Exposição “Nossa Luta” sobre a perseguição aos negros durante o Holocausto chega na Assembleia do Paraná

A exposição itinerante “Nossa Luta: A Perseguição aos Negros durante o Holocausto” foi aberta nesta segunda-feira (17), no Espaço Cultural da Assembleia Legislativa do Paraná. A mostra, proposta pelo deputado Anibelli Neto (MDB), é promovida pelo Museu do Holocausto em parceria com o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Consepir).

foto: Orlando Kissner/Alep

O anfitrião da exposição na Casa, deputado Anibelli Neto, ressaltou a importância de trazer o tema para a Assembleia Legislativa. “Dentro do mandato parlamentar, uma das nossas bandeiras é promover o radicalismo contra qualquer forma de discriminação. E hoje, quando a gente traz essa questão da perseguição dos negros na Alemanha Nazista, ela provoca a curiosidade em muitas pessoas, porque isso nos bancos escolares nunca foi objeto de estudo, nunca foi divulgado. Talvez muitas pessoas não tiveram a oportunidade de saber que existiam os afroalemães, negros que moravam na Alemanha e que foram perseguidos radicalmente por Hitler. Toda forma de discriminação deve ser extirpada, deve ser banida para que possamos ter uma sociedade mais digna e mais equilibrada”.

Para o coordenador de Igualdade Racial da Secretaria estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Eduardo de Oliveira Filho “hoje a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná recebe uma exposição ímpar, uma exposição que irá mitigar a questão do racismo que já vem na nossa história introjetada. E aqui vendo todos os quadros, todas as artes que são colocadas com o seu fator histórico, com registros, com fotos, com materiais alusivos a todo período do racismo em relação aos afroalemães, nós podemos entender que o mundo inteiro sofre há séculos com a admissão do racismo, infelizmente. E essa Casa de Leis sempre atenta, os deputados sempre atentam precisam fomentar, dialogar, falar, mitigar e trazer sempre esse assunto. Não basta sermos e lutarmos contra o racismo, precisamos de uma posição, um comportamento antirracista para conseguirmos ser uma sociedade equânime, fraterna e igualitária para todos, para todos”.

Segundo o coordenador-geral do Museu do Holocausto, Carlos Reiss, “a exposição é resultado de um material inédito aqui no Brasil. Da pesquisa publicamos um material educativo, um material para professores sobre as trajetórias dos afroalemães durante os anos do nazismo. Daí chegamos à conclusão da necessidade em transformar esse material educativo numa exposição itinerante. Essa exposição já rodou várias cidades do Brasil, inclusive já foi exposta no Senado Federal e agora, nós estamos muito honrados e muito satisfeitos com a possibilidade de trazê-la aqui a essa Casa de Leis”.

Na abertura da mostra, também participaram o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania, deputado Professor Lemos (PT), e a líder do Bloco Parlamentar Temático da Saúde Pública, deputada Márcia Huçulak (PSD).

Exposição

A Exposição dá visibilidade à perseguição sofrida pela população negra que foi pouco registrada na história, ao contrário das políticas raciais do Nazismo em relação aos judeus e ciganos. Esta minoria, embora não eliminada sistematicamente como outros grupos, enfrentou intensa discriminação, que variou do isolamento ao assassinato. Até hoje, são escassos os registros sobre a perseguição aos afroalemães.

O conteúdo foi criado em 2017 e lançado na internet como um material educativo, o que deu origem à mostra composta por 23 painéis, 5 vitrines e 5 totens com conteúdos audiovisuais. Desenvolvido em parceria com a Clínica de Direitos Humanos da PUCPR e com o Centro Cultural Humaitá, entidade pautada no estudo e pesquisa da arte e cultura afro-brasileira, o projeto dá voz a uma comunidade marginalizada e, principalmente, usa a História para aproximar os leitores de uma discussão contemporânea e bem brasileira, sobre o ódio e racismo.

A mostra retorna a Curitiba após passar pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Distrito Federal e apresenta a crescente privação dos negros desde o período colonial alemão, incluindo o genocídio de hereros e namaquas, na atual Namíbia, passando pela República de Weimar, até o nazismo consolidado.

História

Após a Primeira Guerra Mundial, Grã-Bretanha, França, Rússia, Itália e os Estados Unidos tomaram as colônias alemãs na África.  O contingente militar alemão estacionado na África, conhecido como Schutztruppen (Tropas de Proteção), assim como os missionários, funcionários coloniais e colonos de origem alemã retornaram à Alemanha com atitudes racistas.  A separação entre brancos e negros passou a ser mandatória pelo Reichstag (Parlamento Alemão) que criou uma lei proibindo os casamentos mistos nas colônias.

Após a Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes (1919), as forças vitoriosas ocuparam a Renânia (Renânia é o nome genérico de uma região no oeste da Alemanha). O uso das tropas coloniais nas áreas de ocupação com contingentes de soldados de origem africana aumentou o racismo contra os negros na Alemanha.  A propaganda racista contra os soldados negros os mostrava como estupradores de mulheres alemãs e portadores de doenças venéreas, além de outras de vários outros tipos de enfermidades contagiosas.  Os filhos de soldados negros e de mulheres alemãs eram conhecidos como os “Bastardos da Renânia”.

Os nazistas, mesmo quando ainda eram parte de um movimento de pequeno porte, já viam os “Bastardos da Renânia” como uma ameaça à pureza da raça germânica.  Na obra “Mein Kampf” (Minha Luta), Hitler escreveu que “os judeus trouxeram os negros para a Renânia com o claro objetivo de arruinar a raça branca, a qual odeiam, através do resultado obrigatório da bastardização”.

As crianças afroalemães (ou seja, uma pessoa com ancestrais brancos e negros) eram marginalizadas na sociedade alemã, isoladas social e economicamente, além de não terem permissão para frequentar as universidades.  A discriminação racial também os proibia de buscar muitos tipos de trabalho, aí incluído o serviço militar.  Com a ascensão dos nazistas ao poder, os negros se tornaram objeto de políticas raciais e populacionais discriminação.

ASC/ALEP