LEGENDA: Cemitério Parque de Maringá está completando 35 anos do início de sua ocupação e hoje é uma idéia plenamente aceita pela comunidade
Por: Luiz de Carvalho
Um bosque com essências nativas da Mata Atlântica em plena área residencial, com um imenso gramado, diferentes espécies de árvores, cantos de variadas espécies de pássaros e muitas flores são alguns dos aspectos que fazem do Cemitério Parque Maringá um dos locais mais aprazíveis da cidade, a ponto de atrair pessoas para simplesmente passear ou usar um dos muitos bancos do local para apreciar, refletir ou mesmo ler um livro.
Surgido como um novo conceito de cemitério, o Cemitério Parque de Maringá está completando 35 anos do início de sua ocupação e hoje é uma idéia plenamente aceita pela comunidade. Mas, nem sempre foi assim: de início, a ideia de um cemitério sem os tradicionais mausoléus, imagens de santos, anjos e até bustos do sepultado não foi bem aceita pela população de Maringá, nem pelas autoridades.
O primeiro cemitério particular do noroeste paranaense foi apresentado como modelo para a implantação de cemitérios parques em outras regiões brasileiras. “No começo, muitas pessoas rejeitavam a ideia de cemitério parque porque não sabiam o que era e tudo que é novidade assusta”, explica o idealizador do Cemitério Parque de Maringá, Eduardo Celidonio. “Hoje todo mundo entende que este modelo é muito melhor do que o antigo, cheio de túmulos gigantescos, muito granito, mármore, imagens de santos e de anjos”.
Segundo Celidonio, o Cemitério Parque de Maringá é tão bonito e aprazível quanto algumas das melhores praças e mesmo bosques que foram transformados em áreas de lazer. Ele foi um dos primeiros criados no Brasil. Na época, somente os maiores centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, contavam com esta novidade que surgiu nos Estados Unidos no início do século passado.
Em meio a um conjunto paisagístico harmonioso, os jazigos são subterrâneos, cobertos por gramado, com cada um identificado por uma lápide apenas. Não é permitida a construção acima da superfície, para preservar a harmonia da paisagem. Assim não há divisão de classes, pois todos os túmulos são iguais, não diferenciando o do rico com o do pobre.
A novidade assusta
A iniciativa de se implantar um cemitério parque em Maringá surgiu como consequência da geada negra que, no inverno de 1975, decretou o fim da cafeicultura no Paraná. A fazenda que o corretor da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo Ruy Celidonio comprou da Companhia Melhoramentos em 1946 e cujo cafezal era seu grande orgulho e prazer, virou então um emaranhado de galhos secos. Sem chance de recuperação, os milhares de pés de café foram arrancados e queimados, as centenas de trabalhadores que moravam na propriedade foram embora. A bem cuidada fazenda virou um grande vazio.
Eduardo com os últimos colonos da fazenda, na década de 1970, retirando os galhos secos do belo cafezal morto pela geada
Foi o filho Eduardo quem teve a idéia de aproveitar o terreno para implantar um novo modelo de cemitério que parecia ser um empreendimento de futuro. “Entendi que Maringá sempre foi uma cidade à frente das demais, servindo como modelo, além disso, a localização do terreno era bastante favorável”, conta hoje Eduardo Celidonio.
Mas, junto com a ideia vieram as primeiras barreiras. “Meu pai era um homem de seu tempo, bem informado e sempre com boas idéias, mas um cemitério que parecesse um jardim, em que os túmulos fossem cobertos por grama, era demais para a cabeça dele naquele momento”.
RUI CELIDONIO – O corretor Ruy Celidonio era um apaixonado pela cafeicultura e manteve em Maringá uma das mais bem cuidadas fazendas de café do Paraná
A relutância continuou, mas Ruy e seu filho foram pesquisar e viram que nos Estados Unidos os cemitérios parque já eram uma realidade há muito tempo e em São Paulo, berço da família Celidonio, havia sido criado um no Morumby, bairro mais nobre da cidade.
“Então, você que teve a idéia, vá para lá e cuide de tudo”, disse o bem-sucedido corretor da Bolsa de Valores ao filho Eduardo. Assim, em 1980 Eduardo Celidonio se tornava cidadão maringaense. Enquanto requeria licença ambiental junto ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), loteou parte do imóvel que fazia frente para a Avenida Mandacaru, mas uma nova barreira surgiu na hora de obter a autorização da prefeitura.
O prefeito era o João Paulino, que dizia achar o empreendimento interessante, mas temia que o povo poderia discordar. Como era época de eleições municipais, JP preferiu deixar a tarefa para seu sucessor, que seria eleito no final de 1982.
Somente em 1983 a autorização foi concedida pelo então prefeito Said Ferreira, dando início à implantação do cemitério parque, que começou a funcionar em 1985.
Ayrton Senna
Hoje o Cemitério Parque de Maringá é um modelo que inspirou várias cidades brasileiras e, com 7 mil jazigos ocupados, é bem aceito pela comunidade. Mas, para chegar a este ponto, a família Celidonio sofreu prejuízos por vários anos. As pessoas achavam o ambiente bonito, ‘mas não tinha cara de cemitério’ e preferiam enterrar seus parentes no tradicional Cemitério Municipal.
Aberto em 1985, o Cemitério Parque era considerado um investimento que não deu certo por quase 10 anos. O sepultamento do tri-campeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna, que parou o Brasil e durante um dia inteiro deixou milhões de pessoas acompanhando as imagens da televisão, foi decisivo para que o público entendesse o conceito de cemitério parque.
As TVs e as fotos das revistas e jornais exploraram a beleza do cemitério parque do Morumby. A ausência de túmulos na superfície, o bem cuidado gramado, flores e árvores levavam a uma boa sensação, diferente da que provocavam os cemitérios tradicionais.
Eduardo Celidônio diz que a decisão dele e do pai tomada logo após a geada negra de 1975 foi acertada. Apesar das dificuldades iniciais, a iniciativa deu a Maringá um cemitério moderno, bonito, um modelo para o futuro.
Ele que mudou-se para Maringá para dar início ao projeto, diz que também a vinda para esta cidade foi bem acertada. Há 40 anos ele acompanha tudo de perto, desde a retirada dos pés de café queimados pela geada, o loteamento de parte da fazenda, o surgimento de bairros em torno da área, o início do cemitério. Até hoje coordena e acompanha diariamente tudo o que é feito no local, mesmo com os movimentos limitados desde que sofreu um AVC e precisou de cadeira de rodas e muletas para se locomover. Ao lado do gerente Rafael Marzenta, Celidônio diz que ali está uma continuidade adaptada aos novos tempos do trabalho iniciado há quase 75 anos por seu pai.