João, o último a escrever um evangelho, o quarto depois dos evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas, uns 60 anos depois da morte de Jesus, tem uma preocupação: que não se perca a memória nem das palavras nem dos gestos mais significativos de sua passagem entre nós e de sua presença viva nas comunidades. Em sua primeira carta às comunidades, enfatiza que escreve a partir de sua experiência muito concreta e de sua aventura no seguimento de Jesus: “… o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam é o nosso tema: a Palavra de vida” (1Jo, 1, 1). Suas comunidades encontravam-se acuadas pelas perseguições. Sofriam muito com a perda daquelas pessoas que mantinham viva a memória de Jesus, cada vez mais afastado no tempo. Os relatos iam se convertendo histórias foram sendo contadas pelos avós, que as receberam daqueles que haviam convivido com Jesus. Desânimo e perda da memória rondavam as comunidades. João traz de volta a saudação de Jesus aos discípulos escondidos e encolhidos por medo dos judeus no dia da ressurreição: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. O Papa Leão, ao saudar a multidão que jubilosa o aclamou na praça São Pedro, no último dia 08 de maio, retomou essa palavra de Jesus: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19). Emocionou-se em seguida, ao dirigir em espanhol palavras de saudades e gratidão às comunidades e ao povo de sua diocese de Chiclayo no Peru, onde serviu como missionário e depois como bispo ao longo de mais de vinte anos. O evangelista João naquele discurso de despedida de Jesus, quer trazer uma palavra de alento enraizada não em preceitos e normas, mas numa relação de amor que evoca sentimentos profundos e duradouros: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23). O Paí, o Filho e o Espírito farão em nós a sua morada. São evidentes nossa progressiva perda de memória, que já afetou os primeiros relatos recolhidos nos evangelhos. Por exemplo, aquele da viúva cujo filho Jesus ressuscita. Só sabemos que era filho único e que ela era da aldeia de Naim, mas não o nome do filho e de sua mãe (Lc 7, 11-17). Do paralítico cujo leito os amigos desceram do terraço para o meio da sala e quem Jesus perdoou os pecados e curou, não sabemos o nome, só que não conseguia entrar pois havia tanta gente bloqueando a porta (Mc 2, 1-12). Da multiplicação dos pães, só se registrou que havia um menino com cinco pães e dois peixes e que os entregou a Jesus para serem abençoados, mas o nome do menino não sabemos (Mc. 6, 38). Claro que se guardou a memória daquelas duas irmãs, Marta e Maria que recebiam Jesus em sua casa e cujo irmão, Lázaro, o mestre ressuscitou. Ficaram também registrados os nomes dos doze que ele escolheu dentre a multidão dos discípulos (Mc 3, 13-19). E agora que Jesus ia partir ele vem de encontro à nossa perda de memória, com uma solene promessa: “O Defensor, o Espírito que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14, 26). E insiste com os discípulos e conosco nos dias de hoje: “Não se perturbe, nem se intimide o vosso coração”, pois “eu vos deixo a minha paz, eu vos dou a minha paz” (14, 27). Promete ainda: “Vou, mas voltarei a vós” (14, 28b). E para esse tempo de espera nos assegura: Não vos deixarei órfãos (14, 18). Pede ao Pai que envie ao Espírito consolador (14, 15-17), cuja festa celebraremos logo mais em Pentecostes.
Trindade: A esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
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