Está no centro deste evangelho, u’a mulher samaritana e seu diálogo com Jesus, ao lado do poço de Jacó em Sicar, para estranhamento dos discípulos que veem Jesus conversando em público com uma mulher e, ainda mais, mulher samaritana”: “Os judeus não se dão com os samaritanos”, avisa o evangelista João, para não dizer que chegavam a se odiar mutuamente. À samaritana, promete Jesus “água viva”. Esta apressa-se a pedir-lhe: “Dá-me dessa água, para eu não sinta mais sede, nem tenha que vir aqui buscar água”. Jesus pede que vá chamar seu marido. Ela responde que não tem marido. Jesus reconhece que nisto, ela fala a verdade: “De fato tiveste cinco e aquele que agora tens, não é teu marido”. Longe de todo falso moralismo, Jesus não a reprova ou condena e deixa a porta aberta para continuar o diálogo.
“Vejo que eres um profeta” exclama a mulher e de pronto interpela Jesus sobre velha controvérsia religiosa: “Nossos pais adoraram a Deus neste monte (Garizim) e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar”. Responde-lhe Jesus: “Mulher acredita em mim, vem a hora que nem neste monte e nem em Jerusalém adorareis o Pai”. Arremata ainda: “… mas vem a hora e já chegou em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”. Quando ela lhe confessa sua esperança messiânica “Eu sei que o Messias que é o Cristo está por vir”, Jesus se desnuda inteiramente perante essa mulher estrangeira, de religião samaritana condenada pelos judeus, considerada de má vida na sua aldeia: “Sou eu, aquele, que fala contigo” (Jo 4, 26) E ela sai correndo para anunciar, a surpreendente boa nova: “Não será ele o Messias?”. Não são da fé de Jesus, homens se julgam superiores, que discriminam, condenam, agridem e assassinam mulheres por serem mulheres. Não são da religião de Jesus, os que invocam sua fé religiosa, para discriminar, insultar e disseminar discursos de ódio contra pessoas por serem estrangeiras, de outra raça ou cor, por seguirem esta ou aquela religião, por assumirem determinada orientação sexual, contrariando o Deus de Jesus Cristo, Pai que acolhe a todas as pessoas como filhas e filhos e faz nascer, a cada manhã, o sol sobre bons e maus. Não são da religião de Jesus, os que xingam e agridem outros irmãos e irmãs, tratando-os de “hereges”, por pertencerem a outra Igreja cristã, diferente da nossa. Que o diálogo de Jesus com a samaritana aqueça nossos corações e abra nossas mentes para compreendermos que nesse encontro de diferentes e até mesmo de inimigos cultural e religiosamente revela-se o Messias e seu Deus que é Pai de todos nós, que formamos uma única e mesma humanidade saída de suas mãos e do seu coração.