Mulheres que transformaram a linguagem artística brasileira e fizeram dos palcos seus lugares de se comunicar com o mundo estarão presentes no Festival de Dança de Londrina, que acontece entre os dias 8 e 16 deste mês, na primeira edição inteiramente presencial do evento após a pandemia. Neste domingo (9), às 20 horas, a atriz e diretora Denise Stoklos apresenta no Teatro Ouro Verde sua mais recente montagem, “Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos”, espetáculo que une o ‘teatro essencial’ – linha cênica da qual é idealizadora – à obra clariceana e à voz de Elis Regina. Na segunda-feira (10), também às 20 horas, o Ouro Verde recebe mais um trabalho solo, desta vez com a atriz e performer Jéssica Teixeira (Fortaleza-CE), apresentando “E.L.A.”. A montagem nasceu a partir da investigação cênica de seu corpo que subverte padrões e de que maneira este se desdobra, desestabilizando e potencializando outros corpos e olhares.
Em “Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos”, a atriz paranaense, radicada em São Paulo, encara o desafio de interpretar a obra da escritora como forma de valorização do sujeito, com dramaturgia de Wellington Andrade e direção de Elias Andreato. Há muitos anos Stoklos foi convidada por Fauzi Arap para criar um espetáculo a partir de textos de Clarice Lispector, autora que sempre a fascinou e de quem ela já era uma dedicada leitora desde os 17 anos.
Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos:
Mas a proposta a intimidava, porque via a obra de Clarice como um universo quase inatingível. Foram necessárias dezenas de experiências com o teatro para que a atriz, que tem a mesma descendência ucraniana da escritora e hoje é reconhecida mundialmente por suas performances, sentisse a segurança necessária.
A montagem é um encontro de manifestações artísticas, resultando em uma investigação radical a respeito de como o corpo, a voz e a emoção da intérprete expressam uma palavra literária que, no caso de Clarice Lispector, empenha-se em dizer o que a todo momento beira o indizível, como ocorre no conto “A quinta história”; nos romances “Água viva” e “A paixão segundo G.H.”; e na crônica “Vergonha de viver”, por exemplo. Canções interpretadas por Elis Regina, como “Meio-termo” e “Os argonautas”, pontuam de tempos em tempos o percurso que vai da negação à constituição do sujeito. Esta é a primeira vez que Denise Stoklos participa do Festival de Dança de Londrina.
Um corpo que indaga outros corpos – Já o espetáculo “E.L.A.”, atração desta segunda-feira, evoca questões como beleza, saúde, política, feminilidade e acessibilidade, mesclando vídeo, artes plásticas e dramaturgia por meio de colagens e textos autobiográficos que estimulam a reflexão sobre a aceitação e o nosso lugar no mundo. Com a mesma tônica da edição 2022 do Festival de Dança – que nos conduz a todo momento ao questionamento “o que pode um corpo?” – a encenação traz uma experiência estética ao mesmo tempo minimalista e sofisticada. Na montagem a plateia é instigada a exercer uma autopercepção a partir da relação de cada um com seu próprio corpo, estimulando, assim, a emancipação do sujeito e, por consequência, uma relação mais lúcida e saudável com o outro e com o mundo.
E.L.A.:
“E.L.A.” é a primeira montagem solo de Jéssica Teixeira, que tem em seu currículo mais de 30 espetáculos, performances e videoperformances. A montagem passou por importantes festivais como a MIT – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e FIT de São José do Rio Preto. A direção é de Diego Landin, com textos de Jéssica Teixeira, Vera Carvalho e fragmentos de Eliane Robert Moraes e Paul B. Preciado.