Como é que um dos países ricos do mundo, a França, enfrenta a guerra sanitária que o seu presidente acabou de declarar?
“Acabámos por arranjar máscaras, mas é só o que temos. Faltam batas, falta gel hidroalcoólico, toucas de proteção, calçado próprio…“, conta-nos Sabrina Ali Benali. Esta médica nas urgências de um hospital parisiense não hesita em afirmar que o sistema de saúde francês não está preparado para o que aí vem.
“Partilhamos da ansiedade de toda a gente. Há vários testemunhos de enfermeiras que fazem domicílios e que dizem que não têm armas para esta guerra. Trabalham numa angústia permanente. Há uma tendência para achar que devemos assumir o papel de heróis. Eu não, não sou heroína nenhuma. Tomei há pouco um ansiolítico para trabalhar. Tenho medo como os outros“, desabafa.
A verdade é que há vários meses que o sistema de saúde francês tem sido sacudido por múltiplos protestos. Sucedem-se as greves contra cortes orçamentais, as críticas contra a degradação do atendimento e o interminável tempo de espera para uma simples consulta. Agora acrescenta-se a forma como as autoridades responderam ao que se tornou numa pandemia.
“Eles já deviam ter fechado tudo mais cedo. As medidas chegam com 15 dias de atraso. Nós estávamos à espera que fechassem as escolas, Já foi tarde demais. E agora é o confinamento total. Pedi ao meu marido que me comprasse sacos do lixo para tentar improvisar batas descartáveis. Vivemos no sétimo país mais rico do mundo e chegámos a este ponto“, diz-nos Sabrina.
Os dados oficiais publicados o ano passado colocam a França 25% acima da média europeia em matéria de despesas de Saúde e um investimento de 11% do PIB no setor. Os contestatários apontam que a realidade atual colocou a nu a insuficiência desses números.