A Covid-19 volta a assustar a Europa, com registros de casos diários em altas e números elevados de óbitos. A primeira onda do Coronavírus na Itália aconteceu entre dezembro de 2019 e março de 2020 e teve como epicentro a região da Lombardia, as principais cidades afetadas Brescia, Bergamo, Milão e Cremona.
Os jornais da região da lombardia publicaram nesta última semana, boletins inquietantes sobre novos casos da Covid-19. Neste domingo, 7 de março o Jornal de Brescia traz como destaque a seguinte notícia:
“Brescia è la prima provincia lombarda per contagi” –Brescia é primeira cidade da região lombarda por números de casos .
O boletim de domingo traz as seguintes informações:
Região Lombardia – 4.397 casos de covid-19 , foram efetuados 42.591 testes
Brescia – 1.228 casos positivos , os dados foram divulgados pela Defesa Civil do Ministério da Saúde italiana.
Outro destaque do Jornal Brescia deste domingo 07 de março, foi para o fotógrafo Bresciano Matteo Biatta, que nos últimos 12 meses se dedicou a fotografar a pandemia na cidade de Brescia e outras cidades da região.
A redação de O FATO MARINGÁ conversou com o fotorepórter italiano Matteo Biatta que nos contou como foi fotografar a pandemia, os doentes, as cidades vazias, hospitais cheios, a cara do medo durante os últimos 12 meses
veja a entrevista em língua original
Por que você escolheu esse desafio, fotografar a pandemia ?
Matteo Biatta – Eu escolhi de fotografar a pandemia, porque quando a cidade onde moro, Cologne, foi fechada totalmente em fevereiro de 2020, percebi que estava acontecendo algo de muito grave e ao mesmo tempo muito importante no mundo, então a partir dali, eu pensei, preciso documentar o que está acontecendo nesse momento. E como Brescia cidade principal da região que moro foi o epicentro desta doença na Itália, comecei perceber uma transformação total, devagar as atividades foram parando, a cidade ficou vazia e os hospitais começaram a lotar. Foi então em 08 março de 2020, que o governo italiano anunciou o lockoodown total que durou até maio, exatamente um ano atrás eu escolhi de contar essa história através das minhas lentes.
Qual é hoje a realidade da Pandemia em Brescia?
Matteo Biatta – Em Brescia, hoje a situação do vírus é muito grave.
Brescia é a terceira cidade italiana com maior número de pessoas contaminadas. Não podemos dizer que é a mesma situação de 12 meses atrás, mas o governador da região decidiu fechar tudo a partir de segunda, 08. Todas as atividades da Lombardia ficaram assim nos próximos 15 dias.
Durante esse período de trabalho focado em registrar a pandemia, você consegue identificar a cara deste vírus?
Matteo Biatta – Bem o que eu percebi neste um ano, acho um pouco quase todo mundo, que o que está acontecendo aqui no meu município, em cidades maiores, em toda Europa, Estados Unidos e outros países ocidentais, esse FATO é único, precisamos documentar. Depois da pandemia da Gripe espanhola não tivemos outras pandemias, tudo estamos descobrindo juntos. Eu percebi uma verdadeira transformação na cara das pessoas e na própria vida delas. A pandemia não é só os hospitais e a doença, influencia bastante nos aspectos para as pessoas a falta de contato com outros, trouxe marcas profundas em toda a sociedade italiana. Hoje faz exatamente um ano que não podemos abraçar, pegar na mão de um colega, tudo isso é muito pesado.
O que você me conta de pitoresco deste teu trabalho, qual foi a maior satisfação?
Matteo Biatta – Bem, primeiramente eu comecei este trabalho, antes mesmo que fosse solicitada minhas fotografias pelos jornais da cidade e de toda a Europa. Eu fiz essas fotos pelo dever de minha profissão, acredito ter uma missão. Seja qual for sua profissão como repórter, fotografo, vídeo repórter, nesse momento você precisa contar a história, daqui há 20 anos alguém terá curiosidade de saber como passamos esse momento.
É óbvio que contarei essa história através do meio ponto de vista. E foi com esse espírito que fotografei a pandemia aqui na cidade de Brescia.
A satisfação fui percebendo quando comecei a receber convites de Jornais de Londres como o THE GARDIAN e outros editores europeus que escolhiam meu trabalho para retratar os FATOS da pandemia nas cidade de Brescia, Milão, Venezia e Bergamo. Naquele momento a doença estava concentrada nessas cidades, e de repente todo mundo focou os olhos em Brescia.
Em algum momento você teve medo?
Matteo Biatta – Medo sempre…
Quando a gente faz esse tipo de trabalho, nessas ocasiões de riscos, sempre existe o medo. Na verdade, o medo é um bom companheiro de viagem, podemos dizer assim, se existe medo, tem também uma boa carga de tensão, aí você acaba mais focado e o risco de erros é bem menor. É claro que este medo não pode se tornar seu inimigo, a ponto de deixar paralisado, se for assim, você terá que se dedicar a um outro foco ou até mesmo mudar de profissão.
Em relação a um ano atrás, como está Brescia hoje, mais doentes e menos casos graves, a medicina avançou?
Matteo Biatta – Ótima pergunta, mas penso que não sou a pessoa certa para de dar essa resposta. O ideal seria um infectologista, mas ao meu modo de ver a realidade hoje, diria há exatos 12 meses ainda temos muitos casos da doenças registrados na nossa cidade, isso ainda não mudou. E até mesmo pelas restrições adotadas pelos nossos governantes, se percebe que a situação por aqui ainda é caótica.
Por isso, eu particularmente, não consigo visualizar um fim tão rápido dessa pandemia.
E certo que com a chegada da vacina, e todos os dias surgem novas patentes de vacinas, vem se mostrando o caminho mas eficaz para prosseguir, eu também penso que este o caminho que a humanidade precisa seguir, mas vejo ainda uma longa estrada. Não consigo imaginar quanto isso ainda vai devastar com a população e quanto ainda sofreremos pelas perdas, é dura a situação.
Quais são os projetos para essas fotografias?
Matteo Biatta – Atualmente eu estou participando de uma mostra coletiva de fotos sobre a Pandemia, com outros colegas. A mostra já rodou em algumas cidades italiana, como Cremona, Bergamo e Venezia. Este mês, a mostra permanece em Milão e encerra o ciclo na cidade de Brescia.
Essa mostra é organizada pela Associação Coop Onlus, que durante a fase crítica da pandemia na Itália se ocupou de recuperar os aparelhos de oxigênio, para o tratamento de Covid-19 nos hospitais.
Eu participei desta coletiva, pois tem grandes colegas da fotografia, pela qual conservo grandes admirações como é o caso do fotógrafo Andrea Fracetta.
Para futuros projetos pessoais eu pretendo aguardar a vacina para poder realizar com segurança outros trabalhos de mostras Coletivas e individuais. Vou continuar fotografando e quando todo esse pesadelo acabar, decidirei o que fazer com tudo isso.
O trabalho do Matteo Biatta pode ser visualizado no Facebbok ou pelo email: info@matteobiatta.it
Outros trabalhos de Matteo Biatta como fotográfo em Port Loko – Sierra Leone – Africa
Nosso último encontro com o Matteo Biatta em Novembro de 2014 Brescia – durante sua mostra individual “uma luz para os últimos”,sobre os Hospitais de Afagnan e Traquiéta,Togo e Benim .