Na Liturgia deste Domingo, V da Quaresma, vemos, na 1a Leitura (Js 43, 16-21), que nossa missão não é atirar pedras onde há queda, culpa e miséria, mas sim oferecer caminhos alternativos para uma vida nova, de salvação; enfim, devemos interceder pelos que sofrem, mesmo que o sofrimento seja por consequência dos pecados. “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca”.
O Salmo 125 (126) comunica um futuro novo aos ‘exilados’, um futuro de alegria e esperança aos que precisam recomeçar uma vida nova: “Maravilhas fez conosco o Senhor – exultemos de alegria!” Eis a nossa missão!
Na 2ª Leitura (Fl 3, 8-14), o Apóstolo Paulo nos diz que o passado, por mais cruel que tenha sido, será superado pela nova realidade da graça de Deus. Portanto, devemos caminhar com entusiasmo rumo à meta final, definitivo encontro com Deus. “Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está diante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus” (Fil 3, 13-14).
O Evangelho desta liturgia (Jo 8, 1-11), e todos os ensinamentos de Jesus, nos interrogam, principalmente neste tempo quaresmal, sobre o que a conversão exige de nós? “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso… não julgueis para não serdes julgados… não condeneis e não sereis condenados… se não perdoardes aos homens, o vosso Pai, também, não perdoará os vossos delitos” (Mt 6 e 7). A vivência da misericórdia é própria de uma conversão autêntica.
Farisaísmo é a doença de quem não se olha no espelho. Ao invés de questionarem a própria conduta, ficavam olhando, reparando o cisco no olho alheio. Os fariseus apresentam a Jesus uma mulher pecadora e certamente pobre, sem prestígio social. Mas eles mesmos eram coniventes com a pecadora Herodíades, rica e da corte que adulterava com Herodes (Herodíades era mulher do irmão de Herodes). Diferente destes grupos religiosos, João Batista não é conivente e é admirado por Jesus. Os fariseus também eram coniventes com a sociedade machista, não denunciam o homem em pecado, legitimavam uma teologia e uma ética parcial.
Sobre a mulher pecadora recai a responsabilidade pessoal, mas também de quem a explora e que, muitas vezes, para se livrar da culpa, procuram um bode expiatório. Escondem o espelho para não ver mais o rosto, e assim pensam estar limpos.
“Ultimamente as pedras estão voando de todos os lados contra mulheres, contra pessoas, contra grupos diversos. Os moralistas de plantão – os empedernidos (petrificados) e arrogantes de hoje – continuam com as pedras nas mãos, prontos para massacrar os outros diante de qualquer deslize. Muitos atiram pedras na tentativa de encobrir as próprias falhas e interesses. Há muitos que carregam pedras nas mãos por serem claramente contra a ascensão dos pobres e não conseguirem conviver com eles. Enquanto continuarmos condenando esta ou aquela pessoa, este ou aquele grupo, e não olharmos dentro de nós com sinceridade, a violência, o sofrimento e a intolerância não vão ter fim” (Pe. Nilo Luza, ssp).
Os fariseus armam ciladas: aprova-se o homicídio ou desobedece-se a lei de Moisés? Qual a saída? Saída a partir de uma profunda experiência com Deus.
– “Não quero a morte do pecador, mas sim que se converta e viva”;
– “Não vim para condenar, mas para salvar o mundo”.
A saída de Jesus desaprova e desaponta os orgulhosos de coração, pois estes não vivem a misericórdia e a compaixão. Misericórdia e compaixão são ações divinas com o sofrimento e as humilhações humanas, próprias de quem tem uma profunda experiência de Deus.
Um gesto de amor marca para sempre uma pessoa desamparada. O amor cura, a pessoa muda de vida, se transforma. O amor vale mais do que todos os critérios da moral ou da lei. Diante da nossa fragilidade, Deus não vem a nós com cobranças, mas com amor, mesmo que não mereçamos. Eis a nossa alegria!
Antes de ‘apedrejar’ apresentemos a Jesus a situação concreta. Vejamos o que Ele nos pede. Que atitude exige de nós? Será que Ele nos dirá que podemos ser juízes ou que muitas vezes somos os réus?
O mal é uma denúncia contra nós: não fomos tão bons, sal, luz, fermento etc. A mulher pecadora é cada um de nós. Somos todos fracos e pecadores (Igreja santa e pecadora). Jesus é aquele que, das trevas, faz surgir o universo de luz, de fé, de compromisso: tanto à pecadora como aos fariseus. Como aquela mulher se sentiu ao ouvir as palavras misericordiosas de Jesus? Nós, cristãos, apontamos para as pessoas as coisas boas ou nos apegamos aos seus erros?
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças – Sarandi – PR