A Organização Mundial da Saúde, OMS, saudou nesta terça-feira o que chamou de “esforços heroicos” da equipe do Hospital Al-Shifa sitiado na Cidade de Gaza. A agência expressou preocupação com centenas de milhares de pessoas deslocadas na região onde fortes chuvas causaram inundações e agravaram a crise aguda de saúde.
Em nota emitida, em Nova Iorque, o secretário-geral disse estar profundamente perplexo com “a situação horrível e a dramática perda de vidas em vários hospitais em Gaza”. Antônio Guterres disse que em nome da humanidade fazia um apelo por um cessar-fogo humanitário imediato.
Profissionais de saúde ‘fazendo tudo o que podem’
Falando a jornalistas em Genebra, a porta-voz da OMS, Margaret Harris, disse que “a chuva aumentará ainda mais o sofrimento” das pessoas em Gaza.
A porta-voz enfatizou que a agência da ONU implora para que um cessar-fogo aconteça agora.
Harris descreveu em detalhes “a terrível situação” no Hospital Al-Shifa, um foco de operações das Forças de Defesa de Israel, que afirmam que o Hamas estabeleceu um centro de comando sob o hospital. A alegação é negada pela equipe médica.
Falando dos “heroicos” profissionais de saúde, Harris disse que eles estão “fazendo tudo o que podem para continuar”, mesmo com a instalação sem energia desde 11 de novembro e com grave escassez de comida e água potável no local.
Cerca de 700 pacientes ainda estavam presentes no hospital e mais de 400 profissionais de saúde, além de cerca de 3 mil pessoas deslocadas que ali procuraram refúgio.
36 recém-nascidos nas incubadoras
Entretanto, relatos nesta terça-feira indicam que os militares israelenses se ofereceram para fornecer incubadoras ao hospital Al-Shifa, onde 36 bebês prematuros necessitam de cuidados constantes.
Cerca de seis bebês prematuros teriam morrido nos últimos três dias, pois as suas incubadoras não puderam funcionar devido à falta de eletricidade.
Evacuação ‘muito difícil’
Questionada sobre a possibilidade de evacuar os pacientes, Margaret Harris explicou que todos os que permaneceram em Al-Shifa precisavam de apoio crítico para permanecerem vivos.
Segundo ela, movê-los “seria algo muito difícil de pedir nas melhores circunstâncias”, e é muito mais difícil em meio a bombardeios, confrontos armados e falta de combustível para ambulâncias.
A porta-voz da OMS disse que “a melhor maneira seria parar os ataques agora mesmo e concentrar os esforços em salvar vidas, e não em tirar vidas”.
Doenças transmitidas pela água
Além dos feridos pelo conflito, o sistema de saúde precisa lidar com um aumento nas doenças transmitidas pela água e infecções bacterianas, causado pelas interrupções no bombeamento de esgotos e a escassez de água.
A OMS alertou na semana passada que, desde meados de outubro, foram notificados mais de 33,5 mil casos de diarreia, principalmente entre crianças menores de cinco anos, cerca de 16 vezes a média mensal.
As instalações geridas pela agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, estão mais de nove vezes acima da sua capacidade e a sobrelotação representa ainda mais riscos de saúde. Mais de 580 mil pessoas deslocadas no sul de Gaza procuraram abrigo nesses locais.
A agência afirmou nesta terça-feira que esgotou suas reservas de combustível e ficará impossibilitada de movimentar os caminhões que estão trazendo ajuda humanitária para Gaza.
Famílias de reféns em Genebra
Em Genebra, as famílias de alguns dos 238 reféns detidos pelo Hamas em Gaza desde 7 de outubro continuaram a defender a libertação dos seus entes queridos.
Foi anunciada uma reunião entre as famílias dos reféns e Mirjana Spoljaric, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Cicv, uma organização humanitária parceira da ONU.
Em um comunicado, o Cicv disse que Spoljaric também se reunirá com as autoridades israelenses e que a organização tem “feito intervenções persistentemente em nome dos reféns mantidos em Gaza, inclusive diretamente com o Hamas e com atores que podem ter influência sobre as partes”.
Número recorde de ataques à saúde
Cerca de 135 ataques a instalações de saúde foram documentados em Gaza ao longo do mês passado. A OMS disse que este foi o número mais elevado registado em um período tão curto de tempo.
A porta-voz da OMS apontou para uma “tendência crescente” de ataques aos cuidados de saúde, também observada noutros conflitos em curso no Sudão e na Ucrânia.
Ela contou a normalistas que “parece que de alguma forma o entendimento de que um hospital deve ser um porto seguro, um lugar aonde as pessoas vêm para serem tratadas quando precisam, foi esquecido”.
Segundo a agência da ONU, mais da metade dos hospitais em Gaza não funcionam devido à falta de combustível, danos, ataques e insegurança.
Os 14 hospitais que permanecem abertos mal têm suprimentos suficientes para sustentar cirurgias críticas e prestar cuidados intensivos.
De acordo com o Escritório da ONU de Assuntos Humanitários, Ocha, apenas um hospital está funcionando no norte de Gaza.
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