Marcelo Queiroga toma posse ao lado do antecessor, o general Eduardo Pazuello
O Brasil apresentou um novo ministro da Saúde, o quarto titular da pasta desde o início da pandemia, no mesmo dia em que bateu o recorde diário de mortes com Covid-19.
Os últimos dados oficiais apresentados pelo Governo federal, esta terça-feira ao final da tarde, revelaram a morte de 2.841 óbitos registados em 24 horas (uma letalidade de 2,4% ou 134,2/ 100 mil habitantes).
O país registou ainda 83.926 novas infeções, no quadro da epidemia gerido pelo Ministério da Saúde.
A contagem alternativa efetuada pelo consórcio de órgãos de imprensa, baseado nos dados das secretarias estaduais de Saúde, avançou com o registo de 2.798 mortes com Covid-19 em 24 horas, estimando uma média móvel de 1.976 mortes, nos sete dias anteriores.
O jornal Folha de São Paulo comparou este novo recorde de mortes diárias no Brasil com o balanço de mortes dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gémeas, onde morreram cerca de 2.750 pessoas, de acordo com a Enciclopédia Britannica.
O trágico recorde no Brasil foi conhecido pouco depois da tomada de posse do novo ministro de Saúde, agora de novo um profissional médico.
O cardiologista Marcelo Queiroga recebeu a pasta do general Eduardo Pazuello, que ocupava o lugar de forma interina desde junho do ano passado, depois de a também cardiologista Ludhmila Hajjar ter recusado o cargo por não ter encontrado “convergência técnica2 com o Bolsonaro.
O novo ministro da Saúde prometeu seguir as políticas do antecessor, ao mesmo tempo que apelou à população para ajudar a travar o vírus respeitando as medidas recomendadas, sobretudo o uso de máscara sempre que se saia de casa.
Com hospitais por todo o país, e sobretudo em Manaus, saturados com “doentes covid”, Queiroga espera conseguir unir esforços com os governos estaduais, alguns revoltados com as autoridades federais devido à conduta seguida pelo Presidente perante a epidemia.
Quatro ministros em menos de um ano
Jair Bolsonaro iniciou o “carrocel” de ministros da Saúde em abril do ano passado, depois de entrar em conflito com o então titular, o ortopedista Luiz Henrique Mendietta, nomeadamente sobre o uso de cloroquina contra o SARS-CoV-2 e o uso de máscara, ainda hoje poucas vezes seguido pelo chefe de Estado.
Seguiu-se o oncologista Nelson Teich, mas a resistência do Presidente em respeitar os dados da ciência terá levado o ministro a bater com a porta cerca de um mês depois.
Após duas semanas de vazio e muitas críticas, Bolsonaro entregou a gestão da Saúde a um homem de confiança, o general Eduardo Pazuello, que nunca conseguiu encontrar uma fórmula de travar o galopar do SARS-CoV-2 no país, sobretudo depois do aparecimento da chamada variante brasileira, a P1 ou B1128, atualmente dominante em Manaus.
Agora, com a troca do militar por um novo médico na liderança do ministério da Saúde, os brasileiros dividem-se entre o elogio e a desconfiança.
O médico Lucas Martins defende como “avanço” a colocação de “um profissional da saúde num cargo de chefia da saúde” quando comparado a “ter um general militar a gerir um cargo que precisa de conhecimentos específicos”. “O que no caso ele (Pazuello) mostrou não ter”, concretizou.
O empresário Leonardo Brito considera que a troca “não muda nada porque quem manda é o número um”, referindo ao Presidente Jair Bolsonaro. “Qualquer ministro que ele colocar vai fazer exatamente o que ele mandar”, avisa.
A mudança de ministro da Saúde fez as manchetes dos jornais, num dia em que uma nova sondagem da Datafolha sugeriu o agravamento do apoio a Bolsonaro.
A sondagem faz capa do jornal Folha de São Paulo esta quarta-feira, com o título “Rejeição da gestão Bolsonaro na pandemia tem pior marca”.
“Segundo o Datafolha, 54% dos brasileiros veem sua atuação como ruim ou péssima na semana em que foi apresentado o quarto ministro da Saúde de seu governo. Na pesquisa passada, realizada em 20 e 21 de janeiro, 48% reprovavam o trabalho de Bolsonaro”, lê-se no artigo do jornal.
A sondagem, realizada através de 2.023 contactos telefónicos nos dias 15 e 16 de março, indica ainda 43% de opiniões consideram o Presidente o principal culpado pela fase mais grave da epidemia no Brasil e admitem o colapso do sistema nacional de saúde.