A cerimônia de entrega do Prêmio Dorselina Folador 2019, comenda criada em 2003 através da lei municipal 6203, sob proposta da então vereadora Silvana Borges para homenagear a prefeita de Mundo Novo, MS, assassinada em 1999 a mando de Jusmar Martins da Silva, ex-apoiador político da prefeita, foi provavelmente a mais emocionante desde sua criação.
O auditório Hélio Moreira recebeu um público formado em parte por mulheres que lutam contra a dependência química e que recebem ajuda da Casa de Nazaré, associação beneficente sem fins lucrativos que oferece acolhimento e investe no trabalho de recuperação de mulheres acima de 16 anos, inclusive gestantes.
A presença delas no auditório se justifica sobretudo porque são testemunhas vivas de um trabalho que está funcionando. A comissão que avaliou as candidaturas ao prêmio em 2019, decidiu reconhecer todo o empenho da única associação maringaense que se ocupa de mulheres que precisam de proteção social.
A presidenta Valdereza Gonçalves Soares usou grande parte de seu tempo na tribuna para ler uma carta escrita por uma ex-interna que chegou à instituição totalmente dependente da cocaína. O relato emocionou a todos no auditório e por mais de uma vez, Valdereza teve que interromper seu discurso, pois sua voz ficava abafada pelo choro que teimava em segurar. A história da ex-interna termina com um final feliz. Hoje, diz Valdereza, “ela vive em Paranavaí, e se sustenta com a profissão que aprendeu dentro da Casa de Nazaré”.
A agregar mais emoção e valor ao prêmio entregue na noite de segunda-feira, 25, está o significado da própria data. De FATO, a ocasião serviu também para festejar o “Dia Internacional Pelo Fim da Violência Contra a Mulher“, e ainda o lançamento por parte da Secretaria Municipal da Mulher da campanha de 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher.
Para a Secretária Claudia Palomares, o reconhecimento para a Casa de Nazaré chega em um momento muito importante pois existe uma sinergia com o poder público que realiza atividades como o projeto de formação profissionalizante “Florirá” e o “Cuidar de quem cuida”. “Amanhã mesmo, faremos um dia de beleza, isso ajuda muito na auto-estima das internas e o resultado a gente vê aqui hoje, com as mulheres que junto com a presidente Valdereza, recebem essa homenagem”.
Falando com exclusividade a O FATO MARINGÁ, o prefeito Ulisses Maia, elogiou o trabalho que a Secretaria da Mulher está fazendo e se comprometeu a disponibilizar recursos para projetos em prol das maringaenses.
“Não faltarão recursos para cursos de formação para nossas mulheres. Teremos 16 dias de ativismo para combatermos a violência contra a mulher, mas nosso objetivo é lutar todos os dias contra esse mal. Criamos a patrulha Maria da Penha quando assumimos a administração, em breve, no dia 10 de dezembro, entregaremos os botões do pânico e investiremos cada vez mais na formação profissional e humana delas”.
O juiz de direito Jaime Souza Pinto Sampaio anunciou que em breve será organizado um ciclo de palestras dedicado a homens, pois segundo ele, o problema da violência doméstica é algo que tem que ser combatido com informação, consciência e diálogo. Para o juiz, Maringá é uma cidade que em breve poderá reduzir drásticamente os casos de violência contra a mulher.
“Em Maringá nós temos um engajamento maior e uma rede de enfrentamento. Nós trabalhamos todos juntos em busca de alterar esse panorama. Envolvemos a Guarda Municipal, a Secretaria da Mulher e toda a sociedade organizada para encontrar soluções. A gente acredita que esse trabalho conjunto pode mudar o quadro atual, mas vai demorar, temos que trabalhar muito a consciência e o comportamento dos homens. Esse sentimento de posse que o homem tem sobre a mulher, tem que acabar. O homem não é dono da mulher porque a mulher não é uma posse, ela não é um apartamento ou carro para que o homem pense que é sua propriedade. O relacionamento entre homem e mulher se baseia naquilo que chamamos de CRA – Amor, respeito e confiança, quando isso não existe mais, acabou, é hora que cada um busque seu caminho pois ninguém é dono de ninguém e tudo tem que acontecer sem violência”.
O juiz concluiu seu discurso mandando um recado para os homens violentos: “Os poderes não estão parados. Estamos trabalhando para mudar tudo por bem. Agora, o que vai acontecer, vai depender da mudança de comportamento dos homens. A cadeia é uma resposta penal, mas nós queremos mesmo, é acabar com a violência”.
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