Meninos também precisam receber vacina do HPV

Homens infectados podem ter câncer de orofaringe, que chega a 15 mil novos casos por ano, além de serem importantes transmissores

foto: Instituto Butantan

Duas vezes mais comuns em homens, os casos de câncer de orofaringe relacionados ao vírus HPV têm aumentado nas últimas décadas. Só na cidade de São Paulo, a incidência da doença dobrou entre 1997 e 2013, de acordo com estudo da Universidade de São Paulo. Anualmente, são registrados 15 mil novos casos no Brasil. Os dados são próximos dos 17 mil novos casos de câncer de colo de útero por ano e reforçam que o HPV não é um problema só das mulheres: os homens também podem desenvolver outros tipos de câncer, além de serem importantes transmissores do vírus. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação de meninos e meninas antes do início da atividade sexual, entre os 9 e 14 anos.

Disponível gratuitamente para essa faixa etária, a vacina do HPV é a única capaz de prevenir diferentes tipos de câncer, mas o Brasil ainda enfrenta níveis muito baixos de cobertura vacinal, principalmente no público masculino: apenas 36% dos meninos e 55% das meninas completaram o esquema de duas doses, enquanto o índice ideal seria acima de 90%.
Segundo o pesquisador Wagner Quintilio, do Laboratório de Biotecnologia Viral do Butantan, imunizar crianças de ambos os sexos é uma forma segura e eficaz de reduzir a incidência dessas doenças. “Quando você vacina seu filho, você evita que ele se contamine e futuramente tenha um câncer, e também impede que ele transmita o vírus para uma menina que não foi vacinada, ajudando a controlar o câncer de colo de útero”, explica.

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Frente a uma infecção natural, homens têm somente 8% de chance de produzir anticorpos contra o vírus, como mostrou um estudo publicado na revista Papilomavirus Research. Com isso, são mais suscetíveis a sofrer reinfecções recorrentes, que podem progredir para um câncer.

Já em pessoas vacinadas, a taxa de soroconversão é maior que 90%, e a produção de anticorpos é mantida por mais de 10 anos. Uma revisão de estudos com 60 milhões de indivíduos em 14 países mostrou, após a vacinação, uma redução de 83% nos casos de HPV 16 e 18, considerados de alto risco para desenvolvimento do câncer.

Eliminação do câncer de colo de útero

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação contra o HPV tem o potencial de eliminar o câncer de colo de útero do mundo. Para concretizar essa meta todos os países devem ter, até 2030, 90% das meninas até 15 anos totalmente vacinadas contra o HPV; 70% das mulheres rastreadas com um teste de alta performance aos 35 anos e, novamente, aos 45 anos; e 90% das mulheres diagnosticadas em tratamento. A imunização dos meninos também é fundamental nesse contexto e contribui para reduzir os índices de transmissão do vírus.

Um estudo epidemiológico realizado em 2020 pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento e pelo Escritório de Projetos Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS) sobre a prevalência de infecção pelo HPV no Brasil mostrou que o vírus está presente em cerca de 50% da população, sendo que 35,2% dos participantes da pesquisa apresentou pelo menos um HPV de alto risco.

Recentemente, o Ministério da Saúde brasileiro lançou a Estratégia Nacional de Eliminação do Câncer do Colo de Útero. O objetivo é aumentar a cobertura vacinal contra o HPV e aprimorar o rastreamento e tratamento de lesões pré-cancerosas no Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto terá início na capital de Pernambuco, em Recife, e depois será expandido para todo o país. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pela doença.

INSTITUTO BUTANTAN