Por: José Carlos Leonel
O primeiro capítulo da história do novo time de futebol de Maringá, o Aruko Sports Brasil, tem nuances que só não serão considerados surreais no futuro porque estão registrados em vídeo.
A partida aconteceu num sábado de muita chuva depois de um longo período de estiagem, e se espera que isso seja sinal de fartura. O estádio, que tem histórico de recordes de público estava vazio por conta de uma pandemia que já fez quase 600 mil vítimas no Brasil, mas que está sendo derrotada por duas gotinhas. Enfim, tinha ainda o adversário batizado com o nome do inesquecível filme de Kubrick que deu origem ao apelido de Carrossel Holandês à temível seleção dos Países Baixos de 1974, mas que neste 2 de outubro serviu de vitamina C para o clube maringaense que nasce com DNA japonês, mas que garante ter coração bem brasileiro.
* REVEJA O JOGO NA ÍNTEGRA NO CANAL YOUTUBE SAMURAI BLACK TV
O Aruko, nome que muita gente ainda não aprendeu a pronunciar, nem o Google em português, e que significa “caminhar lado a lado”, deu o pontapé inicial de sua trajetória em direção ao incógnito pontualmente as 15h30. Nem o sagrado tapete do Willie Davids que ontem estava muito molhado intimidou o Samurai que só precisou de 45 minutos para liquidar a fatura.
O PRIMEIRO GOL PARA VALER
O primeiro gol da história profissional do Aruko saiu quando o Laranja Mecânica de Arapongas começava a gostar do jogo e já tinha chegado bem perto de abrir o placar por duas vezes. Só não o fez porque o goleiro Thiago Santos fez duas grandes defesas.
Passavam poucos segundos dos 37 da etapa inicial, o Aruko tinha acabado de perder um gol e o Laranja acabou pecando por excesso de cautela. O goleiro visitante cobra o tiro de meta curto com o zagueiro camisa 4; o beque devolve ao arqueiro e recebe a pressão de um ninja; afobado, o extremo defensor devolve ao desajeitado que se livra com um chutão em direção ao meio do campo, mas a bola termina nos pés de um Samurai que a lança novamente ao ataque; no caminho, um arukês dá um golpe de mestre; um corta luz que engana um laranjinha e deixa a pelota chegar ao candidato a artilheiro; ele invade a área do gol posicionado na Prudente de Moraes e quando se prepara para bater em gol, chega o becão 4 que já estava só o bagaço e cai derrubando o atacante André Carlos. É penalti.
Reveja o lance que originou o primeiro gol e a cobrança de penalti – Narração: Marcelo Henrique Galdioli
O atacante que sofreu o penal pega a bola, coloca na marca da cal, olha atentamente para o goleiro, corre para a bola, ameaça uma paradinha, dá um pulinho, espera o guarda-metas começar a cair, e de direita desloca o desloca com um chute rasteiro no meio do gol.
Foi um golaço, foi preciso, foi de número 9, foi de centro-avante que sabe fazer o seu dever.
ONDE CABE UM CABEM DOIS
Depois do primeiro gol o Aruko passou a pressionar mais ainda, e após uma sequência de três escanteios saiu o segundo. Alef cobra o corner que encontra André Carlos na marca do penalti; a cabeçada não é precisa, mas encontra livre o lateral Alex Rocha que fuzila o goleiro. O primeiro tempo termina com o Laranja tentando descontar, mas ficou nos 2 a 0 para à favor do Aruko.
Reveja os dois gols do Aruko com a narração de Marcelo Henrique Galdioli
DESPERDÍCIO NO SEGUNDO-TEMPO
O segundo-tempo trouxe logo de cara uma grande lição oriental para o Aruko. Não desperdiçar.
Com apenas um minuto de jogo os Samurais conseguem outro penalti, e mais um gol não só liquidaria definitivamente a fatura, mas também consolidaria o resultado como goleada. Dessa vez não foi o artilheiro que pegou a bola para cobrar; antes dele, o atacante número 11 Alef se posicionou em frente à meta e pediu a bola. “Esse é meu”, mas não foi. O canhoto colocou a bola na marca do penalti, contou os passos em marcha ré, correu e chutou por cima do gol lá na avenida Colombo.
Depois disso o Aruko seguiu jogando melhor, criando chances, mas a partida terminou mesmo com o placar do primeiro-tempo. Final Aruko Sports Brasil 2 x 0 Laranja Mecânica. Na quinta-feira, 7, o Aruko volta a campo as 15h30 em Cambé para enfrentar o outro time de Arapongas.
UM BOM INÍCIO SOB A SOMBRA DA HISTÓRIA
Foi um bom início já que o que se vê em campo e fora dele também, dá mostras de organização nos trabalhos. O jogo de ontem foi de um nível nunca visto antes na terceirona do paranaense. O adversário valorizou, mostrando que também é uma novidade que promete boas coisas, e o palco majestoso também colaborou para deixar uma boa impressão. Com Sturion no comando e sob a direção de um campeão como Alex Santos, a esperança de ver bom futebol por aqui, volta a renascer.
O clube vai ter que dar um passo de cada vez, e se hoje encontrou descida, tem que saber que nem sempre vai ser assim. No caminho encontrará campos ruins e adversários inferiores tecnicamente querendo fazer valer o mando na base da raça. A missão anunciada é chegar à primeira divisão em 2023; antes é preciso conquistar vaga na segundona, e sair dela é mais difícil ainda. Não vai ser fácil, o clube já sabe, está no significado do nome. Um passo de cada vez, caminhando lado a lado para não tropeçar e não pipocar na hora que o bicho pegar.
O futebol dos novos em Maringá encontra sempre muitas sombras e delas, é difícil escapar.
O uniforme alvi-negro com detalhes dourados, lembra os históricos Grêmio Esportivo e de Esportes Maringá, times que juntos venceram três títulos paranaenses, um Brasileirão nos tempos do Roberto Gomes Pedrosa e acima de tudo, conquistaram o coração do maringaense que até hoje lamenta o triste epílogo que ainda não deveria ter sido escrito.
Muitos já tentaram e terminaram esquecidos. Agora o Aruko Samurai se junta ao MFC Dogão na luta para continuar a escrever a história que conta no futebol pé vermelho. Que ninguém se esqueça. Ela é feita de glórias.
Boa sorte.