ONU afirma que “não há comida suficiente” em Gaza

Abrigos operam quatro vezes acima da capacidade e as pessoas fazem fila no frio e na chuva para conseguir suprimentos essenciais; combates perto de hospitais prejudicam acesso a tratamentos; anúncios de cortes de financiamento para maior agência de assistência no local podem agravar colapso da operação humanitária.

foto: Pnud/Abed Zagout Em Gaza, crianças esperam para receber comida enquanto os bombardeios no enclave continuam

Os combates na Faixa de Gaza têm sido “particularmente intensos” na cidade de Khan Younis, no sul, alertaram profissionais humanitários da ONU nesta segunda-feira.

A Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, informou que os seus abrigos estão agora quatro vezes acima da capacidade.

Sem comida nem tratamento médico

A entidade ressaltou que “simplesmente não há comida suficiente”, com pessoas fazendo fila na chuva e no frio para obter suprimentos de ajuda.

Em sua última atualização da situação, o Escritório de Coordenação de Ajuda da ONU, Ocha, relatou intensos combates em Khan Younis, perto de dois hospitais.

O primeiro é Nasser, onde segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, muitos pacientes feridos “não têm opções de tratamento em meio aos intensos combates” e o segundo é o Al Amal, onde a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino relatou bombardeios contínuos nas imediações.

De acordo com o Ocha, há também relatos de palestinos fugindo para o sul, para Rafah “que já está superlotada, apesar da falta de passagem segura”. 

Investigação e responsabilização

Em meio a alegações “extremamente graves” de que alguns funcionários teriam participação durante os ataques de 7 de outubro do Hamas a Israel, a Unrwa afirmou que faria “tudo o que fosse possível” para continuar a ajudar os habitantes de Gaza, na condição de maior entidade de assistência no enclave.

Uma apuração dos fatos foi iniciada pelo mais alto órgão de investigação da ONU, o Gabinete de Serviços de Supervisão Interna.

No domingo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que qualquer funcionário da ONU envolvido “em atos de terror será responsabilizado”.

Dos 12 indivíduos supostamente envolvidos, nove foram imediatamente identificados e os seus contratos rescindidos com a Unrwa. A morte de um funcionário foi confirmada e as identidades dos dois restantes estão sendo esclarecidas.

Em 17 de janeiro, uma revisão completa e independente da agência foi anunciada pelo comissário-geral da agência, Philippe Lazzarini.

Impactos do corte de financiamento

Guterres apelou aos países que suspenderam o financiamento à Unrwa para reconsiderarem as suas decisões, para pelo menos garantirem a continuidade das operações humanitárias que são vitais para a população em Gaza.

Segundo agências de notícias, os países que anunciaram o corte de financiamento são Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido, Alemanha, Itália, Holanda, Suíça, Finlândia, Estónia, Japão, Áustria e Romênia.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros, disse no domingo que cortar o financiamento para a Unrwa “só prejudicará o povo de Gaza”. 

Os palestinos sitiados no enclave enfrentam a ameaça iminente de fome, doenças e deslocamentos após quase quatro meses de bombardeios israelenses, provocados por ataques terroristas liderados pelo Hamas que deixaram cerca de 1,2 mil mortos e mais de 250 pessoas reféns.

Operação humanitária em colapso

Atualmente, mais de 2 milhões de pessoas em Gaza dependem da agência da ONU para a sua sobrevivência, mas a operação humanitária “está em colapso”, alertou Lazzarini.

O subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, disse que “o povo de Gaza tem suportado horrores e privações impensáveis ​​há meses” e que as necessidades nunca foram tão altas. Para ele, a capacidade da organização de prestar ajuda também nunca esteve sob tamanha ameaça.

A Unrwa conta com 13 mil funcionários que prestam serviços de apoio às comunidades palestinas em Gaza. Hoje, cerca de 3 mil deles continuam trabalhando em uma zona de guerra, encarregados de gerir abrigos para mais de 1 milhão de pessoas, fornecendo alimentos e cuidados de saúde a civis em extrema necessidade desde o início do conflito.

Até o momento, mais de 26.420 pessoas foram mortas em Gaza desde 7 de outubro, conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza. Cerca de 1.269 soldados israelenses também perderam a vida em confrontos, segundo os militares israelenses.

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