meios, dúvidas na fé, tentado a voltar atrás, perde a esperança. Deus não desiste do sonho, renova a fé, não desiste. Que atitudes tomar diante de quem vive se desgastando, provocando males, que abandonam facilmente a caminhada já que não possuem raízes de fé profunda, pois dizem: “Deus está ou não no meio de nós?” (Só enxergam o momento).

– Atitudes de Moisés (Líder): Não fica preso só ao momento presente. Toma a posição de Deus. Passa adiante do povo. Não faz o que o povo pede ou quer no momento, mas vê mais longe, dá ao povo não o que pede ou quer, mas o que precisa. O que o povo precisa? Fazer a experiência de Deus. “Eu estarei lá diante de ti, sobre o rochedo” (Deus: força, defesa, apoio).

Moisés é cada um de nós quando clama ao Senhor, pede a força do alto para mudar aquilo que é impossível para as pessoas porque sabe que, para Deus, tudo é possível; intercede, pede discernimento, meios etc.; acredita que Deus é maior do que qualquer crise, condicionamento; não discute ou provoca; faz, multiplica o bem, acredita e afirma: Deus está no meio de nós, nós vamos vencer!

Na 2ª Leitura (Rm 5, 1-2.5-8), o Apóstolo Paulo confirma que Deus está no meio de nós, por isso caminhamos com expectativas para o futuro: “A esperança não decepciona. Sei em quem acreditei”. Cristo é o caminho para o qual devemos olhar. Se olharmos para nós mesmos, vamos afundar, como Pedro: “Afasta-te de mim, Senhor… Senhor, socorra-me”. Quando éramos fracos, pecadores, ímpios, Cristo morreu por nós. Os grandes convertidos ficam, também, comovidos por este amor. Na fragilidade dos irmãos, não é justo identificá-los com o mal: toda pessoa é maior do que sua culpa: “Não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva”. Nossa missão não é apontar quem não merece se aproximar do sagrado, mas chamá-los à salvação. Peçamos os meios e a forma certa.

No Evangelho (Jo 4, 5-42), vemos um ensaio de educação da fé, uma pedagogia de Jesus com a Samaritana. Jesus a conduz pouco a pouco a uma verdadeira revisão de vida, que tem seu ponto de apoio no mais profundo da consciência. Só quem tem consciência do próprio pecado sente a necessidade da salvação, reconhece em Jesus o Messias e pode tornar-se um verdadeiro adorador de Deus. No encontro de Jesus com a Samaritana, vemos algumas posições:
– Posição de Jesus (Deus): supera o preconceito de raça (entre Judeus e Samaritanos), de discriminação (não se falavam segredos, coisas sérias, para a mulher, a relação era de malícia), e do nacionalismo religioso (uns adoravam a Deus no templo, outros, no monte).
– Posição da Samaritana (Comunidade): situação – balde vazio. Busca o quê? Todos buscam algo que realize. Às vezes, encontram águas paradas, racionada (bens de consumo, oportunismo), ficam com o mais fácil, o mais cômodo.
Jesus é a resposta, a solução, traz água viva (Espírito Santo). Faz brotar uma fonte em cada um de nós (Deus não economiza). A partir do contato com Cristo, encontramos água (força do alto). Onde? Nas diversas práticas do apostolado, dos sacramentos, da Palavra e da Comunidade.

Jesus, cansado, pede: “Dá-me de beber”. Tem sede de quê? Valores, justiça, vida sadia, perdão, amizade etc.

Jesus se aproxima e descobre o que de bom cada um traz consigo, conhece as angústias do coração. Neste contato, pede uma revisão de vida, faz sentir necessidade de salvação, de mudança.

Samaritana (nós): pensa pequeno, só no momento: “Dá-me água para que não tenha que vir tirá-la”. Quais são nossas preocupações no momento: coisas profundas ou periféricas?
Jesus: pensa sério: “Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e verdade”. Adorar em Espírito e verdade é fazer o bem, fazer o bem é nossa missão, é a missão de Jesus: “Ele passou a vida fazendo o bem e curando todos os males” (At 10, 37). Deus não é só um quebra galho, é a nossa segurança.

Samaritana (nós): Evangeliza, vai anunciar, reúne o povo em torno de Jesus. Faz Jesus acontecer no meio dos considerados maus, hereges etc. Jesus permaneceu com eles (enquanto que Jesus, no judaísmo, fora recebido com hostilidade, pois eles se consideravam bons). Jesus – poço de graça e salvação. Encontrar um poço no deserto é uma riqueza. Dentro de cada um de nós há um poço, um mistério.

A Comunidade é um poço que gera vida, na qual se faz a experiência com Deus, se encontra a salvação: “E muitos outros creram por causa da palavra”. Mas, para o evangelizador (Samaritana): “Convém que Ele cresça e eu diminua”. Todos testemunhavam o crescimento na fé: “Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos estamos convictos de nossa fé. Ele é a nossa salvação”. A quem iremos? “Só tu tens palavras de vida eterna”.

Pedagogia de Jesus com a Samaritana: passos
1°) O Pastor dá o 1° passo, vai ao encontro, inicia o diálogo (v. 5).
2°) Põe-se do lado dos mais desgraçados (v. 6).
3°) Valoriza o pequeno (v. 7).
4°) Revela-se, antes, por sua missão (v.9).
5°) Faz-se oferta (v. 10-12).
6°) Não desiste frente ao desafio e ao interesse da mulher (vv. 14-15).
7°) Toca na desgraça da mulher (v. 16).
8°) Desperta a confiança e possibilita a autenticidade (v. 17).
9°) Fala da verdade que liberta (v. 18).
10°) Revela a saída, falando com segurança (vv. 21-23).
11°) Só então o Pastor se revela pelo nome (v. 26).
12°) Multiplica sua força e a mulher se torna uma missionária evangelizadora (v. 29).
13°) Une as pessoas da sua comunidade (vv. 30-42).
14°) Começa a caminhada, e a comunidade não fica amarrada à mulher, mas vai até Cristo e assume a proposta, a salvação (v. 42).

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR