Quando os talibãs assumiram o poder no Afeganistão, a família de uma juíza afegã, que por razões de segurança não quer ser identificada, estava longe de imaginar que seria uma decisão anunciada a milhares de quilómetros a mudar-lhe a vida.
A 21 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro afirmava durante o discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas que o Brasil estava a aberto a receber refugiados afegãos, desde que “cristãos, mulheres, crianças e juízes”.
Apesar do critério de exclusão religioso, o anúncio da concessão de vistos humanitários feito pelo chefe de Estado brasileiro levou já juízes afegãos a percorrer a distância geográfica e cultural de se mudarem para o outro lado do mundo.
Discurso, na íntegra, do presidente do Brasil Jair Bolsonaro, aquando da abertura da 76.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, a 21 de setembro de 2021, em Nova Iorque.
A fuga das represálias
A todos os refugiados move a urgência de viver em segurança. O objetivo, conforme explica a juíza, é ainda assim difícil de alcançar. “[Os talibãs] libertaram da prisão criminosos que condenámos à prisão e dos quais já recebemos ameaças”, revela.
É a primeira vez que fala à imprensa internacional. É também a única, pois, como revela à agência de notícias The Associated Press (AP), todos os seus pares têm medo de represálias dos talibãs.
A juíza chegou com a família ao Brasil, no final de outubro, para viver no exílio, após ter sido levada de Cabul, onde vivia, para Mazar-i-Sharif, de autocarro, e daí, de avião para a Grécia. Ao seu lado, seis colegas, todas elas mulheres.
O sonho, confessa, é regressar ao país de origem e reencontrar toda a família, agora dispersa. Até lá, a vida prossegue no Brasil, a que aprendem a chamar casa.
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