Fiocruz e instituição chinesa assinam acordo para criação de centro de prevenção de doenças

A cooperação entre Brasil e China na saúde não é nova, mas ganhou força nos últimos anos. Na Fiocruz, ela começou a ser impulsionada a partir da visita da delegação liderada pelo cientista George Fu Gao, então diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/China), em junho de 2017.

foto: Fiocruz

O acordo já vinha se delineando desde antes da pandemia, mas sofreu atrasos devido à emergência sanitária e por questões políticas. Com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a reaproximação de Brasil e China, o Memorando de Entendimento (MdE) tomou novo impulso, mostrando que as relações dos dois países podem se aprofundar também na área de saúde. Na cerimônia de assinatura, a CAS destacou que a visita de Lula e a assinatura do acordo mostram a importância de uma parceria ampla e de alto nível para os dois países.

“A cooperação sino-brasileira em ciência e saúde alcança outro patamar com esse acordo. A pesquisa conjunta em doenças infecciosas nos laboratórios chineses e brasileiros, a troca permanente de experiências e conhecimentos, a qualificação ainda maior da vigilância epidemiológica ganham com o fortalecimento da nossa ciência e capacitam mais os países na preparação para novas emergências sanitárias, cada vez mais comuns”, disse o presidente da Fiocruz, Mario Moreira. “Compartilhamos com a Academia Chinesa de Ciências (CAS) e a Academia Mundial de Ciências (TWAS) a visão dos bens de saúde como bens públicos, tais como vacinas, medicamentos e testes diagnósticos. O desenvolvimento e produção desses bens precisa se descentralizar e servir ao fortalecimento dos sistemas de saúde para diminuir a vulnerabilidade global. Vamos caminhar juntos nessa direção que fortalece a posição internacional da Fiocruz”.

O acordo prevê a formação de um grupo de trabalho para implementar o centro nos dois países. Cada sede funcionará com pesquisadores das duas nacionalidades. Nelas serão desenvolvidos trabalhos de pesquisa básica e translacional, pesquisa clínica, treinamento e investigação, comunicação internacional e intercâmbio de pesquisadores. Serão realizados projetos de pesquisa conjunta; formação e desenvolvimento de recursos humanos em diferentes níveis (como técnico, mestrado, doutorado e pós-doutorado); intercâmbio de informações, tecnologia e materiais; organização de seminários e conferências; publicações conjuntas de artigos científicos; desenvolvimento tecnológico de novas vacinas, anticorpos terapêuticos e medicamentos para doenças infecciosas agudas e crônicas; e colaborações em medicina tropical. “Este acordo reforça a cooperação em saúde pública”, comentou Shi Yi, diretor-executivo do CEEID que mediou a série de seminários entre Fiocruz e a Academia Chinesa de Ciências no ano passado.

Em Pequim, o centro funcionará no Instituto de Microbiologia. No Brasil, ele ficará no prédio do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), que está sendo construído em Manguinhos. O prédio tem previsão de conclusão para o final de 2024, com o centro devendo começar a funcionar no início de 2025. Até lá, haverá tempo para selecionar os pesquisadores que irão e os que virão.

“A importância maior desse memorando é que pela primeira vez vamos estabelecer dois centros físicos, que serão usados por pesquisadores brasileiros e chineses. Estamos transformando eventos que eram de curta duração, como as visitas de pesquisadores, em atividades permanentes. A ideia é ter aqui cientistas chineses por longos períodos, um mês, um ano, dois anos”, afirmou o coordenador do CDTS, Carlos Morel, que participou da elaboração do memorando. “Vamos abrir programas de intercâmbio, de treinamento e recrutamento de pessoas. Há muitos pesquisadores chineses querendo vir para cá. Mas não é tão fácil encontrar brasileiros querendo ir. Primeiro, é preciso algum tempo para estudar a língua, apoio para arrumar apartamento. Tudo isso a gente vai discutir até a inauguração”. Durante esse período os dois lados vão buscar também apoio público e privado.

Entre as doenças que serão estudadas, algumas atingem os dois países, como a Covid-19. Outras, mais o Brasil, como a febre amarela, mas que vem atraído o interesse chinês. Com o aumento de obras chinesas de infraestrutura na África, alguns de seus trabalhadores têm contraído febre amarela – uma enfermidade para a qual a Fiocruz tem know-how, já que produz a vacina. Por outro lado, China e Índia produzem grande parte do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) usado no mundo. E o Brasil pode aprender com eles.

Parceria

A cooperação entre Brasil e China na saúde não é nova, mas ganhou força nos últimos anos. Na Fiocruz, ela começou a ser impulsionada a partir da visita da delegação liderada pelo cientista George Fu Gao, então diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/China), em junho de 2017. Naquele mesmo ano, em 1º de novembro, Gao e Nísia Trindade Lima, que era presidente da Fiocruz, assinaram um Memorando de Entendimento para o desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa e tecnologia, diante do ministro da Saúde no Brasil, Ricardo Barros, e do vice-ministro chinês, Guoqiang Wang. A partir daí, cientistas e especialistas da Academia Chinesa de Ciências e da Fiocruz têm mantido comunicações constantes, realizando seminários conjuntos, intercâmbios acadêmicos e artigos em coautoria.

Cerimônia

O Memorando de Entendimento para a criação do Centro Sino-Brasileiro de Pesquisa e Prevenção de Doenças Infecciosas foi assinado no Instituto de Microbiologia, em Pequim, pelo seu diretor Wei Qian e pelo presidente da Fiocruz, Mario Moreira. Participaram ainda autoridades como George Fu Gao e Yi Shi, diretores do Centro de Excelência CAS-TWAS para Doenças Infecciosas Emergentes; Bolun Ning e Zhenyu Wang, do Escritório de Cooperação Internacional da Academia Chinesa de Ciências; e Victor Tibau, chefe do setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da embaixada brasileira em Pequim. FIOCRUZ